quarta-feira, 6 de junho de 2012

Capítulo 5 - Possibilidades

coldplay-violet hill

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Eu precisava de um lugar para me enforcar
Sem o seu laço
Você me deu algo que eu não tinha
Mas que não teve uso
Eu estava fraco demais para desistir
Forte demais para perder
O meu coração está preso de novo
Mas eu me libertarei
Minha mente me oferece vida ou morte
Mas eu não consigo escolher
Eu juro que nunca vou desistir

(Best of you - Foo Fighters)




- Tio, eu tenho uma duvida a muito tempo eu me pergunto isso.. Como você pode me ver tão facilmente, tão transparente.. sei que é causa dos seus dons, então me pergunto.. Como eles funcionam?
Ele pegou minha mão.


- Vamos caminhar.. – Quando estávamos quase dando a volta na mansão ele começou a falar – É complicado, entenda Catarina, nós os governadores da ordem não temos o costume de definir nossos poderes, porque defini-los seria limitá-los e torná-los previsíveis, assim seriamos facilmente abatidos por nossos inimigos, por isso mantemos cautela sobre isso, nós mesmos não sabemos até onde se estende o poder do outro, imagino que só quem compartilhe de tais informações são nossas esposas, o que é o amor se não total submissão? – Ele sorriu olhando o céu, imaginei quais lembranças deveriam estar inundando sua mente nesse momento, como ele mesmo disse ele é muito mais velho do que posso imaginar. Com esse pensamento não pude evitar lhe perguntar.
- Tio, você me disse que é muito mais velho do que posso imaginar e confesso que até esse momento eu não tinha pensado sobre isso, quantos anos você tem?
- Não sei ao certo, certa de séculos e séculos, naquela época – assim que completei minha transição – o tempo se marcava diferente, e estávamos no meio de uma guerra, tempo não era necessariamente uma prioridade. Mas já vi muitas coisas minha querida, reinos, crenças, templos e até supostos deuses caírem.
- Nossa, e eu com meus míseros quase dezoito anos – Nós rimos.
- Eu me lembro de minha juventude, não foi fácil Catarina, e o que eu vou te revelar agora deve ficar entre nós, mas nosso pai foi o primeiro vampiro, só quem compartilha dessa informação são as bruxas anciãs, ele foi amaldiçoado pelos espíritos, amaldiçoado a vagar pela terra eternamente até que tivesse mudado e se redimido de seus pecados, entenda Catarina nosso pai era um selvagem, um homem horroroso sem coração, que pegava o que queria e quando queria, por isso os espíritos o tornaram um predador, em um selvagem como ele realmente era, quando foi amaldiçoado a beber sangue, viver eternamente, e se enfraquecer no sol, ele também foi consagrado com a intensificação de todos os seus sentidos, força, velocidade, olfato e tudo isso para ele foi um presente. – ele bufou – Você pode pensar “porque eles deram tal poder a ele afinal, se era uma maldição?”, mas é porque eles tinham que manter o equilíbrio, entenda, eles não podem enfraquecer e punir um ser sem dar lhe algo em troca, e eles escolheram o poder, muito boa escolha afinal não há modo mais rápido de destruir uma pessoa ambiciosa, cruel e arrogante do que lhe dando poder, porque ela mesmo irá se afundar e se sufocar.
- Então quer dizer que seu pai foi amaldiçoado? E vocês carregaram essa maldição até hoje? Isso não é Justo. Quer dizer não que eu ache isso ruim, vocês são pessoas boas, que não se alimentam de humanos, por isso não considero isso como maldição, mas como um presente também por serem quem são, mas daí... não seria injusto com vocês?
- Eu entendo seu ponto de vista, mas os espíritos tinham que punir meu pai e a maldição se estende por toda a sua linhagem.
- Mas tio se... Se seu pai era tão ruim, o que levou sua mãe a ficar com ele? Quer dizer, desculpe, mas ela realmente se apaixonou por alguém assim?
- Não minha cara, minha mãe foi abusada por meu pai, e obrigada a viver com ele a força, ela era uma mulher incrível, sua beleza era indescritível, somente o seu andar já te encantava, ela era mesmo um anjo em carne humana, e meu pai quando a viu a quis no mesmo instante e como o selvagem que era a torturou durante toda a vida, durante toda nossa infância nossa mãe tentou nos ensinar a respeitar nosso pai, sempre dizendo que o amava, que ele tinha um lado bom, isso tudo em uma tentativa de evitar que nós nos revoltássemos, só no futuro ela me contou o que realmente aconteceu, foi quando eu e Henrique o matamos... Carlos, bom, ele sempre foi o queridinho de nosso pai, quando Henrique nasceu minha mãe não saia de perto dele, imagine ter que viver com um homem a força e ainda suportar que ele toque seu filho, mesmo sabendo que também é filho dele, minha mãe costumava dizer que não podia colocar um anjo nas mãos de um demônio – ela era mesmo uma mulher incrível – Bem, com isso quando Carlos nasceu meu pai permitiu que ela ficasse perto dele somente durante o tempo em que tinha que amamentar, quando Carlos cresceu o suficiente e já andava, meu pai o tirou de perto dela, o levou pra longe, para morar com ele em um chalé que ele ficava quando ia caçar. Minha mãe entrou em desespero, quase morreu doente depois da partida de Carlos, foi quando ele a transformou, ele dizia que sua beleza era demasiada para ser desperdiçada, mas ainda sim ela estava doente na alma, Henrique costumava me contar que ela sentava na janela e ficava olhando, cantarolando cantigas de ninar – Joseph desviou os olhos, como eu... Ele também tinha dores para enterrar, mas logo voltou ao assunto – Enfim minha cara, algum tempo depois meu pai trouxe Carlos de volta, agora era um menino e um capacho de meu pai, depois disso eu nasci e Carlos se revoltou com a atenção que minha mãe direcionava a mim, e com isso ficou ainda mais próximo de meu pai, o que foi seu erro, eu podia ver em Carlos a semelhança com nosso pai, ele também estava se transformando em um monstro, desde pequeno Carlos demonstrava claramente sua crueldade, nossa mãe fingia não ver por amor é claro. E depois disso nós passamos pela transição e nos tornamos mais fortes do que nunca e com o tempo paramos de envelhecer foi assim que minha mãe descobriu que tínhamos puxado a nosso pai, minha transição veio um pouco depois e foi muito mais dolorosa, como eu nasci com minha mãe já vampira eu não tinha nenhuma parte humana o que dificultou ainda mais o meu controle contra o sangue, mas com o tempo eu consegui lidar com isso. Até esse momento nossa relação era tolerável, mas tudo se desfez quando nos mudamos para uma aldeia perto do norte dos estados unidos, nós nos mudávamos frequentemente, mas nunca fazíamos contato com ninguém, até que meu pai decidiu que era hora de Henrique escolher uma esposa, e então sua mãe foi prometida a ele, a mais bela da aldeia, sua mãe é realmente formidável, mas entenda só depois descobrimos que Carlos mantinha um romance escondido com ela, e quando soube do casamento tentou matar Henrique, de nada adiantou, implorou a nosso pai que mesmo relutante em aceitar, a fazer os caprichos de seu filho favorito não pode permitir, afinal quando ele dava sua palavra ele nunca voltava atrás, e Henrique era o filho mais velho era dele a preferencia, e então ele tentou fugir com ela, mas meu pai descobriu e o humilhou – meu pai era um tirano e mesmo com Carlos ele nunca deixou de ser cruel a diferença era que Carlos sempre achou isso certo até esse momento é claro - Meu pai o expulsou da nossa família, o mandou viver a vida dele sozinho, longe de nós e caso o visse novamente iria matá-lo, essa era a forma de piedade de nosso pai, com certeza se fosse eu ou Henrique ele nos mataria naquele momento. E nessa época nosso pai já era dono de grandes terras durante todo o mundo, e tinha milhares de relações fora do casamento com a nossa mãe - se é que aquilo foi um casamento, na minha opinião foi uma prisão – e com isso milhares iguais a nós já existiam, e já tinham criados novos vampiros, nossa raça já era demasiadamente grande e estava chamando muita atenção, então quando descobrimos o que ele realmente tinha feito a nossa mãe e o matamos, nós assumimos o controle, matamos todos os vampiros sedentos de sangue e ensinamos os que eram dignos, pra que esses dignos ensinassem os outros de sua linhagem e assim se seguiu, ficamos anos sem notícias de Carlos até que ele tomou conta de quase toda a Europa criando seu próprio exercito, no começo tentamos conversar.. E fizemos uma trégua, o colocamos ao nosso lado na ordem, mas mais tarde quando ele descobriu que matamos o nosso pai por causa do que ele tinha feito a nossa mãe, ele a matou e com isso declaramos guerra no mesmo momento, e até hoje estamos aqui, essa guerra se estendeu todo esse tempo porque Carlos possui dons muito formidáveis, e tem ao seu lado muitas bruxas, e infelizmente para nós essas não são bruxas comuns, elas mexem com magia negra, são capazes de qualquer coisa e não possuem escrúpulos assim como ele, por isso fazem um belo casal - ele bufou.


-Mas se elas são tão fortes assim, como ele ainda não nos derrotou? - um arrepio crepitou pela minha espinha.


- Porque não existe só magia negra minha querida, os espíritos equilibram tudo assim como eu disse, e sem o concentimento deles nada pode ser alterado, e eles não tinham escolhido um lado...Pelo menos não até agora - ele pareceu estar no meio de uma confusão, seus olhos se desviaram do meu rosto e por um momento uma máscara de dor tomou lugar da serenidade que eu tanto admirava - tempos devastos virão, mas pelo menos depois teremos algum alívio - ele sussurrou baixo demais, não sei se queria que eu ouvisse.


- Nossa Joseph, estranho que eu fiquei aqui todo esse tempo, mas nunca me perguntei sobre isso, sobre como tudo começou, acho que é porque eu era muito ligada as histórias que hollywood conta. – Bufei – Mas, nossa eu tenho tantas perguntas, primeiro o que você quis dizer com "tempos devastos virão?” O que vai acontecer? – Henrique se enrijeceu.
- Com o tempo você saberá, isso não é assunto para tratar agora.
- Joseph, mas do que você está falando? Quer dizer que assunto.. - mas antes que pudesse continuar ele me interrompeu.
- Vamos pular esse assunto Catarina, você disse que tinha muitas perguntas... Vamos para próxima.
- Hã... Tudo bem - parei um segundo para poder organizar toda aquela informação - Como Carlos teve coragem de fazer isso, depois do que o pai de vocês fez a ele, e sem falar que a sua mãe pelo o que me diz era uma mulher amável, que se preocupava com ele e o amava, era pra ele ficar ainda mais revoltado com o pai, e não matá-la para se vingar, o que ele tinha na cabeça?


- Catarina entenda que desde pequeno o Carlos foi criado por nosso pai para odiar nossa mãe, nosso pai o criou para ser filho dele, somente dele e de mais ninguém, ele nunca partilhou Carlos com a minha mãe, ele nunca permitiu que ela se aproximasse demais.


- Que horror, e é muita injustiça dos espíritos amaldiçoar uma pessoa para puni-la e fazer com que outras pessoas inocentes tenham que pagar por isso, sua mãe não merecia a crueldade do seu pai, e ainda sim os espíritos não fizeram nada, mas afinal porque ela nunca tentou fugir? Quer dizer, não é possível que ela tenha simplesmente aceitado isso.


- No início ela não fugiu porque ele matou toda a sua família depois que a pegou, meu pai era sedento por sangue, ele simplesmente matava quando tinha vontade ou sede, as vezes por pura diversão. Logo depois minha mãe pensou em fugir, mas nós já erámos nascidos, ela sabia que não teria como ir muito longe com a gente e meu pai disse que se ela fugisse ele mataria a todos nós, mas por outro lado se nos deixasse ela sabia que nós acabaríamos ficando igual a ele, como eu disse ele era um selvagem não um pai. E então ela ficou, aguentou sua crueldade por todos esses anos. Bom, pelo menos conseguimos dá-la uns anos de paz depois que o matamos.


- E...Joseph, Como minha mãe pode se apaixonar por Carlos? Ele, um ser tão desprezível, capaz de matar a própria mãe, como... Ela realmente o amou? Como ela pode fazer isso? – Meu rosto agora era de desprezo, eu amava Isabella, mas só de pensar que ela pode ter amado um homem assim, ter considerado se casar com ele, é... extremamente decepcionante, e posso dizer até assustador, é como se ela fosse outra Isabella e eu não a conhecesse mais.


- Catarina não julgue sua mãe tão precipitadamente, acho que só ela pode lhe explicar isso, mas saiba que nós conhecíamos um lado do Carlos que ele não mostrava pra ela, e acredite em mim ele poderia ser incrivelmente gentil e encantador quando queria algo.
- Ainda sim.. enfim, deixe isso pra lá, ela teve os motivos dela e isso foi a muito tempo não cabe a mim questionar o porque.


- Isso mostra o quão madura você é.
- Mas tio você não respondeu minha pergunta, quer dizer... Você não precisa me dizer o quão poderoso você é, só... Me diz como seu dom funciona? Quer dizer, você sabia todas aquelas coisas sobre mim, sobre como eu estava lidando com isso, sem eu fazer ou dizer nada apenas me olhando.. Como?
- Porque eu posso ver cada sentimento que você já teve, cada vez que você o reprimiu, posso ver nitidamente suas reações a eles, não posso controlá-los, mas por vê-los eu posso te confundir, posso fazer você achar que na verdade o que você sentiu foi outra coisa, posso inverter as razões.


- Mas, calma..O Henrique também não tem o mesmo dom?

- Sim, mais ou menos.. Até onde sei, o dom dele não é somente ver as emoções isso é um bônus, o real dom dele é plantar sentimentos em você, mas ele é forte.. Ele pode criar um sentimento de toda uma vida em você por uma pessoa que você nem ao menos conhece, e ver os seus sentimentos facilita a manipulá-los.
- Nossa, mas então o seu dom é ser capaz de fazer uma pessoa achar que ela sentiu aquilo por outros motivos, ou na verdade faze-la achar que ela só pensou ter sentido aquilo, mas que na verdade foi outra coisa, deixá-la confusa? Basicamente enquanto ele mexe com as emoções, você mexe com a razão? Uau. É tudo tão complexo, são tantos lados para se considerar, tantas possibilidades.
-Obrigada, é um dom bem sutil, e muito subestimado confesso, mas sim é basicamente isso. – Pelo modo que ele falou eu pude sentir que ele estava me escondendo alguma coisa, e me perguntei até onde o poder dele realmente ia.
-Acho que já chegamos ao nosso destino, há alguém que sentiu muita a sua falta.



Nós paramos em frente ao celeiro, eu nem percebi o quanto tínhamos andado.
Lonrye.
E eu senti um aperto em meu peito, tudo aqui despertava tantas saudades.