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Eu não posso viver essa vida
Sem você ao meu lado
Eu preciso de você para sobreviver
Então, fique comigo
Você olha nos meus olhos
E eu estou gritando por dentro
Que eu sinto muito
(Evanescence - Forgive me)
Depois da discussão
com a Clara eu me tranquei no meu quarto e passei a maior parte da tarde
tentando tomar alguma decisão, colocar os pensamentos no lugar, ajeitar essa
bagunça que estava a minha cabeça, mas todas as vezes que eu tentava achar uma
solução que não incluísse partir, logo me vinha uma barreira como, médicos, a
Cláudia, o que eu diria a ela, como minha irmã ficaria por me ver adoecer, e
também porque eu estava com medo, eles haviam dito o que iria acontecer e eu
não queria sentir essa dor, eu estava acabada só por esses desmaios, febres e
dores de cabeça repentinas, imagine a verdadeira dor que ainda estava por vir,
só de pensar em passar por isso sozinha de certa forma - porque a Clara não é
vampira ela não entende de transformações, e eu muito menos - me assustava
muito, eu confesso que queriam eles do meu lado, Isabella cuidando de mim, o
Henrique com o seu jeito, durão e um pouco autoritário, mas ainda sim
preocupado e atencioso, Hevi com suas palavras de otimismo, sempre dizendo como
tudo iria ficar bem, e Joseph me fazendo rir, e me dando esperança como nenhuma
outra pessoa, e eu nem queria pensar no último eu me recusava a me deixar ter
noção da falta que ele me fazia, então aboli esse pensamento.
Eu precisava
tomar uma decisão, eu não podia ficar aqui, mas voltar também não é tão
simples, inclui muitas coisas, coisas com as quais eu tentei não lidar durante
todo esse tempo, e já se passaram quase dois anos, e como será quando eu
voltar? Obviamente não está tudo igual, quer dizer eles seguiram com a vida
deles, assim como eu. DEUS! Era tanta coisa a se pensar, e eu me sentia cada
dia mais exausta.
Clara bateu na
porta.
- Cat? Me deixa
entrar, eu quero conversar. por favor.
- Está bom - me
levantei e abri a porta, ela passou por mim e se sentou na poltrona, eu voltei
e deitei na cama, olhando para o teto.
- Pode falar
- Olha Cat, me
desculpa ok? Eu sei o quanto você tem evitado esse assunto, o quanto tem
tentado fugir disso, mas amiga... Eu não sabia o que fazer e Isabella disseram
que se alguma coisa acontecesse era para eu ligar, e eu não tive outra opção,
você está muito mal amiga, e eu não quero ver você assim, não se eu puder fazer
alguma coisa, e eu posso então eu fiz, mesmo sabendo que ia te magoar, e eu me
desculpo, mas não me arrependo.
- Está tudo bem,
eu não to mais brava com você.
- Ai Cat - ela
correu e me abraçou. - Amiga, por favor, vamos pra lá eu to com medo Cat eu não
posso perder você, e eu sou egoísta o suficiente pra confessar que se você não
aceitar eu vou levar você à força. - ela soltou um risinho, mas eu sabia que
ela estava falando sério.
Eu suspirei. Eu
estava tão exausta disso tudo.
- Quer saber?
Chega, eu to cansada demais, e eu não quero mais lidar com isso sozinha, então
se temos que ir pra Londres, nós vamos, vai doer, mas no final. - eu fiquei
calada, o que eu iria dizer era "no final eu vou morrer de qualquer
forma", mas achei melhor guardar essa parte pra mim, Clara já tinha coisa
demais com que lidar por minha causa.
- Então você vai
Cat?
- Vou, mas nós
temos que ir amanhã? Não podemos, não sei, ir semana que vem, deixa eu me
acostumar com a ideia. Eu não sei.
- Cat eu não vou
esperar você piorar, nós vamos amanhã cedo.
Bufei isso era
fácil, não fazia minha cabeça doer.
- Tudo bem
então, eu vou dormir agora porque eu to com muito sono.
- Ta legal,
dorme bem amiga e já sabe que é pra me chamar caso você se sinta mal, mas é pra
chamar mesmo entendeu Catarina?
- Ta tudo bem,
tchau Clara.
- Tchau - ela
beijou minha testa e saiu do quarto.
O que se deve
fazer quando o seu maior pesadelo e seu mais lindo sonho, estão juntos em um
só? Eu tinha muito medo do que voltar poderia causar, eu guardei dor demais por
todo esse tempo, e não queria senti-la agora, mas por outro lado voltar era
tudo o que eu queria.
A manhã chegou,
e com ela a decisão que eu tinha tomado. Suspirei.
Eu estava tão
cansada de tudo ser tão complicado o tempo todo, ao menos uma vez eu queria que
as coisas fossem simples, como elas eram quando eu saboreava a minha ignorância,
e não sabia de nada sobre vampiros, bruxas e todas essas histórias, mas não se
pode voltar no tempo, e mesmo se pudesse eu não voltaria simplesmente pensar em
nunca os ter conhecido é impossível.
Desci pro café
da manhã me sentindo bem melhor, o cansaço, a exaustão, a dor de cabeça tudo
isso tinha ido embora, naquele momento eu me sentia como nos meses anteriores,
totalmente normal e saudável, o que era irônico já que eu estaria embarcando
para Londres essa manhã por estar doente.
- Bom dia Clara
- ela me olhou de cima em baixo.
- Bom dia, pelo
menos hoje você não parece um zumbi, isso é bom. - nós rimos juntas.
- É eu decidi
abdicar de toda essa vida de "the walking dead" sabe, eu não sirvo
pra ser atriz mesmo. - nós ficamos rindo por um bom tempo, até ficarmos sem ar
e termos que parar pra recuperar o folego.
- Arrumou as
malas?
- Já, e a que
horas nós vamos?
- Daqui a pouco,
depois que tomarmos o café.
- Ok, agora eu
estava pensando, como é que nós vamos viajar pra outro país, sendo menores
desacompanhadas, quando eu viajei com o Pedro, ele fez aquela coisa com o olhar
na moça do checkin e nós passamos, e eu sinto dizer amiga você é sensual, mas acho
que isso não vai funcionar.
- Você está
subestimando a minha sensualidade ok? Mas isso não importa porque eu não vou
precisar utilizá-la, eu tenho a identidade da minha mãe, e a caligrafia dela,
sei fazer a assinatura dela mais perfeita do que ela mesma, então não se
preocupe, minha "mãe" já fez um papel dizendo que está ciente que
estamos viajando e que estamos autorizadas, e claro ela assinou.
- Clara Clara. Porque
eu ainda perco o meu tempo de subestimar você? - eu ri Clara era um gênio do
mal quando queria um gênio muito, muito esperto.
- Eu não sei
querida, também me pergunto a mesma coisa.
Nós passamos o
resto do café da manhã rindo, pela primeira vez em muito tempo o clima de
tensão e cansaço que estava sempre no ar sumiu, acho que era porque depois de
muito tempo eu estava de bom humor, isso claro tirando o meu estado de
ansiedade e terror por dentro, mas eu estava reprimindo isso, como eu disse,
aprendi perfeitamente como reprimir coisas ruins, e estava me saindo muito bem
nisso.
Depois que arrumamos
as malas, fomos direto para o aeroporto, a fila do checkin estava um inferno,
depois de algum tempo enfim chegou nossa vez, a moça do checkin pegou a
identidade de Cláudia, analisou a assinatura e nos deixou passar sem nenhum
problema. Clara era realmente um gênio do mal - eu ri comigo mesma.
Nosso voô
atrasou umas boas duas horas, e quanto mais o tempo passava mais a ansiedade
que eu estava reprimindo lutava para sair, por mais que eu tentasse fingir que
estava viajando pra outro lugar, como Caribe com aquelas ilhas lindo, onde não
teria nenhum vampiro, e muito menos nenhum quase namorado vampiro também, isso
não estava ajudando muito, então comecei a ler um livro que eu tinha trago,
pelo menos assim eu pensaria na história e nos problemas de outra pessoa e não
nos meus, no fim a protagonista iria se dar bem mesmo, então menos mal.
Quando
embarcamos no avião eu me forcei a dormir, se eu ficasse acordada eu iria
entrar em pânico, então pedi um comprimido pra dor para aeromoça, e peguei no
sono minutos depois. Clara me acordou dizendo que já iríamos pousar, e eu
desejei ficar naquele avião pra sempre, morar ali, seria mais fácil do que
descer e encarar tudo de novo.
Meu coração
batia como se eu acabasse de correr uns dois quilômetros e a adrenalina ainda
corresse pelo meu corpo, quando saímos e vimos a Hevi em pé nos esperando eu
confesso que um alívio tomou conta do meu corpo, como era bom vê-la, eu estava
reprimindo tanto isso que nem me dei conta do quanto sentia a falta dela.
Ela me abraçou
apertado.
- Oh Catarina,
como é bom te ver, eu senti tanto a sua falta. - ela me soltou e ficou me
olhando.
- Ah eu também
Hevi, nem me fale... Como você está? - eu sorri
- Ok. Vamos
parar de melação, e vamos partir para parte onde você me abraça e diz que sentiu
minha falta também ok? - Hevi agarrou a Clara, e elas ficaram rodando e dizendo
o quanto sentiram falta uma da outra, e a Hevi dizendo que a ordem perdeu a
graça sem o humor da Clara.
- Eu só sou
realista, só isso. - nós todas rimos juntas.
- Então vamos?
Vocês precisam me contar tudo, o que fizeram como estão, quais as novidades.. Quero
saber de tudo!
Nós entramos no
carro, e fomos conversando.. Contamos tudo para ela, das notas, do colégio, das
pessoas, do curso, da Aline e da Cláudia, mas como se o aviso estivesse no ar,
não tocamos no assunto que me trouxe aqui, e era melhor assim eu não queria
lidar com isso agora.
Quando o carro
virou e passou pelo portão, a primeira coisa que eu quis fazer foi chorar, eu
vi de novo a mansão e me lembrei da primeira vez que eu vim aqui, e quem estava
comigo, eu estava com tanto medo e o fiz prometer que não sairia do meu lado,
eu ainda me lembro de como fiquei boquiaberta com a beleza do lugar, o tamanho,
o jardim, tudo, e claro o carvalho, eu só pude vê-lo de longe porque estava
dentro do carro, mas naquele momento uma coisa em mim se aliviou, como se
tirasse um peso enorme das costas, um peso grande demais.
Eu acho que é
assim com o calor, ele queima porque precisa do frio, os dois juntos completam
um ao outro, como um equilíbrio, e quando estão equilibrados, o alívio vem.
Isso estava
acontecendo comigo, eu estava queimando a muito tempo, porque precisava disso,
dessa vida, dessas pessoas, elas me completavam, equilibravam a minha vida por
mais estranha que fosse, e agora que eu voltei depois de muito tempo eu pude me
sentir verdadeiramente em paz, ou quase.
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