segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Capítulo 24 - No Luto

03-kings_of_leon-pyro

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Agora não há nada além do tempo desperdiçado
E palavras que não têm sustentação
E agora parece que o mundo inteiro está esperando
Você pode ouvir os ecos desaparecendo?
No luto, vou subir
No luto, vou deixar você morrer
No luto
Toda a minha desculpa


(In the mourning – Paramore)

Depois do banho eu voltei para o meu quarto e me deitei, havia muitos pensamentos em minha cabeça que precisavam ser postos no lugar.
Primeiro, eu vou me tornar uma vampira e eu posso morrer. No começo, quando eu ouvi isso do lado de fora do escritório de Henrique, a ideia de morrer foi assustadora, havia tantas coisas na minha vida que eu ainda não havia feito, coisas que não haviam sido ditas e vividas, mas depois do que passei naquele deposito, o meu corpo não se arrepia mais com essa ideia, eu não tenho mais medo da morte, porque depois de chegar tão perto dela, só posso dizer que ela é incrivelmente calma e confortante.
Segundo, Flávio me beijou, eu me lembro claramente agora, e embora não seja uma cena das mais lindas contando que eu estava com o sangue dele em minha boca, seu beijo foi...Foi delicado, calmo, levando uma onda de paz por todo o meu corpo, foi ótimo, mas eu não sei o que isso significa. Flávio pode ter se tornado um cara legal durante esse nosso tempo de convívio, mas ele ainda é o Flávio, o mesmo que me ensinou na minha primeira noite aqui, que se deve temer os vampiros tanto quanto aceitá-los, e eu sei que ele tem um lado obscuro assim como tem um bom. E Pedro.
Terceiro, Pedro, impressionante como em todos os meus pensamentos e dilemas desde que o conheci, ele sempre está incluído. Eu simplesmente não consigo esquecê-lo, ou não mencioná-lo nos meus pensamentos, é espontâneo, todo o meu corpo anseia por ele, mas minha razão ainda me diz que ele ainda ama a Katherine. Eu sei que ele me ama também, eu sinto isso agora, mas não sei se é o bastante, eu não sei se eu quero me apoiar nisso para estar com ele, porque eu o amo com todas as minhas forças, e o amor dele pode não ser tão grande. E claro, com Pedro vem à complicação chamada Emily, minha querida e incrível prima, que eu gostaria de enforcar na maioria das vezes em que nos vimos. E somando tudo isso vem o fato de que no final, tem grandes e consideráveis chances de eu sair dilacerada. E eu...Não sei se aguentaria perdê-lo mais de uma vez.
Uma batida na porta interrompeu meus pensamentos.
- Entre
 Era Isabela, linda e jovem como sempre.
- Bom dia minha filha, eu vim ver se estar melhor e se quer almoçar. – ela sorriu se aproximando da cama.
- Estou bem melhor, e sim acho que almoçar seria uma boa ideia – eu sorri
- Tem certeza de que está bem? Quer dizer você passou por muita coisa Catarina, você é apenas uma menina. – ela abaixou a cabeça e uma onda de dor passou por seus olhos.
- Isabela eu estou bem, eu confesso que não são as minhas melhores lembranças – eu soltei um riso nervoso – Mas eu já estou de volta, com a Clara me sufocando com o seu abraço e gritando comigo, você toda preocupada, eu já me sinto em casa, e essas lembranças já estão enterradas e esquecidas.
Ela sorriu, um sorriso tão grande que criou covinhas, e em seus olhos o alívio.
- Que bom minha filha, então quer que eu traga o almoço, e chame a Clara?
- Ela ainda não almoçou?
- Não, ela quis esperar você acordar.
- Ah, então tudo bem pode chamá-la.
- Ok
Isabela saiu em segundos do meu quarto, me deixando sozinha com meus pensamentos novamente.
Eu sincera mente não sabia o que eu ia fazer, mas antes de tomar decisões eu preciso me alimentar, uma pessoa nunca consegue pensar com fome.
Clara entrou com nossos pratos e os sucos em uma bandeja, a gente comeu mais rápido do que eu imaginei que fosse possível.
Depois de deitar sobre a cama, e ouvir a Clara falar sobre como sua montaria está quase excelente, e como ela viu o vampiro mais lindo do mundo, mas obviamente não foi falar com ele, em relação aos vampiros sempre fica aquela onda de tensão e perigo, e isso só me diz que ela não vai desistir tão cedo, nunca vi uma pessoa tão atraída pelo perigo como a Clara. Desde os quatros anos dela, tudo o que ela faz é ir atrás do que pode matá-la, como pular do escorrega mais alto aquela vez no parquinho só porque ela ouviu um menino dizer que o primo dele quebrou um braço quando caiu, foi impressionante, ela riu e disse que ia cair em pé como uma pantera. Ela assistia filmes de espiãs demais. Ela só conseguiu deixar a mãe dela e a minha desesperadas quando ela caiu de cara e levantou com a boca cheia de areia. Eu ri com esse pensamento.
Nós decidimos dar uma volta, andar pelos corredores, sentar no gramado, ver o sol, o pessoal aqui não curte muito ficar bronzeado. Ok. Isso foi uma piadinha de mau gosto da Clara.
Chegamos a um jardim na parte lateral da mansão, ele tinha flores lindas suas cores era uma mistura perfeita de amarelo, rosa e violeta. E onde estávamos conforme anoitecia, a visão para o carvalho era perfeita.
- Eu adoro aquele carvalho, ele é tão livre e solitário, mas lindo. – eu disse meio que para mim mesma.
- Ah claro, eu ainda prefiro aquela visão que eu te disse no quarto, é muito mais interessante na minha opinião – ela me deu um sorriso malicioso.
- Clara, eu não vou bancar a amiga chata e dizer “vai com calma”, mas nesse caso eu tenho que dizer com ênfase “por favor, vai com calma, ele é um vampiro, e você não é muito experiente nesse tipo de relação pelo visto”.
- Sério? É claro que eu sei disso Cat, relaxa! Eu estou só admirando a distancia, como uma flor venenosa, você adora olhá-la, mas sabe que tocá-la tem consequências.
- É por ai, ainda bem que você entendeu o recado. – Eu ri – Você e sua mania de fazer coisas que podem partir sua cabeça no meio, e depois eu que sou louca. – eu bufei
Ela riu e se jogou no meu colo.
- Eu posso ser um pouco louca, mas o que é a vida sem a loucura? E que loucura, nossa Cat, você tinha que ver aqueles braços. – ela mordeu os lábios e encarou a sua frente, como se estivesse repassando toda a cena novamente.
Eu ri
- Tenho certeza de que são “de matar” se é que me entende.
Ela caiu na gargalhada – Nossa, você é péssima em trocadilho, tinha que parar de tentar fazer isso Cat.
Nós estávamos rindo uma sobre a outra quando Isabela se aproximou, e me contou a pior coisa que eu poderia ouvir em toda a minha vida.
- Catarina, posso falar com você um minuto? – Ela parou em pé na nossa frente.
- Claro Isabela, o que houve?
Ela abaixou o olhar.
- Clara, eu vou precisar de você.
Clara olhou para mim e depois a encarou
- Sim pode dizer, aconteceu alguma coisa?
Isabela se sentou ao meu lado e pegou minha mão, todo aquele suspense e atitude dela, estavam mandando arrepios por toda a minha espinha.
- Catarina, eu não trago uma notícia boa, na verdade...Você vai ter que ser forte. Muito forte.
- Isabela, o que aconteceu? Você está me assustando.
- Catarina, sua mãe...Ela morreu. Eu sinto muitíssimo, nós fizemos de tudo para protegê-la e achamos que tirando você de lá, ela estaria em segurança novamente, mas...Não saiu como esperado, as pessoas acham que foi um acidente de carro, mas na verdade...Meu deus, foi obra de Carlos.
Ela ficou em silêncio por alguns minutos, e eu não disse nada. Eu não simplesmente não sabia mais como falar, eu não conseguia nem respirar, quer dizer minha mãe morta? Minha mãe? Que fazia bolo de cenoura com cobertura de chocolate e deixava eu me lambuzar inteira e sempre me dava um pedaço escondido de todo mundo antes do bolo ficar pronto. Minha mãe que segurou minha mão o tempo inteiro quando eu quebrei o meu braço e achei que aquela fosse a pior dor da minha vida. A minha mãe que cantava para eu dormir quando eu tinha pesadelos. A minha mãe que eu amava e que dormiu no hospital quando eu sofri o acidente, sem sair do meu lado um minuto. A minha mãe que nunca me abandonou. Meu deus, isso não podia estar acontecendo ela não pode ter morrido, é a minha mãe!!
A minha mãe linda, e instável, e maluca, e que adorava gritar e tacar pipocas em mim e na Clara, quando ela queria ouvir a tv e nós ficávamos tagarelando.
A mesma mãe que eu abandonei achando que estava protegendo ela, todo esse tempo eu tenho me segurado, me impedindo de voltar e correr para os braços dela, tenho me agarrado ao fato de saber que se eu voltasse ela estaria em perigo, e agora de que serviu tudo isso? Se na hora que ela mais precisou eu não estava lá? E minha irmã? Meu deus! Minha irmã!
- Isa...Minha irmã? Minha irmã? Onde ela está? – Meus olhos arregalados e úmidos, pelo meu corpo todo o desespero enviando um nó pela minha garganta me impedindo de pronunciar qualquer coisa.
- Ela está bem Catarina, ela não estava com a sua mãe, Graças aos céus, ela estava com a mãe da Clara, e agora ela está cuidando dela.
Ainda bem, por um momento uma onda de alívio como nenhuma outra ultrapassou pelo meu corpo, minha irmã estava viva, minha irmãzinha, está bem.
Mas a ideia de nunca mais ver a minha mãe, estava me sufocando, eu precisava gritar, mas não tinha voz, eu precisava sair correndo, eu precisava da minha mãe comigo, gritando falando para eu abaixar a música, ou falando sobre o quanto eu estava atrasada e como ela seria chamada no colégio se eu continuasse assim.
Eu me levantei e caminhei cambaleante, minha visão turva e embasada, eu não conseguia ver muito bem nada que estava a minha frente, eu caminhei. Só caminhei, sem direção, só andei tropeçando nos meus próprios pés.
Minha mãe tinha morrido, e com ela se foi toda a humanidade e esperança que ainda restava em mim. Eu estava sozinha.