sábado, 28 de julho de 2012

Capítulo 6 - Fuga

Slash - 10. Slash - Bad Rain

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Vou voltar lá de novo 
eu vou para casa
Voltar para a casa da dor 
Você já teve um peso que era muito pesado
Você já teve um fardo que era só seu [...]
Então eu fujo
Deep Purple - House of Pain 


Joseph pegou minha mão e nós nos aproximamos.
Quando entrei no celeiro tudo estava tão diferente e tão parecido ao mesmo tempo, memórias muito além dessa vida voltaram, eu podia reconhecer o cheiro doce e esparço no ar.
Pude ver Lonrye de longe e me aproximei, ao ouvir o barulho dos meu passos ele ficou inquieto.
Quando o toquei, seu pelo era mais macio do que eu me lembrava, minha mão escorria por sua crina lentamente, seu pelo muito mais brilhante a luz da lua, ele quase não parecia real.
- Oi garoto, quanto tempo. - Ao ouvir minha voz, ele se virou buscando a minha mão. - Eu também estava com saudades
- Eu vou deixar vocês a sós, amanhã pela tarde passarei em seu quarto Catarina, tenho uma surpresa pra você e nós ainda temos muito o que conversar.
- Não posso contestar isso, tudo bem.
Joseph sorriu, travesso.
- Ah, juventude... Tantas coisas ainda iram acontecer, me sinto entusiasmado.
Arquiei uma sobrancelha.
- O que você quer dizer com isso tio? Por favor, diz que você não está aprontando nada.
- Eu? Que isso Catarina, jamais faria algo assim - Mas sua voz era cheia de um ultraje sinico.
- Claro que não - E nós sorrimos, eu não pudia nem imaginar o que ele poderia fazer, e nem queria.
Como sempre acontecia aqui, uma brisa passou e eu soube que Joseph não estava mais ali.
- Venha Lonrye, deixe-me celar você, vamos cavalgar.

Depois de Celar Lonrye, levei ele pra pista de corrida. Eu nunca havia notado isso antes, mas agora diante da pista ao lado de Lonrye pude ter noção do seu tamanho. Ela era gigante, literalmente, sua volta era a milhares de metros de distancia de onde estávamos, quase um quarteirão.
Melhor assim, hoje eu queria correr, simplesmente calvagar o mais rápido possível em cima de Lonrye e esquecer todo o resto.
Montei em Lonrye com agilidade, o movimento tão familiar quanto a respiração. Quanto tempo.
Sai em disparada com Lonrye, começamos com uma velocidade razoável, mas logo estávamos tão rápidos que tudo ao meu redor passou a ser meros borrões, nada importava, somente o Lonrye e o vento que batia com fúria em meu rosto.
Eu podia sentir a adrenalina se espalhando pela minha espinha, me encitando a ir mais rápido, mais longe e Lonrye parecia ler cada pensamento meu, pois a cada descarga de adrenalina em meu corpo sua velocidade aumentava, por um momento eu imaginei que se alguém nos visse provavelmente pensaria que estávamos voando pela velocidade em que estávamos.
Me senti livre, como a muito tempo não me sentia, aqui em cima de Lonrye, a uma velocidade assustadora, eu não me sentia sufocada e nem com medo, eu me sentia poderosa até, uma sensação abrasadora, e então para me lembrar dos meus medos a dor veio, mas dessa vez foi anunciada por um arrepio que atravessou minha espinha.
No exato momento em que minha cabeça recebeu a pontada, Lonrye estancou me jogando para longe.
Cai de costas no chão, todo o meu corpo adormeceu - provavelmente eu quebrei uma costela ou duas -, mas pior do que isso era a pontada na cabeça, parecia que alguém queria arrancar o meu cérebro, eu não suportava mais isso, porque não uma morte rápida e indolor? Por quê todo esse sofrimento? Eu realmente mereço isso?
Eu acho que apaguei - como sempre acontecia quando a pontada era forte demais - porque alguns segundos depois pude sentir mãos embaixo de mim, me puxando lentamente para cima, eu podia sentir que alguém estava chamando o meu nome de longe, mas não conseguia encontrar minha voz para responder.
Eu me levantei, ainda de olhos fechados com medo de que a pontada voltasse, aos poucos minha audição foi clareando e eu pude reconhecer de quem era a voz. Flavio. Meu coração deu uma guinada.
Eu podia sentir suas mãos em minha cintura, minha cabeça estava recostada em seu ombro e eu podia sentir seu cheiro, fiquei surpresa ao ver quão familiar ele era. Isso não devia ser assim.
- Catarina?
Eu ainda não encontrará minha voz, tentei fazer um esforço e só saiu murmúrios.
- Calma, está tudo bem... Nossa você levou um tombo feio, mas não tenha pressa, se acalme primeiro, depois você fala.
E foi o que eu fiz, respirei fundo diversas vezes, obrigando o meu batimento a reduzir, cada segundo mais devagar, até que todo o meu corpo estava relaxado e eu pude finalmente sentir a dor - definitivamente eu estava certa, devo ter quebrado uma costela.
- Ai, merda.
- É uma boa saudação, só não é muito utilizada.
Não pude evitar de sorrir.
- Me desculpe, eu acho que quebrei uma costela. Odeio isso.
- O que? Dor? - Ele riu - Você é humana, deveria estar acostumada.
- Eu sei, mas digamos que eu não sou lá muito masoquista, então não me julgue.
Ele riu: - Estava com saudades de você Catarina, verdadeiramente estava.
Eu corei, não pude evitar, afinal era Flávio e... Eu não sei, não sou muito coerênte quando estou com ele.
Eu tentei me levantar.. Claro sem muito sucesso.
- Acho que vou precisar de uma ajuda.
E seu sorriso debochado tomou conta de seu rosto.
- Eu estava só esperando você pedir, afinal sou um cavalheiro.
Bufei: - Disso não tenho dúvidas - disse, usando o meu melhor tom sarcástico.
- Vem aqui minha flór deixe-me ajudá-la. - ele disse rodiando a minha cintura com suas mãos e me levantando como se eu fosse apenas um alfinete, como se eu esperasse coisa diferente - as vezes toda essa força e rapidez me irritava, confesso.
- Minha flór? Sério?
- Desculpe se sou um homem carinhoso. - Nesse momento eu o encarei e arquiei uma sobrancelha, depois de alguns segundos começamos a rir, não pude evitar.
- Claro, claro.
- Qual o destino senhorita?
- Meu quarto, eu acho.
- Hum... Já que soa como um convite... - ele sorriu malicioso.
- Flávio contenha-se eu provavelmente estou com uma costela quebrada, ao menos respeite uma alejada.
Ele soltou uma gargalhada.
- Respeito é quase o meu nome quando se trata de uma dama Catarina, você deveria saber disso - ele me encarou, e ficou assim por alguns segundos até que desviei os olhos, a dor na costela era uma boa distração.
- É claro, jamais duvidaria disso, agora será que eu posso deitar, porque sinceramente está doendo.
- Me desculpe, um segundo.
E realmente só levou um segundo, como eu disse toda essa coisa da rapidez, leve como uma brisa era seguido ao pé da letra nesse lugar.
Eu pisquei e estava sendo deitada sobre minha cama.
Ele sentou ao meu lado e ficou me olhando, depois de alguns segundos seu dedo percorreu todo meu rosto, da altura dos cabelos até a mandíbula. Um arrepio passou por mim, e isso teria sido bom se eu não estivesse com dor.
- Eu realmente senti sua falta Catarina, não deveria ter ido embora sem se despedir, você feriu meus sentimentos... - Eu o encarei encrédula e culpada ao mesmo tempo, depois de alguns segundos ele sorriu - Sua sorte é que eu sou muito bondoso e relevei, já está perdoada. Não sou muito de guardar rancor.
- Mas você é um vampiro, pensei que fosse como em um dos filmes de livros da Anne Rice "Vampiros não resolvem desentendimentos, vampiros guardam rancor e se vingam", algo do tipo - eu disse rindo.
- Mais ou menos - ele sorriu - Aquela mulher realmente me entende, se ela fosse um pouco mais bela na juventude eu teria dado um pequeno gostinho a ela.
- Você já a conheceu? - eu perguntei incrédula.
- Já a vi, é claro, e um dos meus conhecidos por assim dizer se envolveu com ela, afinal de onde você pensa que veio todas as histórias? Afinal, mesmo com as lendas ela não teria tanta criatividade para nos imaginar como realmente somos sem nenhuma influência nossa.
- OH.MEU.DEUS, então a Anne Rice se envolveu com um amigo seu? Devo dizer que ela tem mal gosto ou isso soaria como ofensa? - eu sorri brincalhona.
- Você já perdeu pontos demais comigo partindo do que jeito que partiu, não abuse mais.
Eu ri. Isso foi uma péssima ideia, eu realmente tinha quebrado alguma coisa. E essa dor deve ter ficado visível em meu rosto porque Flávio logo se levantou e saiu pela porta em um daqueles movimentos rápidos que me irritava. Dois minutos depois Hevi, minha mãe e Clara entraram lado a lado com a preocupação estampada em seus rostos.
- Você chegou não tem dois dias e já se machucou Catarina? - Minha mãe falou apreensiva.
- Foi acidente? - eu disse, mas soou mais como uma pergunta.
- Espero eu que sim, não quero você metida em problemas, por favor.
- Foi um acidente mãe, eu estava montando Lonrye e ele se assustou, foi só isso. - No momento em que eu disse isso eu me arrependi, minha mãe estava em pé ao meu lado me apertando por todo o corpo, provavelmente procurando focos de dor e no momento em que eu disse isso ela parou e me encarou.
- Como é? - ela arqueou a sobrancelha.
- Não foi nada demais mãe, como eu disse eu estava montando Lonrye e ele se assustou, foi apenas isso, não se preocupe, provavelmente é só enfaixar, colocar gelo e eu estarei nova - eu tentei sorri, não devo ter me saido muito bem porque a expressão no rosto dela não melhorou.
- Você caiu montando Lonrye? - Eu sabia que tinha algo a mais por trás da pergunta, mas apenas assenti, não queria me aprofundar nesse assunto, ainda mais com a dor piorando. - Tudo bem, Hevi traga-me um pouco de gelo, algumas toalhas, ataduras e peça para alguém fazer algo para ela comer.
- Sim senhora, já volto.
Clara sentou do outro lado da cama e me deu a mão.
- Qual o seu problema? Não consegue ficar sem arranjar uma forma de sentir dor um minuto? - Clara me olhou visivelmente zangada.
- A culpa não é minha e nem de Lonrye, como eu disse antes FOI.UM.ACIDENTE. - eu disse lentamente, destacando cada palavra - Então sendo assim, não precisa se preocupar.
- Quando você diz para eu não me preocupar, é nesse momento em que eu realmente me preocupo.
Segurei o riso, porque por experiência adquirida recentemente, esse movimento doia mais do que os outros.
Hevi voltou com tudo o que minha mãe havia pedido mais rápido do que eu esperava - como sempre. E depois de uma inspeção rigorosa da minha mãe sobre o meu corpo procurando novos focos de dor, ela me enfaixou na altura da cintura, bem em cima das costelas - como eu desconfiava - , me deu uma sacola de gelo para eu por em cima e me forçou a comer tudo o que estava no prato quando uma senhora - aparentemente humana, o que me sobressaltou - entrou no quardo trazendo uma bandeja com minha comida e um suco. Depois de comer e beber tudo, eu me deitei e elas sairam do quarto. Clara iria ficar andando com a Hevi e minha mãe iria atrás do meu pai para tirá-lo do escritório e forçá-lo a descançar.
Afundei nos meu travesseiros procurando uma posição confortável, a costela não doía tanto, mas definitivamente incomodava quando eu ficava em uma posição errada ou tocava onde não devia.
Eu achava que iria demorar para pegar no sono, mas tão logo eu fechei meus olhos, eu já estava subemerssa.