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Eu posso provar isso nas suas lágrimas
Segurando meu último suspiro
A salvo dentro de mim
Estão todos os meus pensamentos sobre você
Doce luz extasiada
Isso termina aqui esta noite
Fechando seus olhos para desaparecer
Você reza para que seus sonhos deixem você aqui
Mas você ainda está acordado e sabe a verdade
Ninguém está lá
(Evanescence - My last breath)
Quando entramos
na mansão Isabella estava em pé no salão de entrada, ela estava exatamente
igual, do jeito que eu me lembrava, rosto jovem, cabelos longos negros como a
noite, seus olhos verdes mais penetrantes do nunca, ela não tinha mudado em
nada.
E agora quase
dois anos depois, nossa semelhança ficava cada vez mais visível.
- Oi Isabella -
eu me aproximei e abracei, nossa como era bom estar em seus braços de novo,
estando aqui agora, eu me questiono como aguentei ficar tanto tempo longe dela,
eu acho que é por isso que eu sentia um peso o tempo inteiro enquanto estive
longe.
- Minha filha,
eu não aguentava mais ficar sem te ver, nunca mais suma desse jeito entendeu?
Eu não vou deixar. - ela me abraçou apertado e ficamos assim por longos
segundos - Hã, você deve estar cansada não é mesmo? E você Clara meu amor, como
está?
- Eu estou bem
Isabella, com saudades de vocês é claro. - Clara deu um meio sorriso, mas eu
percebi o quanto ela estava exausta.
- É eu estou um
pouco cansada sim, não consegui dormir direito na viagem. - menti. Quer dizer,
não era uma mentira total, eu consegui dormir direito na viagem, mas eu me
sentia como se não dormisse a uns dois dias, todo o bom humor, e o bem estar já
estavam se esgotando e eu os podia sentir sendo sugados de mim, e a Clara
também precisava de um descanso.
- Oh, é claro, me
deixe levá-las pro quarto.
Enquanto subíamos
a escada ela continuou:
- Ele fica no
mesmo lugar sabia? Está exatamente como vocês deixaram - ela sorriu, seus olhos
verdes brilhavam como um campo de flores silvestres.
- Obrigada Mãe.
- "Mãe", há muito tempo eu não chamava Isabella assim, foi tão
espontâneo que quando me dei conta já tinha dito, acho que era a saudade, e
toda a carência pela falta dela, o motivo ao certo não importa, porque assim
que eu disse isso, ela ficou me olhando até chegarmos ao quarto, e pude
perceber duas lágrimas de sangue no canto de seus olhos, que ela limpou
rapidamente.
- Prontinho, o
quarto de vocês, se estiver faltando alguma coisa é só falarem comigo que eu
providencio, agora tomem um banho e descansem que eu vou preparar alguma coisa
pra vocês, mas não fiquem muito esperançosas, tem quase dois anos que eu não
cozinho mais - ela riu e saiu pela porta junto com a Hevi.
Depois disso eu comecei a desfazer as malhas,
e de rabo de olho eu pude ver que a Clara me encarava, eu me virei.
- O que foi? -
eu me sentei na cama.
- Nada - ela
sorriu - Nadinha mesmo.
- Ah menos
Clara, fala logo o que deu em você?
- Nada, eu quero
saber o que deu em você, pra de repente esse sorriso tomar conta do seu rosto?
- nós ficamos nos olhando por alguns segundos em silencio. Eu não sabia o que
dizer, eu nem sabia que estava sorrindo. - Ah tanto tempo eu não via esse
sorriso em você, se eu tinha alguma duvida quanto essa viagem, todas elas
morreram agora. Você pode não admitir Cat, mas nós duas sabemos que você tem
sido infeliz todo esse tempo. Partir daqui de certo modo foi um erro, mas isso
não importa, nós vamos consertá-los e você vai ficar bem - ela sorriu pra mim.
Eu abaixei a
cabeça. Não nós não vamos consertá-lo, e eu sabia disso.
- Não, não foi
um erro. Era o que tinha que ser feito e eu fiz, e eu não fui infeliz todo esse
tempo, ao contrário eu estava tão feliz quanto, então vamos mudar de assunto
ok? Eu estou aqui não estou? Então pronto.
Eu me levantei e
fui tomar um banho, mas antes que eu saísse do quarto pude ouvir o risinho da
Clara atrás de mim, o mesmo risinho que ela dava quando sabia que eu estava
sendo teimosa, não pude evitar sorrir também.
Quando sai do
banho, Hevi e Clara estavam sentadas na cama conversando sobre alguma coisa
relacionada a uma tradição, eu não me enterrei muito do assunto porque ainda
estava cansada. Quando terminei de me arrumar e escovar os cabelos, fui
procurar saber qual a programação de hoje.
- Então Hevi,
qual a programação de hoje?
- Hum.. Me deixe
pensar, Henrique está muito ansioso pra vê-la, ele disfarça, mas não teve um
único dia em que ele não tenha falado de você e seu tio Joseph está quase
invadindo o seu quarto, quando você foi embora sem se despedir ele ficou
totalmente frustrado, claro que você não pode fazer nada afinal ele não estava
aqui na ordem, ele quis ir até você, mas Henrique o convenceu de que seria
melhor não, que você não.. Enfim, agora sabendo de sua chegada, ele disse que
deve ir vê-lo imediatamente.
- Eu não
entendi.. Henrique o convenceu que seria melhor não, porque eu...? Por que eu o
que Hevi? - ergui as sobrancelhas.
- Hum.. Desculpa
Cat, mas é porque ele disse que você não iria gostar e que você não queria
qualquer aproximação perto de sua irmã, então ele não foi.
- Ele.. Ele deve
ter entendido mal, quer dizer.. Deus ele deve estar magoado, não foi isso, eu
não quis dizer que não queria vê-lo, é que.. Tente entender Hevi minha irmã é
uma criança, e eu não a quero envolvida nesses assuntos, mas quanto a Joseph eu
o amo, ele é meu tio.. Ele está muito magoado? - fiz uma careta. Ele era a
última pessoa que eu iria querer magoar.
- Claro que não,
não se preocupe com isso Cat, de verdade. Ele entendeu perfeitamente.
Eu tentei
sorrir, mas não me sai muito bem.
- Cat é sério,
não se preocupe com isso. Aliás, pra lhe provar isso, porque não vamos até ele
agora? Está quase anoitecendo, então é melhor irmos logo se não só o
encontraremos amanhã.
- Claro, vamos
sim.. Você vem Clara?
- Não eu vou
tomar meu banho, e depois a Hevi vai fazer alguma coisa no meu cabelo, que eu
ainda não entendi direito, ela disse alguma coisa em Italiano, e a única coisa
que eu entendo a esse respeito, são os homens então.. Enfim, podem ir, e você
Hevi quero que use essa velocidade pra algo urgente, eu.você.meu cabelo. Agora
vão!
- Começo a
pensar que temos que compartilhar esse conhecimento, homens + italianos, não
sei por que tem algo que me atrai nessa junção.. Deve ser por causa do
Fernando, mas isso é uma história pra outra hora.
- Ok, agora
vamos pular a parte de históricos amorosos, e eu posso, por favor, ir ver o meu
tio? - Nós rimos.
- Claro, vamos
Cat.. Eu já volto Clara, e não passe condicionador, depois eu explico por que.
- Vamos.
Foi uma
caminhada rápida até o jardim que ficava na parte de trás da mansão, pelo menos
foi o que pareceu já que durante todo o percurso nós ficamos rindo e dizendo coisas
sem sentido uma pra outra. Mas só a remota ideia de que Joseph pudesse estar
ofendido, ou magoado por minha causa, fazia meu estômago se revirar.
Eu parti, porque
tive que parti, mas isso não significa que eu não os ame, ao contrário, eu os
amo tanto, mais tanto que todo esse tempo... Eu não admitia, mas depois que eu
os deixei, eu deixei também toda e qualquer paz aqui.
E em pensar que
Joseph pudesse achar o contrário disso, me fazia querer andar ainda mais
rápido.
Mas logo
chegamos, no jardim uma brisa fresca soprava meu rosto, e a frente pude ver
Joseph de costas, ele encarava o campo, perdido em pensamentos, e só se deu
conta de nossa presença quando a Hevi rompeu o silencio.
- Joseph,
senhor?
Joseph se virou
e a Hevi fez uma pequena saudação.
- Ou, obrigada
Hevi. – Ele se aproximou, e durante todo esse tempo seus olhos não deixaram os
meus. – Hm.. Pode ver se os guerreiros já chegaram do serviço Hevi? Estou
esperando pelo relatório deles.
- Claro, então
está entregue Cat, mais tarde nos falamos.
Um sopro e a
Hevi se foi, mas agora... Mesmo tendo estado todo esse tempo longe, eu não me
assustei, nem estranhei, era... Normal, comum, agradável, diria até...
Familiar. Eu sorri.
- Então minha
sobrinha, esse sorriso em seu rosto devo imaginar que é por me ver? – ele riu.
- Tio – eu corri
e o abracei.
Eu tinha sentido
tanta a falta dele todo esse tempo, sempre com um conselho, um sorriso, um abraço
acolhedor, se eu pudesse definir a paz e a tranquilidade, as chamaria por seu
nome.
- Oh minha
querida, eu senti tanto a sua falta. – ele retribui o abraço e ficamos assim
por algum tempo, até que me afastei para poder olhá-lo.
- Me desculpe
por não ter me despedido, mas as coisas ficaram... Complicadas eu acho, hã...
Não pense que eu não queria te ver, quando eu disse que não queria contato
eu... Deus! Me desculpe tio é só, minha irmã é uma criança, e não suportaria
vê-la no meio de toda essa guerra.
- Eu te entendo,
não se preocupe, sei o que sente por nós minha querida, e em momento nenhum eu
duvidei disso, mas me fale de você, como está?
Eu me afastei um
pouco, e desviei os olhos, essa pergunta vinda de outra pessoa poderia ser
facilmente respondida com “estou bem, não se preocupe”, mas quando se tratava
de Joseph, que em alguns momentos cheguei a suspeitar que conseguia ler minha
alma, eu não poderia dar como resposta uma frase pronta.
- Eu
estou...Respirando, e isso é tudo o que importa. – Eu sorri.
Joseph me
encarou por longos minutos antes de dizer alguma coisa.
- Catarina – Ele
pronunciou o meu nome lentamente, em sua voz eu podia perceber um resquício da
dor – Minha sobrinha não faça isso a si mesma, não haja dessa forma.
- Fazer o
que? – Arqueei as sobrancelhas.
- Você sabe
do que estou falando Catarina, não use a máscara de frieza comigo, sabe que eu
lhe conheço melhor do que isso e com o dom que possuo, te conheço melhor até do
que você mesma, e tudo o que sinto é... Raiva, frieza, medo, e dor. Não é pra
ser assim!
- Você está
enganado, eu estou bem.
- Não minta
Catarina, você pode ser boa em fingir isso para os outros não para mim.
Toda essa
conversa sobre meus sentimentos já me estava tirando do sério, mais porque no
fundo eu sabia que ele tinha razão, mas não podia admitir, seria como
reconhecer toda a dor que tinha guardado, e reconhecê-la significa senti-la, e
já tinha prometido a mim mesma de que iria evitar isso, engolir a seco, e
enterrar o mais fundo possível, porque sofrer e chorar não faria nada mudar.
- Então o que quer que eu diga? O que esperava Joseph?
Ver uma Catarina saltitante e feliz? Se me conhecesse bem
como diz, sabe que seria o total inverso disso.
- Eu sei,
só não esperava que estivesse guardando tanta raiva e dor com você.
- Todos têm
suas cicatrizes tio, as minhas são só um pouco mais bem guardadas.
- Está
enganada, você não as está escondendo, você as está alimentando Catarina,
entenda enterrar a dor da a sensação de alivio por um período curto de tempo,
mas um dia Catarina você tem que lidar com ela, porque se a fizer prisioneira,
ela fará de você uma prisioneira dentro de si mesma, pensa que eu não vejo como
você foge dos assuntos, desvia os olhos como para afugentar as lembranças,
enrijece os punhos para evitar que a dor tome conta... Eu posso perceber isso
tudo só te olhando agora Catarina, já passei por isso incontáveis vezes, sou
muito mais velho do que pode imaginar, então acredite em mim quando digo que
isso só irá aumentar seu sofrimento.
- Não se
preocupe Joseph, não tenho tempo para lidar com sentimentos a muito enterrados,
o tempo passou, a vida seguiu e tudo é diferente agora, o que eu sentia se foi
junto com a Catarina que saiu da ordem a quase 2 anos, eu estou aqui apenas
para lidar com essa doença, transformação eu não sei como chamam, com base nos
fatos de que eu não vou sobreviver, logo concluo que não há com que me
preocupar.
- Então é
daí que tira forças pra manter essa fachada? É daí que tira forças para
enterrar a dor dessa forma? Da desculpa de um alívio breve com a vinda da
morte... Cuidado Catarina, as coisas nunca são como esperamos, elas sempre se
modificam a sua vontade, então só tome cuidado para não mandar pra longe sua
felicidade e depois se deparar com um vazio pior do que a morte.
- Joseph,
tio...Eu, sinceramente? Estou cansada admito, mas não tenho outra alternativa,
porque... Isso, essa dor que eu tenho dentro de mim, envia um nó pra minha
garganta toda vez que eu me permito ao menos lembrar, então sim confesso que só
não estou aterrorizada por essa transformação porque pela primeira vez depois
de muito tempo eu poderei descansar.
- Oh minha
querida – Ele se aproximou e me abraçou forte – Sinto lhe dizer que descanso é
algo que você não terá por um bom tempo, infelizmente o que está por vir é
complicado demais para que possa entender agora, mas me prometa que quando
chegar a hora você vai se lembrar do que eu disse, e irá se permitir sofrer, se
permitir chorar, e ir atrás da sua felicidade, irá lutar por ela e não deixará que
nada de mal a possua.
- Como
assim? O que está por vir? – Um arrepio percorreu o meu corpo, de certa forma
quando perguntei a Joseph eu já sabia, alguma coisa estava errada e Joseph
tinha razão, descanso era uma palavra que em breve eu não saberia o remoto
significado.