quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Capítulo 26 - Recomeço

Evanescence - My Heart Is Broken

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Eu não posso continuar vivendo dessa maneira
E eu não posso voltar do jeito que eu vim
Acorrentado por este medo que nunca vou encontrar uma maneira
Para curar a minha alma
E eu vou vagar até os fim dos tempos
Semivivendo sem você 

(My heart is broken - Evanescence)





Depois que Pedro saiu, eu entrei em uma crise de choro, todas as lágrimas e soluços que estavam presos finalmente vieram a tona, fiquei assim por algumas horas até que sem que eu percebesse eu adormeci. Acordei com a Clara sentada ao meu lado me olhando, o sol já estava se pondo o que significa que eu tinha dormido o dia inteiro, mas pelo menos eu me sentia melhor, mais inteira, mais forte, diria até mais adormecida.
Me levantei devagar e me sentei.
- Oi - minha voz ainda estava rouca e eu dei um pigarro.
- Oi Cat, eu sei que é uma pergunta idiota, mas como você está? - Eu podia ver a dor nos olhos da Clara, ela me conhecia bem o suficiente para saber o caco que eu estava por dentro.
- Eu estou.. Eu não sei, não pensei muito nisso ainda.
- Eu passei para trazer o seu almoço, mas você ainda estava dormindo então eu o deixei ali na mesa, ainda está quentinho.
- Obrigada - eu sorri. Não me sai muito bem.
Eu me levantei e fui me sentar na mesa, eu não estava com fome, e meu estômago com certeza estava embrulhado, mas eu precisava colocar alguma proteína para dentro, não sabia até que ponto eu ainda estava sensível, por fora eu me sentia adormecida, simplesmente não sentia nada, mas por dentro eu estava tão frágil, tão quebrada, e de tantas formas diferentes que nesse momento uma única palavra poderia me destruir, e no caso de isso acontecer eu queria ter alguma coisa no estômago pra tentar me manter de pé.
Eu sabia que essa noite seria muito longa.
Depois de comer fui tomar um banho, durante todo o processo Clara não disse mais nada, só ficou quieta folheando um dos meu livros, o que me fez pensar será que meu rosto demonstrava o pânico que eu estava sentindo por dentro? ou ele refletia a frieza do meu corpo? pelo visto a primeira opção é a mais provável, Clara sempre falou o tempo inteiro, não importava o que acontecesse, e hoje ela se calou. Eu suspirei. Silêncio é bom, é calmo, sereno, sem pressa, e tudo o que eu preciso no momento.
Quando estava pentiando o cabelo Clara fechou o livro e se virou para mim, e eu soube que chegará o momento de falar do inevitável, a resposta para aquela pergunta que pairava em minha cabeça. E agora?
- Cat?
- Oi Clara
- Eu...hã...- Nunca vi Clara lutar com as palavras como ela estava fazendo agora, isso elevou um pouco o meu pânico, mas o corpo continuava adormecido, e eu agradeci em silencio por isso. - Cat, eu sei que é tudo muito cedo, mas nós precisamos conversar amiga.
- Pode falar - eu disse me virando.
- Cat, eu sinto muito, muito mesmo e se eu pudesse mudar isso eu mudaria, eu daria qualquer coisa para não ter que ver seus olhos assim agora. - Eu abaixei a cabeça - Mas Cat, nenhuma de nós duas pode mudar o que aconteceu, e mesmo com a dor, você precisa ser forte, e eu sei que você já está sendo forte, como sempre, eu no seu lugar não teria nem um terço do seu controle e você sabe disso, mas ainda sim eu quero que você saiba que eu estou aqui amiga, como sempre estive e sempre vou estar.
- Obrigada Clara - foi tudo o que eu consegui dizer, o nó na garganta voltou me sufocando outra vez. Engoli em seco.
- E eu sei que você está confusa, então eu só quero dizer amiga que vai ficar tudo bem, vamos resolver isso juntas, tomar uma decisão juntas.
- Obrigada Clara, mesmo, mas a decisão já está tomada, não precisa se preocupar, essa noite ainda eu pretendo voltar para o Brasil.
-Cat? Tem certeza?
- É claro que sim Clara, minha irmã não morreu, e eu agradeço com todas as minhas forças por isso, então agora eu não sairei do lado dela, já deixei minha mãe sozinha, não vou cometer o mesmo erro de novo. - eu me virei de volta, recomeçando a pentiar o cabelo.
- Cat, eu sei disso, mas eu também sei o quanto você ama essa família, tem certeza de que quer mesmo se separar deles?
- Clara entenda uma coisa, minha irmã tem a mim, ela tem uma família, eu eu também tenho, ela é minha família agora, e eu não vou deixá-la, ela terá uma infâncil feliz, e saudável, longe de toda essa confusão, ela não tem nada haver com isso, eu causei tudo isso, ela merece ser feliz, ter uma infância normal, e ela vai ter.
- Tudo bem Cat. E... você vai embora hoje?
- Sim.
- Você já conversou com Henrique..? Com a Isabella?
- Não, mas irei informá-los agora, não tem conversa Clara, eu já tomei minha decisão e eu vou embora hoje.
- Tudo bem então, vou ligar para minha mãe e avisar que estamos voltando. - Ela se levantou e caminhou até a porta, antes de sair ela voltou, me abraçou e sussurrou no meu ouvido - Só não deixe de ser a minha Cat, e tudo ficará bem.
Eu retribui o abraço, e beijei sua testa.
- Obrigada.
- Até daqui a pouco então. - e ela saiu do quarto.
Sozinha, eu olhei em volta, o meu novo quarto, com algumas das minhas velhas coisas, parecia representar perfeitamente a confusão que estava minha vida, a mistura que havia sido feita, a junção de uma Catarina humana, com uma Catarina que era a reencarnação de uma vampira e que iria se transformar em uma, e como se isso não bastasse ainda estava apaixonada por um.
Que confusão. E agora ainda por cima estava órfão.
Bem órfão ou não, ela ainda tinha a sua irmã, e a vida dela agora estava em sua responsabilidade, ela já perderá muitas pessoas que amava, e não estava disposta a correr esse risco de novo.

Quando chegou ao escritório de Henrique, ele e Isabella estavam sentados um ao lado do outro, como se soubessem qual seria o assunto da conversa, e não concordassem nem um pouco.
- Oi  - eu me sentei de frente para eles.
- Oi minha filha, como você está? - Isabella foi a primeira a falar.
- Razoavelmente bem, nós precisamos conversar.
- Pode falar minha filha - dessa vez Henrique falou, e me encarou.
- Eu estou voltando para o Brasil essa noite, eu vou cuidar da minha irmã e garanti que ela tenha uma infância feliz e normal, e depois...Eu não sei.
- Catarina, sua transformação está se aproximando você sabe disso. - Henrique vincou a testa.
- Eu sei. - suspirei - Mas não vou deixar minha irmã, me desculpem, ainda mais sabendo que eu posso morrer nessa transformação, eu não posso deixá-la sozinha.
Isabella se endireitou, e fincou a testa, como se a palavra "morte" tivesse mandando um calafrio por sua espinha.
- Catarina, e Carlos? Você não pode simplesmente voltar para o Brasil com essa guerra, não pode ficar desprotegida, voltando você só estaria pondo sua irmã em um perigo maior.
- Assim como se eu ficasse eu colocaria a minha mãe? Bom, parece que um pequeno detalhe como localização geografica não altera muito as coisas. - eu fisse friamente. - Isso não importa, eu só vim informá-los que eu estou partindo, quanto ao Carlos, bom Henrique tenho certeza que você é bom em fazer acordos, e se possível tente manter essa guerra fora da américa do sul, por favor.
Henrique encarou Isabella por um instante e depois assentiu.
- Tudo bem minha filha, se é assim que você deseja pode partir, eu cuidarei de Carlos e o manterei longe de você, e por precaução mandarei alguns guardas para cuidar da sua segurança e da sua irmã.
- Não. Eu não quero nenhum tipo de vampiro, bruxo, seja o que for perto dela, ela vai ter uma infância normal, e não terá nenhum tipo de contato com esse mundo.
- Tudo bem, mas não posso simplesmente lhe deixar lá sem nenhuma notícia, eu mandarei alguns guardas, e darei uma ordem para que fiquem longe de vocês e jamais façam contato, apenas observem e cuidem para que nenhum acidente ocorra.
- Obrigada. - Eu me levantei. - Hum...Foi bom conhecer vocês, éh... - Nesse momento Isabella se levantou e me abraçou, eu não pude resistir e retribui o abraço, eu sabia que era um adeus, eu provavelmente não iria sobreviver a transformação, e como ela era incerta, eu não estaria aqui quando acontecesse, só podia me despedir agora.
Isabella começou a chorar, e quando as lágrimas de sangue começaram a escorrer por seu rosto, ela me deu um beijo e deixou a sala, quando eu estava a ponto de segui-la, Henrique se levantou.
- Espere.
Eu me virei.
- Eu posso sentir suas emoções Catarina, não se esqueça disso, eu sei tudo o que acontece em seu coração, e só tenho um pedido a fazer, não deixe que essa raiva, e esse ódio tomem conta de você, você não é assim Catarina e sabe disso, toda essa frieza não irá tornar nada mais fácil, só irá afastar as coisas que iram lhe trazer alguma felicidade.
- Tudo bem, obrigada. - tentei dar um sorriso a ele, mas a dor que começava a irromper em meu peito não deixou que ele se alargasse a mais do que uma careta, eu me virei e sai.

Quando cheguei ao quarto, Clara já tinha arrumado minhas malas e as delas, o resto das minhas coisas já estavam sendo enviadas de volta para o Brasil, as passagens estavam em mãos, tudo estava pronto.
Hevi nos ajudou a levar as malas até o aeroporto, e quando saimos da ordem dei uma última olhada para o lar que eu havia descoberto e que agora eu abandonava. Uma coisa era certa, a felicidade havia se escondido, e não restara nada a não ser o vazio. E nesse vazio, sopros gelados seriam a única coisa a completá-lo por um bom tempo. 

Capítulo 25 - Adeus

Levi Kreis 01 - I Should Go

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Eu deveria ir 
Antes que minha vontade se enfraqueça
E meus olhos começam a protelar 
Por mais tempo do que deveriam
Eu deveria ir 
Antes que eu perca meu senso de razão
E essa hora tem mais significado do que jamais poderia 
Eu deveria ir 

(Levi Kreis - I should Go )


Eu caminhei tropega, em rumo a nada, eu não conseguia pensar, ou falar qualquer coisa, só uma frase percorria minha mente "minha mãe está morta", é como aquelas notícias que quando você recebe, você começa a rir porque sabe que é impossível, que nunca poderia acontecer, é exatamente isso, não a parte de rir, mas a parte do impossível era exatamente o que estava na minha cabeça agora, eu continuava repetindo para mim mesma, que isso não poderia estar acontecendo, não comigo, não a minha mãe.
Depois de caminhar por alguns minutos percebi que estava de pé em frente ao carvalho, a noite o deixando mais sombrio e trazendo de volta a notícia que estava açoitando a minha mente.
Me deixei cair de joelhos, não tinha mais forças para ficar de pé, não depois de tudo, todo o meu corpo só tinha força para mais um suspiro, as lágrimas percorrendo o meu rosto, e eu só conseguia encarar o carvalho, em um estado catatônico, eu não sabia o que fazer.
Uma brisa passou e pude sentir uma presença atrás de mim, eu não me virei, eu estava perdida em pensamentos, o meu corpo estava funcionando, eu podia ver e ouvir tudo ao meu redor mais não conseguia responder, não conseguia exprimir qualquer reação.
A pessoa que estava atrás de mim se aproximou e se ajoelhou ao meu lado, na luz da lua Pedro estava mais lindo do que nunca, mesma perdida entre medos e impossíbilidades eu não poderia deixar de notar.
Ele puxou o meu corpo para junto ao dele, e eu me aninhei a ele, debrucei minha cabeça em seu ombro e esconde meu rosto em seu pescoço, lágrimas descendo, suspiros fortes saindo, mas eu estava alheia, agora aninhada sobre ele, seu cheiro me trouxe um pouco mais a realidade, a consciência voltando aos poucos.
Quando eu tentei me levantar, seu abraço forte não deixou, ele me puxou mais para perto e me abraçou com mais força, seus dedos deslizando pelos meus cabelos.
- Sh.Sh. Ta tudo bem Catarina, eu estou aqui. - ele sussurrou em meu ouvido, seu hálido frio mandando arrepios pela minha nuca.
- Minha m..mãe?- aquele caroço enorme na minha garganta, ainda não tinha ido embora, minha voz nada mais do que um sussurro. - Ela morreu mesmo?
Pedro beijou minha testa.
- Eu sinto dizer que sim.
Uma lágrima desceu dos meus olhos.
- Então acabou. - foi tudo o que eu consegui dizer, depois sem que eu percebesse eu cai no sono, e despertei com Pedro me colocando em minha cama.
- Pedro? - Perguntei, meus olhos pesando toneladas, estavam se abrindo aos poucos.
- Durma Catarina, você precisa descançar; - ele disse tirando uma mecha de cabelo do meu rosto, e demorando os seus dedos sobre minha bochecha.
Ele se virou para sair.
- Não - eu agarrei seu braço - Hã, fique... Só mais um pouco, por favor. - minha voz fraca, a dor estampada em cada palavra.
- É claro. - Pedro se deitou ao meu lado e me abraçou.
A noite se passou longa e ininterúpeta, mesmo estando nos braços de Pedro, o caroço que se instalou em minha garganta permanecia, eu não sabia o que fazer, eram tantas coisas para se pensar ao mesmo tempo, tantas decisões e eu sentia o vazio da realidade me açoitando todo o tempo, cada vez me puxando mais para o fundo, conforme minha mente ia aceitando a verdade, eu nunca mais veria minha mãe novamente. E agora que ela tinha partido, minha irmã estava sozinha, indefesa no meio de todo esse lixo, e eu não posso abandoná-la agora, aos poucos eu descobri o que fazer, mas levei muito tempo para aceitar, minha mente reprimia essa idéia automáticamente, evitando a dor que ela traria, mas... Eu tenho que voltar, cuidar da minha irmã, eu não posso traze-lá para cá, no meio desse fogo cruzado, toda essa guerra, e esses vampiros, MEU DEUS! Ela é uma criança, ela merece ter uma infância saudável e normal, mas me afastar dessa família que eu descobri aqui, e... Pedro - Ao pensar nisso enguli em seco e pudi sentir o caroço que se instalava na minha garganta- Eu sabia que se eu fosse embora, eu o perderia, não que eu já o tivesse, mas ao menos eu o tinha por perto, como agora nos momentos em que tudo o que eu preciso é o seu abraço, e se eu for... Então o que me restará? Reprimi a dor que começou a me invadir com essa idéia. Eu suspirei.
- Tente dormir um pouco Catarina, você precisa descançar. - Pedro deslizou seus dedos pelo meu braço. Isso não estava ajudando muito, não quando a dor de partir começava a surgir, não quando eu sabia que logo perderia isso. Reprimi esses pensamentos.
- Eu não estou com sono - menti.
- Você é teimosa - pude sentir o sorriso em sua voz.
- Pedro?
- Sim?
- Você sabe que agora eu terei que ir embora. - o caroço se apertou mais ao dizer isso em voz alta, e minha voz falhou.
Ele não respondeu, e o silencio se arrastou até que pude ver que já clareava.
- E agora você tem que ir? - perguntei, reprimindo o desespero que se instalou em mim, meu coração se acelerou, porque eu sabia que seria a última vez que estaríamos juntos, e ele também sabia disso.
- Sim, você está bem? - ele se sentou.
Não respondi no início, eu pensei sobre essa pergunta, eu queria ao menos ser sincera, e tirei a conclusão de que, não... Eu não estava bem, e não sabia se algum dia eu ficaria novamente, mas no fim nada disso importava.
- Estou - menti.
- Então eu devo ir agora, e você trate de dormir, você precisa descançar - ele se levantou e ficou me encarando. Depois se virou e foi em direção a porta, antes de sair ele se virou - Você sabe que eu iria buscá-la de novo se pudesse, mas infelizmente esse não é o caso - eu podia ouvir a dor em sua voz, e isso só me despedaçou mais por dentro - Durma bem Catarina.
E com isso ele se foi, deixando para trás apenas as memórias que eu guardei no lugar mais seguro da minha mente, para que elas nunca se perdessem, memórias como o som do seu riso, ou como os olhos dele brilhavam magníficamente a luz da lua, ou seu hálito frio que me causava arrepios, ou o seu cheiro que sempre me embriagava e levava uma onde alívio por todo o meu corpo, o seu toque que apesar de frio, deixava uma linha quente pela minha pele, e o pior de todos a dor que se instalou no meu peito, a cada respirar me rasgando mais por dentro.