quarta-feira, 11 de abril de 2012

Capítulo 2: Acampamento de verão

Evanescence - Everybody`s Fool

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Sem a máscara
Onde você vai se esconder?
Não consegue se encontrar, perdida em sua mentira
(Everybody’s fool – Evanescence) 


Depois daquela noite eu melhorei as dores de cabeça ainda eram frequentes, mas essas eu conseguia aguentar, não eram tão fortes como aquela, e os desmaios pararam, eu só ficava tonta às vezes, ou minha vista escurecia, mas eu disfarçava e logo voltava ao normal, eu consegui adiar a visita ao médico ficando rapidamente curada, ou pelo menos foi isso que eu fiz a Cláudia pensar, no dia seguinte do desmaio eu estava exausta, mas ainda sim eu me maquiei - o que eu nunca fazia pra ir para escola - me arrumei, e desci toda animada, no café as duas me olharam desconfiadas, mas não disseram nada, e eu continuei assim pelo resto do dia, mesmo querendo me deitar e dormir, eu sorria, contava uma piada, ou fazia planos pro final de semana, depois de dois dias eu disse despreocupadamente para Cláudia que eu tinha um trabalho muito importante na sexta e que não poderia faltar, e que de toda maneira eu já estava melhor, devido a toda a minha animação ela deixou passar, mas a semana continuou, o cansaço era cada vez pior, e todas as manhãs eu comecei a perceber o que a Clara disse sobre eu parecer um zumbi, eu acordava sempre suando frio, e extremamente pálida, com as olheiras saltando do meu rosto, e com isso se criou uma nova rotina, me maquiar, tampar as olheiras, deixar meu rosto rosado, tomar uma ducha fria pra despertar o meu corpo, e era assim todas as manhãs, eu criava uma máscara e fingia que estava bem, é claro que uma vez ou outra eu me desequilibrava ou fazia uma careta por causa da dor de cabeça sem querer, mas ai eu dizia que era só eu sendo a estabanada de sempre, ou que eu estava com dor de cabeça por ter ouvido música alta a noite inteira.
De manhã eu fiquei sabendo da viagem, Cláudia tinha inscrito Aline em um acampamento de verão, como Aline sempre quis ir a um, e de repente panfletos misteriosos começaram a surgir pela casa, Cláudia decidiu que a levaria, a criança precisava de um acompanhante para ir ao acampamento e Cláudia iria com ela, já que nós não tínhamos idade. E eu odeio florestas, não me sinto bem, elas me deixam desconfortável, eu acho.
Faltando alguns dias para a viagem, Cláudia começou a arrumar as coisas, fazendo comida de sobra, arrumando a casa, deixando as malas prontas, o acampamento era em algum lugar do interior de Minas Gerais, com cachoeiras, lagos, enfim maravilhoso, elas iriam ficar por um mês, ou um mês e meio se eu não me engano, as aulas da Aline iriam voltar só daqui a dois meses - santo colégio, que sorte - e Cláudia tinha pedido licença no trabalho de um mês e meio pra poder levá-la, assim elas ficariam fora bastante tempo, na noite que ela disse isso eu me lembro de rir bastante com seu sermão para Clara.
 - Nada de festas, nada de frases que incluam as palavras garoto, casa, quarto, ou qualquer outra parte da casa, eu sei que se pode fazer muito mais em qualquer outro lugar, você entendeu Clara? E se lembre do que eu sempre digo, quando você pensa que eu não estou vendo, é exatamente ai que eu estou te observando mais do que nunca, mesmo não estando aqui, então não me decepcione - Ela arqueou uma sobrancelha para Clara, esperando uma resposta.
- Pelo amor de deus mãe, nós não precisamos saber sobre as suas experiências sexuais ok? Guarde as lindas e românticas memórias pra você, eu to bem assim é sério. - eu não aguentei e tive que rir - E sim eu entendi, nenhum ser vivo do sexo oposto, a não ser que não seja da mesma espécie, como um cachorro ou um peixe, está anotado Dona Cláudia.
- Eu acho bom, eu vou ficar de olho em você.
- Ta bom mãe pode parar agora, essa coisa de filme de suspense de "eu vejo vocês" ta muito piegas a gente já entendeu, está vendo é isso que da ficar vendo "eu sei o que vocês fizeram no verão passado", as férias nem começaram e a mulher já está tendo profecias.
- Eu sou sua mãe Clara Martins e eu te conheço melhor do que ninguém, e eu sei o que se passa na sua cabecinha, então.. Não, não pense, não faça!
- Eu.já.entendi! - Clara falou lentamente como se falasse com alguém que sofre de problemas mentais.
- Bom se é assim, estamos conversadas, e você senhorita Catarina, se passar mal me ligue imediatamente entendeu? Só porque você não gosta de médicos isso não significa que eles são desnecessários, e as mesmas regras de Clara, valem para você também, por favor, meninas eu não quero surpresas quando eu voltar.
- Pode deixar Cláudia, pode ir tranquila.
- Agora comam, o café de vocês vai esfriar, e vocês vão se atrasar.

Tivemos mais uma semana de aula, então a Cláudia foi viajar, aproveitei os primeiros dias em casa pra estudar, eu precisava estar preparada para quando os exames chegassem, eu tinha que tirar uma nota muito alta caso quisesse entrar pra uma boa universidade, e isso pelo menos me distraia, me fazia esquecer de dores, desmaios e todos os sintomas estranhos que eu vinha sentindo.
Clara tentou me animar, nós fomos à praia, ao shopping, até ao teatro, mas isso é claro porque eu a obriguei, Clara é imperativa demais para ficar prestando atenção a algo por mais de uma hora.
Mas como se uma praga as minhas preces, os sintomas voltaram e dessa vez eles ficaram piores, primeiro a febre aumentou, eu acordava no meio da noite, com os lençóis molhados e toda encharcada de suor, eu já tinha perdido uns bons 10 quilos, mas o físico eu ainda conseguia esconder, quer dizer eu estava normalmente magra, mesmo perdendo esses quilos, e sempre existia a bela e abençoada maquiagem para o problema com a palidez e as olheiras, o que estava me preocupando eram as pontadas repentinas que eu tinha na cabeça, essas pontadas eram a pior dor que eu já tinha sentido na minha vida, a primeira vez que elas vieram eu estava no banho e no mesmo instante eu cai e me agachei de dor, mas elas pelo menos não eram duradouras, eram pontadas rápidas, mas deixavam minha cabeça latejando por um tempo, o meu único medo é que elas viessem quando eu estivesse na presença de alguém, tudo o que eu menos queria agora era estragar a viagem da minha irmã. E elas vieram, uma tarde quando eu estava me arrumando para ir ao shopping com a Clara para ela comprar um sapato - depois de ela ficar falando a manhã inteira na minha cabeça, sobre como ele era perfeito, e sobre como foi destino ela tê-lo encontrado - eu estava pronta e desci as escadas, a Clara estava em pé na sala me esperando e antes que eu chegasse ao último degrau ela veio uma das mais fortes, eu não aguentei me agachei no mesmo momento e acabei tropeçando e rolando pela escada, caindo no chão e batendo a cabeça. Clara correu na minha direção gritando o meu nome, mas minha cabeça latejava, e eu tinha batido com ela forte demais, eu não conseguia entender muita coisa.
- A meu deus Catarina! Você está bem? Deus! Eu vou ligar para minha mãe.
Eu agarrei o braço dela
- Não, eu-eu to bem, por favor, não liga pra ela.
- Tudo bem, mas eu não posso ficar sem fazer nada Catarina, isso tem que parar, chega eu não posso mais ver você se esforçar tanto, e se acabar sozinha amiga, eu sei quem pode te ajudar, e você vai me odiar, mas pelo menos vai me odiar saudável, ou melhor, do que está agora.
 Depois de me deitar no sofá, ela subiu as escadas e sumiu por longos minutos, eu adormeci e acordei com o barulho dos seus passos.
- Aonde você foi? Você não ligou pra sua mãe né? Diz que você não ligou pra ela.
- Eu liguei, mas não pra falar o que você pensa.
- O que? O que você disse?
- Disse que nós vamos a sua casa do Lago, que você está com saudades e que você quer aproveitar essas férias para passar lá.
- Porque você disse isso? Nós não vamos para o Lago.
- Eu sei que não.
- Então, por quê?
- Nós vamos para Londres - ela fez uma pausa observando enquanto minha expressão ia de confusão a fúria.
- Não, "nós" não vamos a lugar algum - eu disse de modo ríspido, dando ênfase no "nós".
- Sim nós vamos, e você não tem direito de escolha, você está doente.
- Clara você está maluca? Nós não podemos simplesmente aparecer lá do nada, você é louca?
- Eu sei que não, a Hevi estará nos esperando amanhã à tarde no aeroporto.
- O que?! - eu explodi, eu fiquei de pé, cambaleante.
- Você quer gritar? Pelo amor de deus Catarina, você nem ao menos consegue ficar de pé, tenha um pouco de amor próprio, ou se não pela sua irmã, você quer que ela veja você se acabar? Cada vez mais doente, e mais doente? O que? Até você ficar de cama, e minha mãe te levar ao hospital, e ai o que Catarina? Que doença você acha que eles vão diagnosticar? Nenhuma Catarina por que você estava certa desde o início, você não está doente, como uma virose, ou algo do tipo, você está doente porque está se transformando, e sinto dizer, mas não está indo muito bem, então uma vez na vida para de ser teimosa, e faça o que você sabe que é o melhor, porque você querendo ou não Catarina, eu não vou assistir você morrer! - Clara gritou na última frase, e eu pude ver que também não era fácil pra ela, pude ver a dor e o medo de me perder, os mesmos que eu sentiria se fosse ela no meu lugar. Mas que diabos! Porque tudo em relação a minha vida tinha que ser tão complicado.
Eu não disse nada, subi para o meu quarto e deitei, eu precisava descansar, eu sentia que ia cair a qualquer minuto.
E principalmente eu precisava pensar, havia muita coisa em jogo, eu deixei muita coisa pra trás, eu enterrei coisas demais na parte mais funda de mim, para agora desenterrá-las e eu não sei se posso, porque eu não sei como elas virão a superfície, não sei se eu posso aguentar. E tinha minha irmã, quer dizer e se eu não voltasse? E não pudesse me despedir, seria melhor ou pior pra ela que eu partisse longe? Eram tantas perguntas, e eu não tinha uma sequer resposta, eu só não podia mais ficar do jeito que eu estava, caindo pelos cantos, tentando esconder uma coisa que me consumia cada dia mais por dentro, eu não tinha mais forças.
Era hora de voltar, e eu parti pensando que nunca diria isso.
O destino da muitas voltas, e o ruim de você voltar pela mesma rua em que veio, é que mesmo sabendo onde estão os espinhos, você não pode desviar deles.




Capítulo: Apagão

Coldplay - Coldplay - The Scientist

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Gritei até que minhas veias explodissem
Esperei o tempo passar
Agora tudo que eu faço é viver com esse destino
Eu quis isso, reclamei daquilo
Deixei pra trás esse pequeno detalhe
(Slipknot - Duality) 


 
Eu e Clara iríamos nos atrasar de novo, ela não perdia essa mania, sempre inventava de passar rímel no exato momento em que tínhamos que sair para ir pra escola. Suspirei.
- CLARA! Vamos! Eu vou te deixar em casa, vem logo!
Clara desceu correndo e tropeçando pela escada.
- Desculpa se uma menina quer ficar bonita. - ela disse com aquele sorriso debochado no rosto.
- Aham, ta bom Afrodite agora vamos.

Na escola estava tudo praticamente igual, esse era o nosso último ano e já estávamos no meio do ano letivo, toda a pressão das universidades sobre as nossas costas, as notas do último ano tinham que estar impecáveis caso eu quisesse ser aceita em alguma faculdade, sem falar no Enem, eram tantas coisas e ainda por cima esse mal estar que eu vinha sentindo de um mês pra cá, em um minuto eu estava bem, e no outro eu estava totalmente fraca como se estivesse com anemia, ou algo do tipo, e agora as dores de cabeça vieram, mas não são simples dores de cabeça são dores fortes que me fazem querer me abaixar e me encolher até que passe, isso estava começando a me preocupar, mas eu não queria causar pânico atoa, com certeza era só resultado de todo esse estresse, então na frente das meninas e da Cláudia mãe da Clara eu tentava disfarçar, mudava de assunto, dizia que era normal, que era a TPM ou qualquer outra coisa fútil. Elas estavam ficando desconfiadas.
Sai da escola correndo, eu tive que ficar até mais tarde no laboratório e estava atrasada para o curso. É outra novidade, eu estava tendo aulas de francês a um ano mais ou menos, e já conseguia conversar quase fluentemente, eu não entendia, mas eu tinha uma facilidade com o francês, era simples pra mim, às vezes palavras em francês surgiam na minha mente do nada, depois de um tempo eu percebi que isso devia ser resultado de alguma experiência da Katherine, bom pelo menos essas experiências estavam me ajudando no curso, o que já servia pra alguma coisa.
Cheguei em casa quase na hora do jantar, subi direto para o quarto, a sete meses a Cláudia tinha reformado a casa, fazendo com que agora cada uma tivesse um quarto individual. Depois de tomar um banho eu desci.
Quando entrei na cozinha, a Cláudia me olhou de cima baixo, ela agora estava com essa mania, pelo visto ela tinha o mesmo sentido de superproteção da minha mãe, e desde que eu vinha tendo esses "probleminhas"- era como eu chamava quando falava com a Cláudia - ela tinha passado a me observar muito mais.
- Catarina, o que você acha de nós irmos à clínica amanhã? hein? - ela sorriu gentil e me empurrou gentilmente para que eu sentasse na mesa - o doutor César, é um ótimo médico, eu tenho certeza que ele vai poder dizer o que você tem.
- Eu não tenho nada Cláudia, pode ficar tranquila, eu já disse.
Ela me olhou série e arqueou a sobrancelha.
- Cláudia - agora eu disse mais calma, com a voz um pouco mais doce - é que agora tem muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo, é muita pressão, são as notas, o último ano, as universidades, o exame do Enem, e isso tudo somado ao curso, eu só estou com muito estresse, só isso não é nada com que você deva se preocupar, é sério. - eu sorri, ela me olhou com preocupação, mas se rendeu, pelo menos por enquanto - Agora me diz o que você fez para janta? O cheiro está ótimo eu estou sentindo lá do meu quarto.
Ela sorriu
- Eu estou fazendo macarrão com ravióli regado ao molho branco, aprendi essa receita a pouco tempo na tv, e decidi experimentar.
- Huum.  Mal posso esperar cadê a Clara?
- Está no banho, já está descendo e a Aline está vendo desenho.
- Ah sim.

O Jantar foi animado, como todos, simplesmente se sentar a mesa com Clara e Cláudia juntas era hilário, depois que fui morar com Cláudia eu descobri de quem a Clara puxou o senso de humor, elas eram simplesmente incríveis, você não conseguia ficar sem rir por cinco minutos.
Depois do Jantar eu recolhi os pratos, mas quando fui colocá-los na pia a dor de cabeça voltou, mas dessa vez diferente, muito mais forte, os pratos escorregaram da minha mão, e eu caí gritando.
De longe eu pude ouvir os gritos da Cláudia e da Clara, correndo para me socorrer.
- Meu deus, Catarina você está bem? Meu amor fala comigo, ta tudo bem?Clara, corre e pega minha bolsa, eu tenho uns comprimidos pra dor, e eu vou telefonar para o Drt. César. Vai rápido Clara!
A dor foi cedendo aos poucos, e eu fui voltando à realidade, minha vista estava embaçada e eu estava um pouco lenta, então não conseguia entender direito o que a Cláudia estava falando, ela falava muito rápido.
- Ca-Calma Cláudia eu to bem, ok? Foi só um desmaio, deve ter sido por causa do sol, eu fiquei muito tempo no sol hoje na educação física, e devo ter comido algo estragado, enfim. Não se preocupe. - eu disse tentando me levantar, e pude perceber agora que eu estava no colo de Cláudia, que estava agachada no chão da cozinha, com os olhos cheios d'água.
Clara me ajudou e eu consegui ficar de pé, as duas me levaram para o meu quarto, e eu deitei.
- Chega Catarina, eu já liguei para o Drt. César e marquei uma consulta pra você na sexta, então durante a semana você fica tomando esses comprimidos, e na sexta de manhã nós vamos ao médico, entendeu?
- Mas não é necessário Cláudia eu to bem, eu disse foi só...
- Mais nada Catarina, eu já disse você vai ao médico e pronto.
- Tudo bem - eu estava cansada demais pra ser teimosa.
- Eu vou deitar, qualquer coisa é só me chamar ouviu? - ela beijou minha testa - Durma com deus meu amor.
- Obrigada, boa noite.
Ela sorriu e saiu do quarto, durante todo esse tempo a Clara estava sentada na poltrona me olhando sem dizer nada, eu podia dizer pelos olhos dela que ela estava desconfiada de alguma coisa, e que estava matutando sobre isso.
- Ok, Clara chega de mistério, o que foi?
- Hã? O que você disse? - ela disse despertando de um transi.
- Eu disse chega de mistério, o que foi? O que tanto você pensa?
Ela se levantou, sentou do meu lado e pegou minha mão.
- Cat.. - eu sabia pelo modo que ela estava falando, que ela iria romper o acordo de assunto terminantemente proibido, era assim também quando ela falava da minha mãe - você.. Você está doente amiga.
- Eu.não.estou.doente! Meu deus, quantas vezes eu vou ter que repetir, então nossa eu estou com muita dor de cabeça e desmaiei por causa do sol, isso não é doença.
- Cat, para com isso, não foram só umas simples dores de cabeça, e não foi só um desmaio. Cat você caiu no chão gritando de dor e desmaiou, você acha que eu não vejo quando você chega tão fraca que nem janta e vai para o quarto, é porque você não se vê, mas você às vezes fica parecendo um zumbi amiga, alguma coisa está errada, e você sabe disso, só não quer me contar, e isso me assusta porque eu fico pensando o quão pior isso pode ser e você está escondendo.
Eu abaixei os olhos, eu não sei por que eu ainda tentava, eu nunca consegui esconder nada da Clara.
Ela continuou
- Cat? Você.. Você se lembra sobre o que o Henrique disse?
- Eu não quero falar sobre isso, e não eu não lembro, olha Clara está tarde e eu estou cansada, amanhã a gente conversa está bem?
- Não, vamos conversar agora, e você não vai mais fugir do assunto, você lembra o que ele disse sobre a sua transformação Cat? Sobre como iria parecer que você estava doente, e sobre como seria doloroso? Eles disseram que conseguiram adiar, mas não disseram que tinha terminado Cat, você sabe disso, e já se passou tanto tempo, quase dois anos Cat e você esteve bem todo esse tempo, o que é muito mais do que esperávamos, eu só me pergunto se, e se sua transformação está se aproximando, e seja isso o motivo dos desmaios e todas essas dores?
Eu não disse nada. Eu já tinha pensado sobre isso, mas tinha rejeitado essa ideia, eu sabia que um dia isso iria acontecer, mas eu estava lutando contra isso, tentando esquecer, tentando fingir que algo havia mudado e que eu iria continuar a mesma, e que.. Eu iria viver.
- Eu não sei Clara, mas se fosse mesmo a transformação eu estaria muito pior, eles disseram que seria altamente doloroso, e até agora tudo o que eu senti foram dores de cabeça, e tive um desmaio, eu não acho que isso se encaixe em altamente doloroso, e de qualquer forma eu ainda sou humana, tenho fraquezas humanas, como me expor muito ao sol, e estresse e não posso toda vez que eu tiver uma dor de cabeça, ou vomitar sei lá, colocar a culpa em uma transformação vampírica que nunca veio, então vamos encerrar o assunto ok? - eu mudei de posição e fechei os olhos.
- Tudo bem amiga, boa noite. - ela me deu um beijo e saiu do quarto.

Eu esperava sinceramente que não fosse à transformação, quer dizer eu não podia contar a Cláudia o que estava acontecendo, e se fosse ruim do jeito que eles haviam dito, não teria como eu esconder dela, e passar por tudo isso seria muito difícil, ainda mais sabendo qual seria o final, eu não aguentaria, e elas ficariam despedaçadas e cansadas depois de todo esforço, e de qualquer forma, o que eu alegaria para os médicos? Que eu sofria de uma transformação vampírica, por ser a reencarnação de uma vampira de verdade? E o que eles poderiam fazer? Nada. Será que eles iriam diagnosticar alguma doença ou confundirem essa transformação com uma? Se eles diagnosticassem, seria pior? Passar por vários tratamentos, vários exames, e todos não resultarem em nada.
Eu estava cansada, com medo, e não sabia o que fazer... Que grande combinação.
Se a transformação tinha começado, eu não podia fazer nada para impedi-la, o máximo que poderia fazer era esperar e me despedir de todos.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Prólogo - Blood and Thunder


Isabella:

Um ano havia se passado. Eu não tinha notícias da Catarina mais do que o Henrique me contava, que estava tudo bem, que ela parecia estar feliz, e que o mais importante ela estava segura, mas eu não conseguia ignorar o fato de que daqui a alguns meses ela vai se transformar, e isso infelizmente no caso dela implica em... morrer. É claro que eu tinha fé, ela vai sobreviver, ela é forte, saudável e esse é o destino dela.
Destino. Essa palavra trouxe a lembrança da conversa que ela e Henrique tiveram com a bruxa semana passada, ela tinha vindo avisar o "destino" da Catarina, essa palavra estava se repetindo demais ultimamente, e isso nunca é bom sinal, as lembranças começaram a voltar, e ela se lembrou da expressão da bruxa ao contar sobre a profecia para ela.
- Ao que devo a honra da sua visita? - Henrique se levantou de trás de sua mesa, e parou ao lado de Isabela.
A bruxa se aproximou e parou pouco a frente deles.
- Eu venho informá-los que o destino de sua filha foi decidido.
- O destino de minha filha? - Henrique respondeu com desdém - E o que exatamente foi decidido?
- Ela é uma "Helrem", e eu não preciso lhe explicar isso preciso?
Henrique se sentou, ele estava atônico, aquilo não poderia estar acontecendo, não com sua filha, não agora quando ele a tinha de volta.
- O que.. O que vai acontecer com ela? - foi o máximo que conseguiu dizer, sua voz agora quase um sussurro aranhava sua garganta.
- Você sabe o que vai acontecer você é tão velho quanto eu Henrique e estava aqui das últimas duas vezes em que uma Helrem foi escolhida, e em uma das vezes você observou de perto não foi? Qual foi a última? A irmã de seu pai, se não me engano.
Henrique abaixou a cabeça, aquilo tinha sido a tanto tempo, e aquelas memórias não eram as suas prediletas.
- Enfim, eu vim dar o aviso porque nós temos um acordo de paz - a voz dela implicou um desgosto ao dizer a última palavra - e sendo assim devo informá-lo quando uma decisão dessas é tomada, ainda mais envolvendo a sua filha.
- Mas e se ela morrer na transformação?
- Então outro Helrem será escolhido futuramente, mas sua filha tem um destino a cumprir Henrique e você sabe disso, muito dificilmente essa transformação irá matá-la, agora que a decisão foi tomada sua filha provará de poderes que nunca imaginou, e seu corpo será forte como nunca antes, forte o bastante para transformação.
- Mas ela irá ficar maligna como você e sua espécie. - a voz de Henrique agora era um rugido, toda a fúria depositada em suas palavras.
A bruxa se aproximou calmamente, como um leopardo ao atacar sua presa, seus olhos eram dois diamantes negros e fundos como o abismo, a ameaça implícita em cada gesto.
- Não ofenda meus irmãos em minha presença, eu não irei tolerar esse tipo de coisa, e sim talvez sua filha fique idêntica a nós, ou talvez ela continue com a mesma "personalidade" por assim dizer, a mudança virá isso é claro, mas se ela irá tender para o nosso lado, isso só ela poderá nos dizer no futuro.
- Então ela tem uma chance? - o alivio banhava Henrique como uma água morna depois de dias em um inverno pesado.
- É claro que tem todos nós temos não é? Mas os poderes farão parte dela, e ela não será mais a mesma com o tempo, mas se ela terá características nossas fortes o bastante para defini-la, isso irá depender somente dela.
- Entendo. Muito obrigada pela sua visita, e tenha uma ótima noite.
- Não é nada, uma ótima noite a você também, e faça seus preparativos, sua transformação é menos perigosa, mas o risco ainda existe e sua mudança será ainda mais dolorosa. - ela fez uma pequena reverencia - Isabella. - disse se despedindo - Boa noite.
- Obrigada pela visita - disse Isabella
A bruxa sorriu, e partiu.
Depois disso Henrique tinha lhe prometido que tudo iria ficar bem, que a Catarina era boa, era a filha deles, e que ela não iria deixar que o mal a ganhasse quando a hora chegasse, mas ainda sim o risco, e saber da dor que a filha iria passar, toda essa ideia estava martelando e tirando o sono de Isabella por todo esse tempo. Catarina teria que ser forte como nunca antes em sua vida, tempos devasto estavam a caminho. E a dor era só o princípio.

Blood and Thunder




 O Despertar 

O tempo passa. Mesmo quando isso parece impossível. Mesmo quando cada batida do ponteiro dos segundos dói como o sangue pulsando sob um hematoma. Passa de modo inconstante, com guinadas estranhas e calmarias arrastadas, mas passa. Até para mim.
(Lua Nova)