segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Capítulo 24 - No Luto

03-kings_of_leon-pyro

Powered by mp3skull.com







Agora não há nada além do tempo desperdiçado
E palavras que não têm sustentação
E agora parece que o mundo inteiro está esperando
Você pode ouvir os ecos desaparecendo?
No luto, vou subir
No luto, vou deixar você morrer
No luto
Toda a minha desculpa


(In the mourning – Paramore)

Depois do banho eu voltei para o meu quarto e me deitei, havia muitos pensamentos em minha cabeça que precisavam ser postos no lugar.
Primeiro, eu vou me tornar uma vampira e eu posso morrer. No começo, quando eu ouvi isso do lado de fora do escritório de Henrique, a ideia de morrer foi assustadora, havia tantas coisas na minha vida que eu ainda não havia feito, coisas que não haviam sido ditas e vividas, mas depois do que passei naquele deposito, o meu corpo não se arrepia mais com essa ideia, eu não tenho mais medo da morte, porque depois de chegar tão perto dela, só posso dizer que ela é incrivelmente calma e confortante.
Segundo, Flávio me beijou, eu me lembro claramente agora, e embora não seja uma cena das mais lindas contando que eu estava com o sangue dele em minha boca, seu beijo foi...Foi delicado, calmo, levando uma onda de paz por todo o meu corpo, foi ótimo, mas eu não sei o que isso significa. Flávio pode ter se tornado um cara legal durante esse nosso tempo de convívio, mas ele ainda é o Flávio, o mesmo que me ensinou na minha primeira noite aqui, que se deve temer os vampiros tanto quanto aceitá-los, e eu sei que ele tem um lado obscuro assim como tem um bom. E Pedro.
Terceiro, Pedro, impressionante como em todos os meus pensamentos e dilemas desde que o conheci, ele sempre está incluído. Eu simplesmente não consigo esquecê-lo, ou não mencioná-lo nos meus pensamentos, é espontâneo, todo o meu corpo anseia por ele, mas minha razão ainda me diz que ele ainda ama a Katherine. Eu sei que ele me ama também, eu sinto isso agora, mas não sei se é o bastante, eu não sei se eu quero me apoiar nisso para estar com ele, porque eu o amo com todas as minhas forças, e o amor dele pode não ser tão grande. E claro, com Pedro vem à complicação chamada Emily, minha querida e incrível prima, que eu gostaria de enforcar na maioria das vezes em que nos vimos. E somando tudo isso vem o fato de que no final, tem grandes e consideráveis chances de eu sair dilacerada. E eu...Não sei se aguentaria perdê-lo mais de uma vez.
Uma batida na porta interrompeu meus pensamentos.
- Entre
 Era Isabela, linda e jovem como sempre.
- Bom dia minha filha, eu vim ver se estar melhor e se quer almoçar. – ela sorriu se aproximando da cama.
- Estou bem melhor, e sim acho que almoçar seria uma boa ideia – eu sorri
- Tem certeza de que está bem? Quer dizer você passou por muita coisa Catarina, você é apenas uma menina. – ela abaixou a cabeça e uma onda de dor passou por seus olhos.
- Isabela eu estou bem, eu confesso que não são as minhas melhores lembranças – eu soltei um riso nervoso – Mas eu já estou de volta, com a Clara me sufocando com o seu abraço e gritando comigo, você toda preocupada, eu já me sinto em casa, e essas lembranças já estão enterradas e esquecidas.
Ela sorriu, um sorriso tão grande que criou covinhas, e em seus olhos o alívio.
- Que bom minha filha, então quer que eu traga o almoço, e chame a Clara?
- Ela ainda não almoçou?
- Não, ela quis esperar você acordar.
- Ah, então tudo bem pode chamá-la.
- Ok
Isabela saiu em segundos do meu quarto, me deixando sozinha com meus pensamentos novamente.
Eu sincera mente não sabia o que eu ia fazer, mas antes de tomar decisões eu preciso me alimentar, uma pessoa nunca consegue pensar com fome.
Clara entrou com nossos pratos e os sucos em uma bandeja, a gente comeu mais rápido do que eu imaginei que fosse possível.
Depois de deitar sobre a cama, e ouvir a Clara falar sobre como sua montaria está quase excelente, e como ela viu o vampiro mais lindo do mundo, mas obviamente não foi falar com ele, em relação aos vampiros sempre fica aquela onda de tensão e perigo, e isso só me diz que ela não vai desistir tão cedo, nunca vi uma pessoa tão atraída pelo perigo como a Clara. Desde os quatros anos dela, tudo o que ela faz é ir atrás do que pode matá-la, como pular do escorrega mais alto aquela vez no parquinho só porque ela ouviu um menino dizer que o primo dele quebrou um braço quando caiu, foi impressionante, ela riu e disse que ia cair em pé como uma pantera. Ela assistia filmes de espiãs demais. Ela só conseguiu deixar a mãe dela e a minha desesperadas quando ela caiu de cara e levantou com a boca cheia de areia. Eu ri com esse pensamento.
Nós decidimos dar uma volta, andar pelos corredores, sentar no gramado, ver o sol, o pessoal aqui não curte muito ficar bronzeado. Ok. Isso foi uma piadinha de mau gosto da Clara.
Chegamos a um jardim na parte lateral da mansão, ele tinha flores lindas suas cores era uma mistura perfeita de amarelo, rosa e violeta. E onde estávamos conforme anoitecia, a visão para o carvalho era perfeita.
- Eu adoro aquele carvalho, ele é tão livre e solitário, mas lindo. – eu disse meio que para mim mesma.
- Ah claro, eu ainda prefiro aquela visão que eu te disse no quarto, é muito mais interessante na minha opinião – ela me deu um sorriso malicioso.
- Clara, eu não vou bancar a amiga chata e dizer “vai com calma”, mas nesse caso eu tenho que dizer com ênfase “por favor, vai com calma, ele é um vampiro, e você não é muito experiente nesse tipo de relação pelo visto”.
- Sério? É claro que eu sei disso Cat, relaxa! Eu estou só admirando a distancia, como uma flor venenosa, você adora olhá-la, mas sabe que tocá-la tem consequências.
- É por ai, ainda bem que você entendeu o recado. – Eu ri – Você e sua mania de fazer coisas que podem partir sua cabeça no meio, e depois eu que sou louca. – eu bufei
Ela riu e se jogou no meu colo.
- Eu posso ser um pouco louca, mas o que é a vida sem a loucura? E que loucura, nossa Cat, você tinha que ver aqueles braços. – ela mordeu os lábios e encarou a sua frente, como se estivesse repassando toda a cena novamente.
Eu ri
- Tenho certeza de que são “de matar” se é que me entende.
Ela caiu na gargalhada – Nossa, você é péssima em trocadilho, tinha que parar de tentar fazer isso Cat.
Nós estávamos rindo uma sobre a outra quando Isabela se aproximou, e me contou a pior coisa que eu poderia ouvir em toda a minha vida.
- Catarina, posso falar com você um minuto? – Ela parou em pé na nossa frente.
- Claro Isabela, o que houve?
Ela abaixou o olhar.
- Clara, eu vou precisar de você.
Clara olhou para mim e depois a encarou
- Sim pode dizer, aconteceu alguma coisa?
Isabela se sentou ao meu lado e pegou minha mão, todo aquele suspense e atitude dela, estavam mandando arrepios por toda a minha espinha.
- Catarina, eu não trago uma notícia boa, na verdade...Você vai ter que ser forte. Muito forte.
- Isabela, o que aconteceu? Você está me assustando.
- Catarina, sua mãe...Ela morreu. Eu sinto muitíssimo, nós fizemos de tudo para protegê-la e achamos que tirando você de lá, ela estaria em segurança novamente, mas...Não saiu como esperado, as pessoas acham que foi um acidente de carro, mas na verdade...Meu deus, foi obra de Carlos.
Ela ficou em silêncio por alguns minutos, e eu não disse nada. Eu não simplesmente não sabia mais como falar, eu não conseguia nem respirar, quer dizer minha mãe morta? Minha mãe? Que fazia bolo de cenoura com cobertura de chocolate e deixava eu me lambuzar inteira e sempre me dava um pedaço escondido de todo mundo antes do bolo ficar pronto. Minha mãe que segurou minha mão o tempo inteiro quando eu quebrei o meu braço e achei que aquela fosse a pior dor da minha vida. A minha mãe que cantava para eu dormir quando eu tinha pesadelos. A minha mãe que eu amava e que dormiu no hospital quando eu sofri o acidente, sem sair do meu lado um minuto. A minha mãe que nunca me abandonou. Meu deus, isso não podia estar acontecendo ela não pode ter morrido, é a minha mãe!!
A minha mãe linda, e instável, e maluca, e que adorava gritar e tacar pipocas em mim e na Clara, quando ela queria ouvir a tv e nós ficávamos tagarelando.
A mesma mãe que eu abandonei achando que estava protegendo ela, todo esse tempo eu tenho me segurado, me impedindo de voltar e correr para os braços dela, tenho me agarrado ao fato de saber que se eu voltasse ela estaria em perigo, e agora de que serviu tudo isso? Se na hora que ela mais precisou eu não estava lá? E minha irmã? Meu deus! Minha irmã!
- Isa...Minha irmã? Minha irmã? Onde ela está? – Meus olhos arregalados e úmidos, pelo meu corpo todo o desespero enviando um nó pela minha garganta me impedindo de pronunciar qualquer coisa.
- Ela está bem Catarina, ela não estava com a sua mãe, Graças aos céus, ela estava com a mãe da Clara, e agora ela está cuidando dela.
Ainda bem, por um momento uma onda de alívio como nenhuma outra ultrapassou pelo meu corpo, minha irmã estava viva, minha irmãzinha, está bem.
Mas a ideia de nunca mais ver a minha mãe, estava me sufocando, eu precisava gritar, mas não tinha voz, eu precisava sair correndo, eu precisava da minha mãe comigo, gritando falando para eu abaixar a música, ou falando sobre o quanto eu estava atrasada e como ela seria chamada no colégio se eu continuasse assim.
Eu me levantei e caminhei cambaleante, minha visão turva e embasada, eu não conseguia ver muito bem nada que estava a minha frente, eu caminhei. Só caminhei, sem direção, só andei tropeçando nos meus próprios pés.
Minha mãe tinha morrido, e com ela se foi toda a humanidade e esperança que ainda restava em mim. Eu estava sozinha.



domingo, 23 de outubro de 2011

Capítulo 23 - Cicatrizes

Plumb - Cut

Powered by mp3skull.com









E estas cicatrizes não seriam escondidas assim
Se você me olhar apenas nos olhos
Eu sinto solidão e frio aqui
Embora eu não queira morrer
Mas o único anestésico que me faz sentir bem, mata por dentro
(Cut – Plumb)

Eu adormeci mais rápido do que pensei que fosse possível, quando acordei o sol que me banhava pela janela já estava forte, o que significa que já devia ser a hora do almoço.
Me sentei devagar, porque assim que comecei a me levantar minha cabeça aparentava ter uma tonelada presa a ela, e doía como se eu tivesse batido com ela diversas vezes o que na verdade faz algum sentido levando em conta a tortura que eu passei. Assim que esse pensamento me vem a cabeça o afasto, eu não posso lembrar daqueles momentos, e nem quero.
Quando consigo retomar a consciência por completo Clara irrompe pelo quarto como um turbilhão e se joga em cima de mim, nos primeiros minutos eu não consigo entender nada do que ela diz, primeiro porque eu mal consigo respirar com ela me apertando e segundo porque ela fala tudo tão rápido que eu só consigo entender as palavras: maluca e preocupada.

- Calma Clara, eu estou bem agora... – ela me interrompe com mais um turbilhão de palavras – Meu deus Clara eu não consigo respirar!
Nesse momento ela sai de cima de mim, e senta ao meu lado.
- Você tem noção de como eu fiquei preocupada com você? Você é maluca ou o que para sair da ordem assim? É ordem o nome disso aqui não é? Enfim... O que aconteceu Cat?
Ela me encara, os olhos duas bolas que parecem querer saltar das orbitas, e a sua volta um roxo mais forte do que de costume o que indica que ela não dormiu.
- Eu... – A verdade era que eu não sabia como dizer isso para Clara porque eu ainda não tinha dito nem para mim mesma, tudo aconteceu muito rápido e ao mesmo tempo, e enquanto eu estava sendo torturada eu meio que estava sem tempo para pensar em minha transformação quando eu estava gritando de dor. – Eu não sei Clara, eu ainda não tive muito tempo para pensar sobre isso.
Ela me encarou
- Sobre o que Cat? O que aconteceu?
- Eu... lembra quando eu sai daqui dizendo que ia procurar a Hevi? – ela assentiu – Então, eu cheguei ao escritório de Henrique e ouvi uma conversa entre ele e uma espécie de médico eu não sei ao certo, falando sobre minha transformação... – eu fiquei em silencio, os olhos dela lentamente se arregalando quando ela começa a entender o que isso significa.
- Como assim? Você vai...? – ela não termina a frase.
- Pelo o que eu entendi isso está no meu gene, e eu vou entrar em transição a qualquer momento.
Ela vira o rosto e começa a encarar o nada. Pela primeira vez eu vejo a Clara sem fala, o que acredite em mim não é comum se tratando dela e essa atitude me deixa mais nervosa do que eu estava.
- Clara, pelo amor de deus fala alguma coisa!
- Ah! – ela se vira para mim – Hum... Mas Cat... Eu não sei como dizer isso da forma fácil, então lá vai... Você já não imaginava isso? Quer dizer, você está morando em uma ordem de vampiros, com a sua mãe e seu pai vampiros, e está apaixonada por um vampiro, Meu deus! Qual parte você perdeu? Porque até onde eu entendi você não vai ter uma vida normal Cat, não mais... Então, se você quiser ficar perto dessas pessoas, esse é o único caminho!
Eu encarei o nada e comecei a brincar com a linha do lençol. Como eu poderia explicar para ela que o problema não é a transformação em si, quer dizer é claro que na hora foi um susto, apesar de tudo eu não tinha pensado nisso, mas a Clara tem razão se eu quero conviver com essas pessoas esse é o único caminho, mas o problema é que eu posso não sair viva, isso tirando a parte que vai ser altamente doloroso.
Eu fiquei em silêncio, até que a Clara o quebrou com o mesmo costume de sempre de ler minhas expressões e saber quando algo está realmente errado.
- Cat, agora me fala, qual é o real problema nessa história? Do que você tem medo?
- Eu ouvi a conversa deles Clara, e a questão é que ... – eu não consegui dizer, as palavras simplesmente estavam presas na minha garganta. – Eu... Eu posso... A questão é que eu posso não sair viva Clara! Pronto! Esse é o problema eu posso morrer, e segundo eu ouvi vai ser extremamente doloroso!
Nesse momento a Clara me puxou para perto dela, e me abraçou. Nós ficamos assim por um bom tempo, respirando fundo e abraçadas.
Quando eu me afastei, ela olhou no fundo dos meus olhos.
- Cat, agora me escuta – ela fez uma pausa conferindo se eu estava prestando atenção – Vai ficar tudo bem, eu vou estar do seu lado, e nós vamos dar um jeito entendeu?
Eu assenti.
- Clara? - Ela me encarou
-Sim?
- Eu vou tomar um banho, será que eu posso ficar um pouco sozinha? É que aconteceu tanta coisa, eu preciso colocar os pensamentos no lugar – eu forcei um sorriso.
- Claro, mais tarde eu venho te chamar para nós irmos andar a cavalo que tal? – ela sorri e levanta da cama do seu jeito animado.
- Claro.

Assim que Clara sai do quarto eu me levanto e vou em direção ao banheiro, quando paro na frente do espelho, eu quase dou um pulo de susto. Minhas roupas estão sujas de sangue, apesar de quase todas as feridas já terem curado.
Parada ali, toda suja de sangue uma onda de nojo, medo, e outros tantos sentimentos me vêm ao mesmo tempo, imediatamente eu ligo o chuveiro e entro embaixo dele.
Chorando e soluçando, eu começo a colocar para fora todas as lágrimas que não me vieram antes, toda a dor que eu senti, toda a solidão, todos os sentimentos de uma vez, a saudade de casa, o medo do que vai acontecer, a tortura, a dor pelo Pedro, tudo ao mesmo tempo. Sem que eu perceba eu pego uma esponja e começo a esfregá-la pelo os meus braços e pernas. A água vermelha suja de sangue tomando conta do box, e me fazendo sentir mais nojo ainda de mim mesma. Eu estava imunda, suja, e essa sujeira, esse sangue parecia simplesmente não querer sair, como se estivesse impregnado na minha pele para me lembrar de tudo o que eu passei.
Eu consigo ouvir passos no quarto, mas não dou ouvidos, agora que eu deixei toda a dor vir a tona, todas as lágrimas e sentimentos diversos eu não posso mais controlar, só me resta esfregar e chorar.
Eu continuo esfregando e o sangue parece não sair, uma onde de raiva toma conta de mim, e eu escuto um grito, eu estou tão tomada pela raiva, pela dor que quase não percebo que o grito saiu dos meus lábios até que eu olho para baixo e percebo que eu estou me arranhando, meus braços agora com cortes finos feitos pelas minhas unhas, e escorrendo sangue.
Quando vejo aquele sangue todas as lembranças me voltam a mente, os dois capangas de Carlos me cortando e me queimando, e antes que eu perceba meus braços estão caídos e eu estou abaixada com a cabeça entre as pernas, eu não escuto nada só a água caindo e os soluços do meu choro.
Eu fico assim por um tempo, até que eu escuto alguém gritando o meu nome.
E sem que eu precise olhar eu já sei quem é, eu reconheceria essa voz em qualquer lugar, qualquer tempo. Pedro.
Ele irrompe pelo box, me levantado e me sacudindo.
- Catarina? Meu deus está tudo bem? – Ele me olha nos olhos, mas eu não posso olhar para ele, não nesse estado, não quando eu estou deixando todas as minhas emoções virem a tona, se eu o olhar agora eu não vou aguentar.
- Não. –É o máximo que eu consigo dizer, minha voz sai baixa, nada além de um sussurro, quando eu sei que não, nada está bem, e não sei dizer quando vai ficar, ou se um dia irá ficar bem de novo.
Quando ele me olha de cima a baixo e vê os arranhões, ele me puxa para perto dele, me aninhando a ele, e sem poder mais resistir eu me agarro a ele e deito minha cabeça em seu peito, tão perfeito, como se fosse feito exatamente para me abrigar. E volto a chorar, o choro agora mais intenso do que antes.
Pedro não falou nada, só me apertou com força e alisou meus cabelos, separando mecha por mecha, beijando minha testa.
Por fim, quando as lágrimas pararam de cair, e tudo o que restava era minha respiração alterada, ele cortou o silêncio.
- Vai ficar tudo bem Catarina – foi tudo o que ele disse, mas de alguma maneira ouvir isso dele, foi melhor do que qualquer coisa, de alguma maneira quando ele disse isso, ele quase me fez acreditar, pelos poucos segundos em que eu ouvi sua voz o alívio tomou conta de mim, mas não posso mentir para mim mesma, não posso me agarrar em um amor que não me pertence, um amor que já foi meu, mas isso foi a muito tempo, em outra vida. E agora eu estou sozinha. Pelo menos por dentro.
Esse pensamento me fez me encolher mais em seu colo, e apertá-lo com mais força, por mais que eu saiba que não posso tê-lo, eu insisto em não conseguir deixá-lo ir, eu simplesmente perco o ar só de imaginar não vê-lo, não ver seu sorriso, ou ouvir suas piadas sarcásticas, ou até mesmo suas evasivas, e suas mudanças de humor repentinas.
Mas, como tudo na vida existe sempre o “porém”, aquele porém que te faz se encolher e chorar a noite, que faz o um nó se forma em sua garganta, e te faz querer gritar e implorar para alguma força maior te escutar e fazer isso passar.
O mesmo porém que sempre volta para me lembra que o máximo que eu posso ter é isso, esses momentos aninhada em seu colo, esses poucos minutos junto dele, e que depois tudo vai voltar a ser como é, nós dois amando sem poder amar.
Eu me afastei de Pedro e me levantei.
- Hum... Eu acho que vou tomar um banho de verdade agora – Eu falei ainda sem olhá-lo, eu não posso olhar para ele, não quanto tudo dentro de mim ainda está tão instável. – Obrigado Pedro.
No momento em que eu falei o seu nome, um nó se formou em minha garganta, e uma dor se instalou no meu peito como se eu tivesse levado um soco.
- De nada, eu acho que devo ir agora, você tem certeza que vai ficar bem? – Ele ameaçou pegar minha mão, mas eu me afastei, eu não posso me permitir provar mais dele, porque como tudo em relação a ele uma vez que eu provo eu me sinto tão entorpecida, tão embriagada com o seu toque e o calor que emana do seu corpo que eu não consigo deixá-lo ir.
Eu somente assenti, ainda sem olha-lo.
- Tudo bem então, tchau Catarina. – Com um sopro de vento, ele se foi, levando com ele toda e qualquer paz que ainda havia dentro de mim, levando embora o alívio que poucos minutos em sua presença me proporcionou, e me deixando apenas com a dor e um nó na garganta que insistia em me deixar sem ar, mas de alguma forma eu consegui sorrir porque pelo menos a dor era uma prova de que ele esteve aqui.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Capítulo 22 - Ferida Aberta

05-Alpha Rev-Phoenix Burn

Powered by mp3skull.com





Até todas as minhas mangas estão manchadas de vermelho
De todas as verdades que eu disse
Venha, honestamente eu juro
...
Cansado de toda esta insinceridade
Então abrirei mão de todos os meus segredos
Dessa vez
Não preciso de outra mentira perfeita
(Onerepublic - Secrets) 


Isabela ficou parada, imersa em meio aquela afirmação. Então tudo isso era por causa deles? Por causa do que tinha acontecido a mais de 100 anos? Depois de todo esse tempo, todas essas guerras e mortes... Tudo isso se resumia a... Eles três.
Isabela o encarou espantada, ela deveria ter previsto isso, deveria ter evitado, isso não pode continuar.


- Carlos, então tudo se resumi a isso? No final... - ela fez uma pausa- É tudo por causa disso? - Ela o encarou
Carlos ficou atônico, encarando Isabela, a raiva florescendo em seu rosto
- É claro que nao Isabela, não se sinta tão importante! - ele disse, sua voz um veneno escorrendo raiva e frustração.
Isabela olhou para Catarina, percebendo seu estado horrível, ela não teria muito tempo, tinha que ser tirada dalí.


 - Flávio tire Catarina daqui e a leve até a ordem, não pare até chegar lá entendeu? - Isabela falou em um tom autoritário.
- Claro - Flávio respondeu já de pé com Catarina em seu colo como se fosse apenas um alfinete
Carlos deu um passo para frente, agora seu rosto era tomado por uma calma que enviou um arrepio a espinha de Isabela, ele havia mudado tanto, onde estaria aquela luz dos seus olhos? Ou o seu sorriso que fazia com que Isabela colocasse tudo em risco... Ela não poderia mais pensar nisso, nao agora com esse Carlos na sua frente, esse Carlos que ela não conhecia. 
- Ela não vai sair daqui - Disse Carlos com um sorriso no rosto.
- Então vamos ver, quem vai impedir você? - Disse Pedro se aproximando e soltando um rugido.
Carlos sorriu
- Você é corajoso Pedro, muito corajoso - ele fez uma pausa pensativo - Mas é apenas você - ele completou.
Isabela tinha que fazer alguma coisa, sua filha não podia mais ficar ali.
- Flávio eu te dei ordens para levar Catarina daqui, Pedro e Hevi acompanhem ele! - Isabela se virou e encarou Carlos - E quanto a você Carlos não me substime, eu não sou Henrique, é com a minha filha que você está mexendo - Isabela abaixou a cabeça e desviou o olhar, a dor tomando o seu rosto. Essa mudança em sua expressão pareceu fazer Carlos ofegar e encará-la, seu rosto se suavisando - Ela é minha filha Carlos... Como você pode fazer isso - ela fez uma pausa, sua voz agora roca e baixa, a dor escorreria de cada palavra - comigo? - essa ultima palavra não foi mais do que um sussurro.
Carlos ficou em silêncio e desviou o olhar.
- Como eu pude fazer isso com você? - ele disse, sua voz tomada de incredulidade.
Ele soltou um riso nervoso 
- Sim Carlos, eu  nunca toquei na sua filha e nem fiz mal a ninguém que você amasse e você seguiu a sua vida assim como eu, você não acha isso egoísta? Machucar aqueles que eu amo, só porque... - ela não terminou a frase, ela se virou e encarou Flávio - Pode ir Flávio, e cuide dela - sua voz agora suave.
Flávio assentiu.
- Só porque? termine Isabela, fale de uma vez! Por que? - Ele a encarou e se aproximou. - Ela.Não.Vai! - ele falou cada palavra devagar e separadamente, para ter certeza de que todos o entendesse.
- Chega Carlos isso foi longe demais, vidas se perderam, vocês estam em guerra a anos e tudo isso porque eu não fiquei com você! - Isabela falou gritando, sua voz agora cheia de esteria. - Eu estou cansada! 
Carlos a encarou, sua face agora dura, sem expressão.
- Não estou em guerra com Henrique por isso Isabela não seja tão tola! 
- Ha não?  Então porque você torturou a minha filha e não a mim?  Você acha mesmo que eu acredito nisso Carlos? Nem você mesmo acredita nisso. Você acredita que está em guerra pelo poder, e você tem razão, mas você só quer esse poder porque foi por causa dele que nós fomos separados, você quer poder provar que é melhor que Henrique. 
Todos a olharam de olhos arregalados.
- Isso nao pode continuar Carlos, você não vê o que está fazendo? O que você fez? Você conseguiu destruir todo e qualquer amor que eu poderia ainda ter por você, você torturou a minha filha Carlos, ela não tem nada a ver com isso, é só uma menina, ela é humana! Não basta você ter matado Katherine, você tem que me tirar Catarina também? Porque me fazer sofrer assim Carlos? Hoje eu vejo... Você nunca me amou Carlos, quem ama uma pessoa a quer feliz, quem ama nunca poderia ter feito o que você fez! - Isabela se virou encarando Pedro, eles trocaram olhares e Pedro assentiu indo em direção a Flávio.
- Eu nunca te amei? - a voz dele era estérica - Como você pode dizer isso?  Eu lutei por você até o último minuto, eu abri mão de tudo, eu me virei contra a minha família... Eu... - sua voz falhou. - Eu fiz tudo o que eu pude para ficar com você... E você diz que eu nunca te amei? - ele abaixou a cabeça  e depois se virou a encarando de novo, sua face agora sem expressão - Você! Você nunca me amou, você me deixou esperando por você Isabela, me deixou esperando e se foi com ele, então não me venha falar de amor, você nada entende sobre isso! - ele disse com desdém.
Isabela a olhou, seu rosto uma linha dura.
- Entendo sim Carlos - ela fez um pausa ainda o encarando - Eu te amei por muitos anos, vivi com Henrique o odiando por sua causa, mas... Depois você mudou Carlos tudo o que você queria era poder e mais poder, sua sede de sangue o destruiu, e então veio Katherine e Henrique ao contrário de você sempre tentou manter a paz, sempre tentou conversar, tentou te perdoar, fazer as pazes com você mesmo sabendo que você me amava e que eu poderia ainda te amar, nesse momento eu vi um lado de Henrique que eu nunca tinha visto, e então eu me apaixonei Carlos, e a cada morte que você causava, cada batalha, só me fazia sentir que eu fiz o certo ficando com o Henrique, e hoje eu o amo mais do que tudo no mundo, e você Carlos... a única coisa que conseguiu com isso tudo foi o meu ódio, e o seu tão querido poder. - ela disse com desdém. 
Ele a encarou atônico, a sua face uma superfície plana de dor e confusão.
- Carlos... - ela disse depois de um minuto, trazendo ele de volta de seu transe.
- Sim. - sua voz estava roca
- Eu vou levar minha filha, e se você quiser me impedir você vai ter que me matar, então tome sua decisão agora. - sua voz era decidida, mas o medo e a dor ainda podiam ser notados.
- Vá - ele disse depois de um minuto - Mais isso não acaba aqui, eu vou ter o que é meu por direito, e quanto a você... Aproveite o seu amado enquanto ele ainda está de pé! - sua voz agora era dura e sem emoção.
Nesse momento, Catarina começou a tremer no colo de Flávio, seu corpo todo entrou em convulsão, e um gritou saiu por sua garganta deixando todos de olhos arregalados e atônicos, e um milésimo Pedro estava ao seu lado, e a puxou do colo de Flávio.
- Temos que levá-la daqui, tem alguma coisa errada - Foi tudo o que ele disse, e bateu em disparada, sua figura não passou de um vulto, Pedro desapareceu em um piscar de olhos com Catarina em seu colo. 
- Vamos - Isabela disse por fim, Flávio e Hevi desaparecendo em sua frente, ela se virou antes de ir - Carlos?
Ele a encarou
- Eu... - ela fez uma pausa - Eu realmente te amei. - e então saiu, deixando Carlos olhando para o chão do depósito sem vida e sujo de sangue.
~~*#*~~ 
Pedro entrou na mansão como uma bala, e só parou no quarto de Catarina a colocando na cama e gritando por ajuda.
Henrique entrou no quarto um segundo depois, incredulo.
- O que aconteceu? - Ele se aproximou e quando viu Catarina arfou - Meu deus - seu rosto se transformou em uma mascara de ódio, se não fosse por Catarina, Pedro teria se afastado no mesmo minuto - O que aquele desgraçado fez! Aquele Mestizo! - a furia em sua voz fez com que Pedro se encolhesse e se aproximasse de Catarina.
- Henrique chame alguém Catarina não está bem, e eu acho que é outra coisa que nada tem a ver com suas feridas - Henrique o encarou e parou de falar no mesmo instante, os dois sabiam do que ele estava falando, ela estava em transição, então tinha começado.
- Começou Pedro? - Henrique perguntou, o medo instalado em sua voz.
- Eu temo que sim Henrique, mas... ela é humana eu não sei como vai ser isso. - O medo tomou conta da voz de Pedro.
- Fique com ela, vou ordenar que Eletiza venha aqui. - Henrique saiu do quarto deixando uma rajada de ventro frio para trás, que enviou arrepios a espinha de Pedro.
Ela tinha que sobreviver, ele não poderia perdê-la. Não de novo.
Minutos depois Eletiza, uma senhora que aparentava ter mais ou menos uns 40 anos entrou no quarto, vestida com uma manta negra até os pés, sua pele era morena e seus olhos um castanho claro hipnotizante, seus cabelos eram negros como a noite, seu corpo emanava poder, e segundos depois de estar no mesmo quarto que ela Pedro soube que se tratava de uma Bruxa, e uma muito poderosa, todo o seu aroma emanava poder, perigo. 
Eletiza se aproximou de Catarina, e quando se sentou na cama e pôs as mãos sobre o rosto de Catarina, ela arfou.
No mesmo momento Pedro se aproximou.
- Calma Pedro, ela está ajudando Catarina, não precisa se preocupar. - Henrique disse vendo a reação de Pedro.
Nesse momento, percebendo sua reação Eletiza levantou os olhos, e encarou Pedro.
- Não precisa ter medo meu jovem, eu não vou machucá-la - ela disse encarando ele por mais um minuto e depois se virando para Catarina de novo.
Sua voz era rouca, e sábia.
Segundos depois Pedro percebeu que ela estava sussurrando alguma coisa, passando as mãos pelas feridas de Catarina, que no mesmo momento foram sarando. Minutos depois o corpo de Catarina estava novinha em folha, sem nenhuma cicatriz ou hematoma aparente e sua face agora era rosada e o suor escorria pelo seu rosto.
Eletiza se virou encarando Henrique.
- Ela está em transição, e eu não sei dizer se... Se ela vai conseguir - ela o encarou - Ela é forte Henrique, mais forte do que imaginamos, se ela conseguir sobreviver, o poder dela vai ser grandioso, ela será capaz de coisas que não podemos imaginar. 
- Mas... Há chances de ela conseguir não é? - Henrique disse o medo e a esperança lutando em suas palavras.
- Claro, eu não quero te dar esperanças porque ela é humana Henrique e a transição dela não será como a de vocês, não será como a de nenhum humano ou vampiro. Ela é diferente, você sabe disso, ela vai sofrer muito, e vai ser uma transição longa. - ela fez uma pausa - Mas ela é mais forte do que eu esperava, essa menina tem força de vontade, é corajosa, ela tem chances de conseguir.
Henrique a encarou, e depois abaixou a cabeça olhando para o chão.
- Tem alguma forma de você ajudá-la? De diminuir a dor ou... - sua voz falhou.
- Eu posso adiar a transição por mais um tempo, esperar o corpo dela ficar mais forte, ela é humana e só tem 16 anos, não sei se pode viver a essa transição agora. 
- Você tem razão, e você pode adiar por quanto tempo?
- Não sei como prever ao exato, depende do corpo dela, alguns meses... no máximo um ano, mas como essa menina está vivendo com as suas emoções lá em cima, e lá em baixo a todo tempo, eu duvido muito que dure um ano. 
- Então só temos mais alguns meses?  
- Exato, é o máximo que eu posso fazer Henrique.
- Eu entendo... Obrigada Eletiza - ele deu um sorriso torto
- É um prazer ajudar, mas Henrique? - ela disse se virando e se levantando.
- Sim?
- Se prepare, o futuro dela não vai ser fácil, ela vai ter que lutar muitas batalhas, vai ter muita dor, e terá que ser mais corajosa do que nunca! - Ela se levantou - E a guerra está se aproximando Henrique, e vai ser pior do que todas que você já enfrentou, lembre-se disso.
Henrique apenas assentiu, foi até Catarina e a beijou na testa colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha e seguiu Eletiza para fora do quarto.
Flávio entrou no quarto um minuto depois, fuzilando Pedro com os olhos, ele se aproximou e sentou na cama ao lado de Catarina.
Pedro soltou um rugido.
Flávio apenas sorriu e passou a mão pelo rosto dela.
- Saia daqui Flávio - Pedro disse se aproximando.
Flávio elevou os olhos dela, e o encarou
- E porque eu deveria fazer isso? - ele perguntou, sorrindo.
Pedro respirou fundo, a ansia de matá-lo ali era tão grande que ele fechou sua mão num punho e apertou forte.
Nesse momento Catarina se mexeu, e começou a abrir os olhos.
- Ai - sua voz era rouca, fraca. - Onde .. - sua voz falhou - Onde eu estou?
Flávio falou primeiro
- Está em casa Catarina, está tudo bem agora. - ele disse acariciando o seu rosto.
- Flávio? - Ela disse, sua voz agora mais forte, ela ameçou se levantar mais Flávio a conteve.
- Está tudo bem, eu estou aqui com você, tente descansar.
Pedro abaixou a cabeça, isso era demais para ele, não era justo, depois de tudo ele que deveria estar ali ao lado dela, o amor de Flávio nunca seria maior do que o dele, nunca.
- Onde está Carlos? - sua voz agora se elevou o panico tomando conta dela.  - Carlos, meu deus... Henrique? Onde está Henrique? - ela disse se levantando e gemendo de dor.
- Catarina se acalma, Henrique está bem, todos estão bem - ele a deitou de novo. - Carlos está longe, ele não vai chegar perto de você de novo.
Agora mais calma, Catarina falou.
- Não se deve mentir Flávio - ela o encarou - Nós dois sabemos que eu o verei de novo.
Flávio soltou um rugido.
- Não pense nisso Catarina, você não precisa ter medo.
- Eu não tenho.
Ele a encarou confuso.
- Não tem?  Depois de tudo o que aconteceu? 
Pedro já estava farto de tudo isso, ele se virou e antes de sair falou.
-  Boa noite Catarina.
E saiu pela porta como um vulto.
Até ouvir sua voz, ela não sabia que ele estava no quarto, sua visão ainda era muito turva, ela mal via Flávio que estava sentado na sua frente. Mas a voz dele, a voz dele a acordou de modo que remédio nenhum poderia, enviando os já conhecidos arrepios por sua espinha, ela arregalou os olhos na mesma hora arfando.
- Pedro? 
Flávio pareceu se contorcer incomodado.
- Ele já foi Catarina.
Seu rosto deve ter transparecido sua tristeza porque logo Flávio mudou de assunto.
- Mas você não me respondeu, depois de tudo... Você não está com medo?
Catarina se virou e fechou os olhos, sua voz agora era apenas um sussuro.
- Só se tem medo de morrer, quando se tem algo a perder.  

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Capítulo 21 - O beijo de sangue

By The Way - RHCP

Powered by mp3skull.com







Acho que vou deixar o melhor pro final
Meu futuro parece um enorme passado
Você riu de mim porque não me deixou escolha
Eu enfiei meus dedos em meus olhos
É a única coisa que lentamente para a dor

(Slipknot – Duality)



Ele me encarou por longos segundos analisando cada linha do meu rosto que agora estava coberto por sangue e hematomas.
Um dos celulares dos homens que estavam com ele tocou, ele se virou e os olhou áspero como se aquela não fosse à hora e ele não gostasse de distrações.
Ele se virou para mim mais uma vez, e passou a mão por toda a linha do meu rosto.

- Você é idêntica a sua mãe, mas ainda fede ao seu pai. – ele me olhou com repugnância.
Eu não respondi, não conseguia mais encontrar minha voz ou forças para movimentar minha boca, minha garganta estava seca e queimava, e todo o meu corpo estava adormecido por tanta dor, os lugares onde o homem tinha colocado o ferro ainda queimavam e causavam uma dor agonizante.
Eu já não tinha esperanças de viver, eu só queria que acabasse logo, mais uma tortura e eu não aquentaria.

Um homem se aproximou dele e sussurrou alguma coisa em seu ouvido que eu não pude entender, depois de falar o homem ficou parado esperando algum tipo de resposta.

- Deixe que venham – Carlos disse por ultimo.


~~*#*~~

Depois do pronunciamento de Henrique Flávio foi direto ao salão de armas no interior da mansão e se armou com todos os tipos de armamentos que poder imaginar, desde pistolas, a adagas e estrelas de aço.
Colocou seu coldre e colocou duas pistolas nele, pegou duas facas e as esconderam nas suas coxas, jogou sua jaqueta de couro por cima e saiu.
Ao passar pelos portões pode ouvir dentro da floresta uma conversa entre Pedro, Hevi, Isabela e uma outra voz que não conhecia, nem seu cheiro lhe era comum. Ele os ignorou e continuou andando, não importa se eles fossem atrás dela ou não, o tanto que a tirassem de lá logo.
O sol já estava se pondo quando ele saiu pelos portões da mansão, e seguiu o rastro do cheiro de Catarina que estava começando a se esvair, em pouco tempo já não conseguiriam rastreá-la.
Ele correu em velocidade sobre humana seguindo o rastro do seu cheiro, agora tão íntimo, tão comum ao seu olfato, como seu próprio ar.

Quando o rastro de cheiro se intensificou Flávio estava próximo a um depósito de peixes, perto de um canal, ele se aproximou e subiu em cima do telhado de um depósito para que pudesse observar tudo de cima, em algum lugar daquele depósito estava Catarina, mas ele tinha que tomar cuidado, qualquer movimento em falso e ela acabaria morta.

~~*#*~~

Pedro e Hevi foram para a sala de armamento dentro da mansão, se prepararam com todos os tipos de armas, Pedro pegou um coldre e colocou duas Glock dentro, guardou facas nas suas botas e coxa, e duas espadas trançadas na parte de trás do coldre, dentro do seu sobre tudo guardou estrelas de aço e adagas, Hevi seguiu o mesmo ritmo de armamento, suas espadas tinham o cabo trançado com tons de dourado e suas lâminas eram como um gancho.

Eles saíram e foram encontrar com a Isabela no local marcado próximo a mansão.
Eles saíram em disparada, tão rápidos que meros olhos humanos não poderiam Ca pitar mais do que dois vultos negros.

Quando Pedro saiu da mansão no mesmo segundo sentiu o cheiro de Catarina se esvaindo, mas não precisava do cheiro dela para rastreá-la, quando ela sofreu seu acidente de carro Pedro tinha ido até o hospital e a alimentado com o seu sangue para que se curasse rápido, e agora poderia senti-la até do outro lado do mundo.
Pedro parou quando se aproximou de Isabela, olhou-a nos olhos por um segundo e então se concentrou, fechou seus olhos e pensou nos olhos azuis de Catarina, seus cabelos negros caindo em cachos grandes sobre o seu ombro, a forma como sua franja lhe caia no olho e como ela sorria ao tirar, suas mãos delicadas e pálidas, sua pele de um branco e uma maciez que poderia ser comparada a lua, só precisou de um segundo para que ele a sentisse, todo seu corpo respondeu aquela presença, e ele se sentiu forte como nunca mesmo tendo se alimentado há bastante tempo, provavelmente era a vontade de encontrá-la de tê-la em seus braços e não deixá-la escapar mais.

Como se estivesse em piloto automático Pedro partiu em direção a Catarina, não se importando em olhar para trás para ver se Isabela e Hevi o seguiam, mas depois de um minuto elas apareceram correndo ao seu lado.

Eles pararam próximo a um depósito de peixes, perto do canal de balsas.
Pedro vasculhou o local sentindo a presença de Catarina depois de um segundo já sabia em que depósito ela estava, como um raio foi em sua direção.

~~*#*~~


Flávio viu dois homens saindo de um depósito e sabia pela forma como eles cobriam os olhos de que provavelmente eram vampiros da guarda de Carlos. Por mais que o céu estivesse nublado e já estivesse no por do sol, a luz ainda incomodava os olhos.

Flávio esperou que eles se afastassem e então entrou no depósito como um vulto.

O que Flávio viu fez com que ele ficasse sem ar, e faria seu coração parar se ainda batesse, um nó se estabeleceu na sua garganta e parecia que tinham enfiado uma adaga em seu coração.
Catarina estava com as mãos acorrentadas acima de sua cabeça e seu corpo estava totalmente coberto por sangue, hematomas, roxos e queimaduras, sua cabeça estava baixa e seus pés já não estavam fixos no chão.
Uma onde de ódio passou pelo corpo de Flávio despertando o seu lado mais perverso, o lado que ele pensou ter ido embora quando conheceu Catarina, mas que agora vendo o seu estado se intensificou te tal forma que quando os dois homens voltaram ele se lançou em cima de um deles puxando uma de suas facas e abrindo um corte lado a lado em seu pescoço tão fundo que começou a sair uma enxurrada de sangue da ferida. O homem que estava ao lado do que tinha sido atingido ficou em choque por alguns segundos, surpreso com esse ataque e nesses poucos segundos Flávio tirou vantagem e mandou três estrelas de aço em sua direção, ele se desviou de uma mais duas se cravaram na altura da sua garganta, fazendo com que ele caísse de joelhos tentando tirá-las. Enquanto o outro homem tentava se livrar das estrelas Flávio pegou o homem que estava com a ferida aberta pela faca, fez com que ficasse ajoelhado e sussurrou em seu ouvido:
- Você torturou a menina errada.
Depois disso ele colocou suas mãos em volta de seu pescoço e o quebrou, o vampiro ficou caído no chão, seu rosto se tornando cada vez mais roxo até partir para um tom de cinza pálido.
Como um vulto Flávio foi na direção do outro homem e lhe quebrou o pescoço da mesma forma, sem nenhum esforço, suas mãos sabiam exatamente aonde ir, e o que fazer, com uma leveza e uma graciosidade invejável ele lhe quebrou o pescoço e foi até a Catarina.

Quando suas mãos a tocaram ela soltou o fôlego como se respondesse ao seu toque, ele quebrou as correntes e quando seu corpo caiu ele a segurou junto a ele, se sentando no chão e pondo sua cabeça em cima de seu peito.
Flávio mordeu o seu pulso e o colocou na boca de Catarina, ela estava inconsciente, mas precisava beber seus batimentos já estavam tão fracos que ela não teria mais do que alguns minutos.
Ele levantou sua cabeça e empurrou mais seu pulso para que o sangue caísse dentro de sua boca e ela pudesse beber com mais facilidade.
Ela despertou se sufocando com o sangue, ele tirou o pulso por um instante e levantou mais sua cabeça. Depois que ela parou de tossir ele colocou o pulso outra vez em sua boca, dessa vez já acordada ela tentou lutar, empurrando seu braço, mas o máximo que conseguiu foi segurá-lo, estava tão fraca.

- Catarina... – ele esperou um segundo – Sou eu Catarina, Flávio... Meu deus! Vai ficar tudo bem eu estou aqui agora, só beba, por favor, você precisa beber, vai ficar tudo bem! – Ela pareceu se acalmar com o som da sua voz, e aos poucos começou a beber bem devagar, depois começou a sugar mais forte e mais forte, até que se afastou como se despertasse e tomasse conta do que estava fazendo.
Ela afastou sua cabeça e olhou para ele assustada, meu deus seu rosto estava coberto de sangue, mas agora ele já podia ver alguns hematomas clareando devagar e seu olhar estava fixo, ela estava mais consciente.

Flávio a apoiou em suas pernas e tirou o sobre tudo e depois a camisa. Ele a levantou um pouco e começou a limpar o sangue de seu rosto.
Depois de limpá-lo pode ver os hematomas, ela estava com o olho inchado, e um roxo na bochecha.
Desgraçados!
Carlos ia pagar por isso, com certeza!
Catarina o encarou por um momento e então o reconheceu e pulou em cima dele, seus braços em volta dele, e seu rosto afundado no seu pescoço.

- Flávio? – meu deus sua voz agora não era mais que um sussurro fraco e roço – Eu estou com medo Flávio, por favor, não me deixa, não me deixa, por favor, só...- sua voz falhou.

Flávio a apertou mais contra si.

- Catarina olhe pra mim – quando ela o fez, ele continuou – Eu nunca vou te deixar, entendeu isso?  NUNCA!
Ele a aproximou de seu corpo de novo afundo seu rosto nos seus cabelos, apesar do sangue ela ainda tinha o mesmo cheiro doce de flores.

Ela se afastou e o olhou nos olhos.

- Meu deus Catarina...- ele passou a mão pelo o seu rosto delicadamente – Me perdoe, me perdoe, eu tinha que ter te protegido eu não podia deixar que eles fizessem isso com você... Me perdoe. – sua voz saiu roca, e a dor era clara em seus olhos.

Catarina esticou as mãos e as passou por seu rosto.
Flávio se aproximou cada vez mais de seu rosto, até que seus narizes se tocaram e eles podiam sentir suas respirações, mais fortes, mais ofegantes, e então ele a beijou.

O beijo foi doce, tranqüilo, os lábios de Flávio eram carnudos, mas eram macios como plumas, e ele a beijava calmamente, explorando cada parte de sua boca, seu beijo era terno, mas não era quente como o de Pedro, onde o desejo e a paixão tomava conta de seu corpo e seu ar simplesmente lhe era tirado. Seu beijo foi interrompido quando ouviram um ronco.

Carlos estava atrás de uma sombra os observando, suas mãos atrás das costas e seu olhar fixo em Flávio.

- Que lindo, que romântico – ele disse com desdém.


~~*#*~~


Pedro estava atônico, ele entrou no depósito e viu dois corpos com as gargantas dilaceradas no chão, quando continuou encontrou Catarina toda ensangüentada, cheia de queimaduras e hematomas por todo o corpo pálida e fraca, seus batimentos eram meros sussurros se esvaindo e ela estava nos braços de Flávio, ele se aproximou e a beijou, um beijo quente e demorado e então eles foram interrompidos por Carlos.
Pedro ficou sem reação, tudo o que ele podia pensar por todo o caminho era em como queria tomar Catarina em seus braços e tirá-la dalí, mas agora ela estava nos braços de outro, e seus lábios pertenciam a outro.
Meu deus só em pensar nisso, as imagens passando em sua cabeça ele se sentiu enjoado, ele teve que se abaixar por um momento, era como se o ar fosse tirado de seu corpo, ele não era nada sem ela, apenas uma bolha de sangue flutuando pela terra e vê-la ali naquele estado e nos braços de outro foi como um golpe de adaga bem no coração dele.

Antes que pudesse se mexer Flávio se virou para ele, e ao mesmo tempo Carlos dirigiu seu olhar para ele se aproximando com um sorriso frio no rosto.

- Que trágico, dois amores, um coração – ele soltou uma risada endurecida – e a história se repete não é Isabela?

Pedro nem notou que Isabela estava em pé a atrás dele e ao lado de Hevi até que ouviu a sua exclamação.