quarta-feira, 9 de maio de 2012

Capítulo 3: Pisando em Pedras

Evanescence - Call Me When You're Sober

Powered by mp3skull.com





Eu não posso viver essa vida
Sem você ao meu lado
Eu preciso de você para sobreviver

Então, fique comigo
Você olha nos meus olhos
E eu estou gritando por dentro
Que eu sinto muito
(Evanescence - Forgive me) 




Depois da discussão com a Clara eu me tranquei no meu quarto e passei a maior parte da tarde tentando tomar alguma decisão, colocar os pensamentos no lugar, ajeitar essa bagunça que estava a minha cabeça, mas todas as vezes que eu tentava achar uma solução que não incluísse partir, logo me vinha uma barreira como, médicos, a Cláudia, o que eu diria a ela, como minha irmã ficaria por me ver adoecer, e também porque eu estava com medo, eles haviam dito o que iria acontecer e eu não queria sentir essa dor, eu estava acabada só por esses desmaios, febres e dores de cabeça repentinas, imagine a verdadeira dor que ainda estava por vir, só de pensar em passar por isso sozinha de certa forma - porque a Clara não é vampira ela não entende de transformações, e eu muito menos - me assustava muito, eu confesso que queriam eles do meu lado, Isabella cuidando de mim, o Henrique com o seu jeito, durão e um pouco autoritário, mas ainda sim preocupado e atencioso, Hevi com suas palavras de otimismo, sempre dizendo como tudo iria ficar bem, e Joseph me fazendo rir, e me dando esperança como nenhuma outra pessoa, e eu nem queria pensar no último eu me recusava a me deixar ter noção da falta que ele me fazia, então aboli esse pensamento.
Eu precisava tomar uma decisão, eu não podia ficar aqui, mas voltar também não é tão simples, inclui muitas coisas, coisas com as quais eu tentei não lidar durante todo esse tempo, e já se passaram quase dois anos, e como será quando eu voltar? Obviamente não está tudo igual, quer dizer eles seguiram com a vida deles, assim como eu. DEUS! Era tanta coisa a se pensar, e eu me sentia cada dia mais exausta.
Clara bateu na porta.
- Cat? Me deixa entrar, eu quero conversar. por favor.
- Está bom - me levantei e abri a porta, ela passou por mim e se sentou na poltrona, eu voltei e deitei na cama, olhando para o teto.
- Pode falar
- Olha Cat, me desculpa ok? Eu sei o quanto você tem evitado esse assunto, o quanto tem tentado fugir disso, mas amiga... Eu não sabia o que fazer e Isabella disseram que se alguma coisa acontecesse era para eu ligar, e eu não tive outra opção, você está muito mal amiga, e eu não quero ver você assim, não se eu puder fazer alguma coisa, e eu posso então eu fiz, mesmo sabendo que ia te magoar, e eu me desculpo, mas não me arrependo.
- Está tudo bem, eu não to mais brava com você.
- Ai Cat - ela correu e me abraçou. - Amiga, por favor, vamos pra lá eu to com medo Cat eu não posso perder você, e eu sou egoísta o suficiente pra confessar que se você não aceitar eu vou levar você à força. - ela soltou um risinho, mas eu sabia que ela estava falando sério.
Eu suspirei. Eu estava tão exausta disso tudo.
- Quer saber? Chega, eu to cansada demais, e eu não quero mais lidar com isso sozinha, então se temos que ir pra Londres, nós vamos, vai doer, mas no final. - eu fiquei calada, o que eu iria dizer era "no final eu vou morrer de qualquer forma", mas achei melhor guardar essa parte pra mim, Clara já tinha coisa demais com que lidar por minha causa.
- Então você vai Cat?
- Vou, mas nós temos que ir amanhã? Não podemos, não sei, ir semana que vem, deixa eu me acostumar com a ideia. Eu não sei.
- Cat eu não vou esperar você piorar, nós vamos amanhã cedo.
Bufei isso era fácil, não fazia minha cabeça doer.
- Tudo bem então, eu vou dormir agora porque eu to com muito sono.
- Ta legal, dorme bem amiga e já sabe que é pra me chamar caso você se sinta mal, mas é pra chamar mesmo entendeu Catarina?
- Ta tudo bem, tchau Clara.
- Tchau - ela beijou minha testa e saiu do quarto.
O que se deve fazer quando o seu maior pesadelo e seu mais lindo sonho, estão juntos em um só? Eu tinha muito medo do que voltar poderia causar, eu guardei dor demais por todo esse tempo, e não queria senti-la agora, mas por outro lado voltar era tudo o que eu queria.

A manhã chegou, e com ela a decisão que eu tinha tomado. Suspirei.
Eu estava tão cansada de tudo ser tão complicado o tempo todo, ao menos uma vez eu queria que as coisas fossem simples, como elas eram quando eu saboreava a minha ignorância, e não sabia de nada sobre vampiros, bruxas e todas essas histórias, mas não se pode voltar no tempo, e mesmo se pudesse eu não voltaria simplesmente pensar em nunca os ter conhecido é impossível.
Desci pro café da manhã me sentindo bem melhor, o cansaço, a exaustão, a dor de cabeça tudo isso tinha ido embora, naquele momento eu me sentia como nos meses anteriores, totalmente normal e saudável, o que era irônico já que eu estaria embarcando para Londres essa manhã por estar doente.
- Bom dia Clara - ela me olhou de cima em baixo.
- Bom dia, pelo menos hoje você não parece um zumbi, isso é bom. - nós rimos juntas.
- É eu decidi abdicar de toda essa vida de "the walking dead" sabe, eu não sirvo pra ser atriz mesmo. - nós ficamos rindo por um bom tempo, até ficarmos sem ar e termos que parar pra recuperar o folego.
- Arrumou as malas?
- Já, e a que horas nós vamos?
- Daqui a pouco, depois que tomarmos o café.
- Ok, agora eu estava pensando, como é que nós vamos viajar pra outro país, sendo menores desacompanhadas, quando eu viajei com o Pedro, ele fez aquela coisa com o olhar na moça do checkin e nós passamos, e eu sinto dizer amiga você é sensual, mas acho que isso não vai funcionar.
- Você está subestimando a minha sensualidade ok? Mas isso não importa porque eu não vou precisar utilizá-la, eu tenho a identidade da minha mãe, e a caligrafia dela, sei fazer a assinatura dela mais perfeita do que ela mesma, então não se preocupe, minha "mãe" já fez um papel dizendo que está ciente que estamos viajando e que estamos autorizadas, e claro ela assinou.
- Clara Clara. Porque eu ainda perco o meu tempo de subestimar você? - eu ri Clara era um gênio do mal quando queria um gênio muito, muito esperto.
- Eu não sei querida, também me pergunto a mesma coisa.
Nós passamos o resto do café da manhã rindo, pela primeira vez em muito tempo o clima de tensão e cansaço que estava sempre no ar sumiu, acho que era porque depois de muito tempo eu estava de bom humor, isso claro tirando o meu estado de ansiedade e terror por dentro, mas eu estava reprimindo isso, como eu disse, aprendi perfeitamente como reprimir coisas ruins, e estava me saindo muito bem nisso.
Depois que arrumamos as malas, fomos direto para o aeroporto, a fila do checkin estava um inferno, depois de algum tempo enfim chegou nossa vez, a moça do checkin pegou a identidade de Cláudia, analisou a assinatura e nos deixou passar sem nenhum problema. Clara era realmente um gênio do mal - eu ri comigo mesma.
Nosso voô atrasou umas boas duas horas, e quanto mais o tempo passava mais a ansiedade que eu estava reprimindo lutava para sair, por mais que eu tentasse fingir que estava viajando pra outro lugar, como Caribe com aquelas ilhas lindo, onde não teria nenhum vampiro, e muito menos nenhum quase namorado vampiro também, isso não estava ajudando muito, então comecei a ler um livro que eu tinha trago, pelo menos assim eu pensaria na história e nos problemas de outra pessoa e não nos meus, no fim a protagonista iria se dar bem mesmo, então menos mal.
Quando embarcamos no avião eu me forcei a dormir, se eu ficasse acordada eu iria entrar em pânico, então pedi um comprimido pra dor para aeromoça, e peguei no sono minutos depois. Clara me acordou dizendo que já iríamos pousar, e eu desejei ficar naquele avião pra sempre, morar ali, seria mais fácil do que descer e encarar tudo de novo.
Meu coração batia como se eu acabasse de correr uns dois quilômetros e a adrenalina ainda corresse pelo meu corpo, quando saímos e vimos a Hevi em pé nos esperando eu confesso que um alívio tomou conta do meu corpo, como era bom vê-la, eu estava reprimindo tanto isso que nem me dei conta do quanto sentia a falta dela.
Ela me abraçou apertado.
- Oh Catarina, como é bom te ver, eu senti tanto a sua falta. - ela me soltou e ficou me olhando.
- Ah eu também Hevi, nem me fale... Como você está? - eu sorri
- Ok. Vamos parar de melação, e vamos partir para parte onde você me abraça e diz que sentiu minha falta também ok? - Hevi agarrou a Clara, e elas ficaram rodando e dizendo o quanto sentiram falta uma da outra, e a Hevi dizendo que a ordem perdeu a graça sem o humor da Clara.
- Eu só sou realista, só isso. - nós todas rimos juntas.
- Então vamos? Vocês precisam me contar tudo, o que fizeram como estão, quais as novidades.. Quero saber de tudo!
Nós entramos no carro, e fomos conversando.. Contamos tudo para ela, das notas, do colégio, das pessoas, do curso, da Aline e da Cláudia, mas como se o aviso estivesse no ar, não tocamos no assunto que me trouxe aqui, e era melhor assim eu não queria lidar com isso agora.
Quando o carro virou e passou pelo portão, a primeira coisa que eu quis fazer foi chorar, eu vi de novo a mansão e me lembrei da primeira vez que eu vim aqui, e quem estava comigo, eu estava com tanto medo e o fiz prometer que não sairia do meu lado, eu ainda me lembro de como fiquei boquiaberta com a beleza do lugar, o tamanho, o jardim, tudo, e claro o carvalho, eu só pude vê-lo de longe porque estava dentro do carro, mas naquele momento uma coisa em mim se aliviou, como se tirasse um peso enorme das costas, um peso grande demais.
Eu acho que é assim com o calor, ele queima porque precisa do frio, os dois juntos completam um ao outro, como um equilíbrio, e quando estão equilibrados, o alívio vem.
Isso estava acontecendo comigo, eu estava queimando a muito tempo, porque precisava disso, dessa vida, dessas pessoas, elas me completavam, equilibravam a minha vida por mais estranha que fosse, e agora que eu voltei depois de muito tempo eu pude me sentir verdadeiramente em paz, ou quase.

Nenhum comentário:

Postar um comentário