segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Capítulo 7 - Gelo Derretido

Florence And The Machine - Cosmic Love

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Tirei as estrelas dos meus olhos
E, então, eu fiz um mapa
E sabia que de alguma maneira
Eu poderia encontrar o meu caminho de volta
Então eu ouvi o seu coração batendo
Você também estava na escuridão
Então, eu fiquei no escuridão com você

(Florence and the machine - Cosmic Love) 


Na manhã seguinte quando acordei, quase não sentia dor, apenas um leve desconforto ou alguma fisgada quando tocava ou ficava em uma posição errada.
Levantei, tomei um banho e depois de me vestir comi o café da manhã que estava servido em cima da mesa para mim -provávelmente minha mãe se encarregara disso.
Nesse intervalo Hevi apareceu em meu quarto e me disse que meu pai queria me ver. Eu fiquei um pouco nervosa, afinal Henrique e eu tinhamos um relacionamento intrigante, os dois com dificuldades para expressar sentimentos - o que eu provávelmente herdei dele, é uma ótima explicação -, os dois com dificuldade com as palavras, enfim éramos parecidos demais, o que tornava nosso relacionamento intenso, mas lento aos olhos das pessoas de fora.
Fui ao seu encontro - no seu escritório como sempre, as vezes parecia que ele nunca saia de lá.
Quando entrei uma sensação de familiaridade tomou conta de mim, quase tudo estava a mesma coisa, tirando alguns quadros que haviam sido substituídos e alguns livros que haviam sido acrescentados, o lugar era o mesmo, até o seu cheiro era o mesmo, o que era sem dúvida reconfortante.
- Oi Catarina, lamento ser o último a poder te encontrar, eu fui ao seu quarto ontem lhe ver a noite, mas você já estava dormindo e eu não quis despertá-la.- Eu não fazia ideia da saudade que sentia dele até vê-lo, ouvi-lo falando com toda a sua formalidade incoerente, ou talvez eu soubesse e apenas tenha enterrado com todo o resto, o que importa era que ele estava aqui agora e essa constatação fez brotar um lindo e largo sorriso no meu rosto, que claro eu só reparei quando pude ver outro nascendo no rosto de Henrique, definitivamente éramos como ímas, se um se aproximasse invariavelmente o outro iria se aproximar também, quando um recuava o outro recuava por instinto, mas os dois guardavam o desejo de se unir.
- Não se preocupe com isso pai, e como você está?
- Estou... Bem, as coisas estão correndo mais devagar do que eu esperava, então isso se mostra uma coisa boa. - Eu pude ouvir a frustração em sua voz, provávelmente causada pelo o estresse da guerra interminável com aquele bossal do Carlos.
- Problemas com Carlos claro. - suspirei - Pai isso nunca vai acabar? Quer dizer o que vocês precisam para isso parar? Para acabar com ele de uma vez por todas.
- Catarina as coisas não são simples assim, estamos em maior número claro, mas o Carlos tem mais bruxas em seu poder e com isso não podemos competir, não vou colocar toda uma ordem em risco sem uma porcentagem maior de ganharmos, não vou sacrificar vidas em vão, não sou o Carlos, esse é nosso povo, nossa espécie, temos de preservá-la, cuidar uns dos outros. - Ele passou as mãos pelos cabelos, claramente tenso com toda a situação - Todo o conselho da ordem está um caos, uns querem ir para guerra sem se importar com as consequências, acabar com isso de vez, outros querem esperar, continuar levando a situação na maneira que der, esperando por um deslize de Carlos, todos sabemos que ele é inteligente e ousado, mas por todos esse anos seu descuido tem sido constatado claramente, mas pode ser que quando ele cometa esse descuido já seja tarde demais para fazer alguma coisa, e enquanto estamos aqui Carlos está fazendo família reféns, seus soldados estão torturando civis inocentes, e fazendo coisas piores que não preciso comentar.
- O que eles estão fazendo? - perguntei apreensiva, a raiva e a fúria borbulhando dentro de mim.
- Houve relatos de sequestro, de estupro de jovens que ainda não passaram pela transição. Seus pais estão em cima da ordem e com razão, eu enlouqueceria se algo parecido acontecesse com você, isso já foi longe demais, Carlos não está mais em busca de poder para causar guerra, isso ele já tem, ele agora está apenas nos ensitanto a dar partida a ela, a ir para a batalha, ele sabe que está em vantagem e a cada relato fica mais difícil conter o conselho, e me conter ao mesmo tempo, não posso deixar que ele faça isso, que ele permita e pratique atos como esses a jovens inocentes que nada tem a ver com isso, não posso ficar de braços cruzados.
- Aquele bossal nojento! - minha respiração estava acelerada, meu coração batia rápido demais, a fúria e o ódio borbulhavam dentro de mim, de repente pela primeira vez eu pude tomar ciencia de uma consciência a mais, um lado obscuro por assim dizer, uma pequena voz na minha cabeça me dizendo para arrancar os olhos de todos eles e beber seu sangue, eu nunca havia tido nenhum instindo ou reação como essa, e por ser nova não pude controlar, ela incitava o ódio e o ódio queria sair, ele precisava sair, quando tive consciencia dos meus atos, eu já havia socado a parede e aberto um buraco nela. Henrique só ficou me encarando durante os segundos em que eu retomava o controle, no seu rosto a surpresa e a apreensão estampadas, como se de alguma forma ele já esperasse por isso. - Me desculpe, eu...Hã...Eu não posso acreditar que essas coisas estejam acontecendo. Ele não pode mais fazer mal as pessoas e ficar por isso mesmo!
- Eu sei Catarina, eu sei.. - ele disse completando com um suspiro.
- E o que você pretende fazer? Vocês tem um plano? Pai, você não pode ficar esperando pelo deslize dele, porque pode nunca vir, ou como você mesmo disse pode vir somente quando for tarde demais, eu sei que é perigoso e suicídio, mas precisamos fazer alguma coisa.
- Catarina... - sua voz soou mais cansada do que um dia eu já havia escutado - As coisas vão se resolver, em breve, eu não queria que fosse dessa forma, mas finalmente as bruxas anciãs decidiram tomar uma atitude e a decisão foi tomada.
- O que você quer dizer com isso? Que decisão?
- É complicado demais, você não entenderia meu amor, mas as coisas vão mudar em breve, logo logo estaremos marchando para batalha, espero eu que seja para vencer.
- Pai não sou uma menina indefesa de cinco anos de idade, então não me trate como uma, sou perfeitamente capaz de entender, claro, se você me explicar. Então vamos.. Que decisão? - Henrique me encarou por alguns segundos, provávelmente decidindo se eu era ou não capaz de entender e depois de algum tempo vendo a determinação estampada em meu rosto acabou cedendo.
- Existe um mito em nossa história que fala sobre "Helrens". O Helrem é um ser híbrido que pode nascer tanto das bruxas quanto dos vampiros e ele é escolhido pelas bruxas anciãs para depois da transição herdar poderes que somente elas conhecem, eles podem se comunicar com elas e ficar a par do futuro, os poderes do Helrem não tem limites, até hoje ninguém foi capaz de descobrir tudo o que eram capazez de fazer.
- Nossa, mas qual o problema? Afinal o que eles tem haver com a Guerra?
- O problema é que... Helrens não são muito estáveis, a questão é que..- eu nunca vi o Henrique lutar tanto com as palavras e não conseguia entender o porque disso. - As bruxas tem por natureza um instindo malígno e dependendo da bruxa é muito fácil ser corrompida por um demônio e se envolver com magia negra, o Helrem sendo um híbrio herda as características de ambas as partes, e isso é preciso por causa da balança, um ser tão poderoso não pode ser totalmente malígno, ou totalmente bom, o fato dele se tornar um híbrido e herdar essas características, só vai fazer intensificar as características dele, então se ele já for malígno definitivamente ele vai ser uma ameaça, mas se ele for bom ele pode ajudar muitas pessoas, a questão é ele saber conciliar tudo isso e ser forte para não ser corrompido e acabar cedendo para a ansia por sangue e morte.
- Então o que aconteceu foi que as bruxas anciãs já escolheram o helrem? Isso existe mesmo ou é só um mito?
- Existe, e sim elas já escolheram - ele falou de mal humor.
- Mas afinal quem são essas bruxas anciãs que pelo o que eu posso ver são as que mandam em tudo.
- As bruxas anciãs são as primeiras bruxas, agora elas são só espiritos poderosos encarregados de manter o equilíbrio no nosso mundo.
- Então deixa eu ver se entendi, vocês estão contando com esse ser poderoso para derrotar Carlos? E quem não garante que esse ser não nasceu com as bruxas que estão com ele, ou com qualquer outra pessoa que está do lado dele? Isso é algo que da para controlar, você pode escolher onde ele vai nascer?
- Sim, estamos contando com isso, é nossa última saída, a única forma de deter Carlos, e não isso não se pode controlar, as bruxas escolhem e só poucas pessoas nesse mundo sabem, só as bruxas mais fortes conseguem sentir quando a decisão é tomada, elas podem sentir a localização do Helrem e assim saber quem ele é antes que ele passe pela transição e fique claro.
- Então você já tem alguma ideia de quem foi que elas escolheram?
- Mais ou menos, mas isso não é assunto para ser tratado agora não é mesmo? Chega de guerra, de Carlos e de bruxas anciãs, já basta ter de tratar disso com todos do conselho, não quero ficar te importunando com nenhuma dessas preocupações, você veio para cá para descançar e é isso que você deve fazer agora. - Ao tocar no motivo de eu ter vindo para cá eu senti a necessidade de ser sincera com ele, claramente ciente que ele deveria saber do real motivo, só não quis me pressionar ou qualquer coisa do tipo.
- Pai... Você sabe o porque de eu vir para cá não é? - perguntei frustrada.
-Sei Catarina, mas esperava que você me esclarecesse isso melhor, para que eu possa entender realmente o que está acontecendo. O que a Clara disse foi muito pouco em consideração ao que eu imagino que esteja acontecendo, então você vai me dizer ou não?
- Como você imagina? Foi igual com você?
- A questão não é se foi parecido, a questão é que eu conheço você Catarina, você tem o instindo de guardar o que sente, provalmente é muito pior do que a Clara me contou, tenho certeza que isso já acontece a muito tempo e a Clara só descobriu agora porque você não pode mais controlar e não teve mais como esconder, estou errado?
- Pior que não, é que no começo eu pensei que fosse só uma gripe, e depois pensei que estivesse cansada demais, e somente depois eu fui percebendo que deveria ser a transição, mas então eu pensei na Aline e na mãe da Clara eu não poderia simplesmente vir para cá e... - eu parei abaxei a cabeça - a questão é que tudo era muito complicado e eu não sabia o que fazer, então decidi levar como dava, simples. - completei com um dar de ombros.
- Sofrendo pelos cantos? É isso? Eu esperava mais responsabilidade de você Catarina, mas tudo bem, me conheço o bastante para ter ciencia de quem você herdou isso. - ele bufou e sorriu torto.
Eu ri: - Por um minuto eu considerei a possibilidade de você não ter notado.
Ele sorriu e suspirou.
- Mas eu quero que você me conte os sintomas, para eu saber com o que eu estou lidando aqui filha.
- Hã.. Tudo bem. - Eu me sentei em uma das cadeiras de frente para sua mesa, o encarando. - Começou a uns quatro meses mais ou menos, eu não sei ao certo, hã... Nas piores noites eu acordava encharcada, tive perda de apetiti, perdi muito peso por causa disso, eu sentia uma exaustão assustadora na maior parte do tempo, dores de cabeça que foram se intensificando e acho que é só isso.
- Só isso? - ele riu sem humor - Típico. Tudo bem, nós vamos cuidar disso, vai ficar tudo bem.
Eu tentei sorri, para empedir que ele visse em meu rosto que eu não acreditava nem um pouco naquelas palavras.
Nós continuamos conversando sobre a vida no Brasil, colégio, meu desempenho em francês - e como eu tinha suspeitado, Katherine era fluente, por isso a minha facilidade -, nós falamos sobre a vida na ordem, e acabei descobrindo que Pedro não estava ali fazia seis mêses, ele partiu em uma missão para ordem, Henrique não disse qual e a expressão em seu rosto encerrava o assunto, continuamos falando sobre as pessoas, os acontecimentos, até que ele teve de sair para ir a uma outra reunião com o conselho e eu resolvi caminhar em volta da mansão, dar uma olhada no carvalho, enfim qualquer coisa que me desse vontade, eu só precisava andar, a exaustão estava me tomando de novo e eu não podia diminuir o ritmo se não adoeceria.
Quando estava quase contornando a mansão indo para parte de trás, logo a frente me deparei com o prédio da ordem - onde ficavam todos os vampiros -, esse prédio era bastante afastado e lá era onde ficava também os campos de treinamento e sei lá mais o que, e eu também não queria saber, posso estar na ordem, mas vampiros são vampiros e eles sempre se metem em assuntos arriscados e estressantes demais.
Antes de sair do campo de visão do prédio pude ver a figura de Flávio ao longe, assim que ele me viu veio em minha direção.
Em um piscar de olhos - como sempre - ele estava parado na minha frente.
- Oi meu raio de sol - seu sorriso foi de ponta a ponta e confesso que causou uma pequena turbulência no meu estômago, que mais uma vez não deveria acontecer.
- Você e suas tentativas banais de ser um fofo cavalheiro, eu disse uma vez e irei repetir, pare de tentar Flávio isso não combina com você. - eu disse rindo.
- E o que combina comigo? - ele arqueou as sobrancelhas.
- Eu não sei, algo como aqueles vampiros assustadores que bebem sangue de meninas inocentes em becos escuros - eu disse fazendo uma imitação barata de suspense na voz.
Ele gargalhou: - E você se coloca na categoria de menina inocente?
- Não se você for me perseguir.
- Meu anjo eu perseguiria você de qualquer forma - ele sorriu
- Eu sei você é meu admirador, só por favor não dê uma de fã do John Lennon, não to afim de morrer agora, toda aquela coisa de "se ela não for minha, não vai ser de mais ninguém" já está passada não acha?
Ele riu: - Fique tranquila, eu não tenho que me preocupar com isso.
- Ah não? - eu disse rindo - Por quê?
- Simples, uma vez que você for minha, não vai querer ser de mais ninguém. - Quando ele disse isso seus olhos me penetraram de tal maneira que eu corei no mesmo instante. - Adoro essa cor no seu rosto.
Desviei os olhos rapidamente olhando para baixo e voltando a andar.
- E ai, como está a programação de hoje?
- Corrida, todos estão lidando com os preparativos da comemoração de Welreny.
- Eu deveria saber o que é isso?
- É uma passagem tradicional dos vampiros, do outono para o inverno, nós comemoramos isso a milênios, Hevi e sua mãe tem esperanças de que essa comemoração de alguma forma alivie um pouco a tensão, mas eu duvido muito.
- Não tem como cancelar isso? Quer dizer tem pessoas morrendo e nós vamos dançar enquanto isso acontece? - bufei - típico.
- Catarina são nossas tradições, temos poucas leis e crenças em nosso mundo, mas as que temos são seguidas não importa como.
- Tudo bem, que assim seja - eu disse de mau humor.
- Adoro quando fica irritada, falando nisso tenho uma surpresa para você.
- Eu deveria sentir medo ou estou segura?
Ele bufou: - Você voltou mais sarcástica do que o normal.
- Eu to bem assim.
- Venha, pare com toda esse graça e siga-me!
- Estou bem atrás de você.
Ele se virou pegou minha mão e começamos a caminhar, eu confesso que meu coração deu uma guinada e eu espero sinceramente que ele não tenho ouvido.
Ele me levou em direção a floresta, eu não sei o que ele pretendia, mas nem morta eu iria entrar ali, quando estamos quase a beira do início da floresta eu parei. Ele me olhou sobressaltado.
- Algo errado?
- Eu... Desculpa, o que nós vamos fazer ai? - eu perguntei apreensiva.
- Nada demais, eu só tenho uma surpresa, vem vamos.. - ele tentou me puxar, mas eu não sai do lugar - Qual é Catarina, vamos vai ser bom, eu prometo, é rápido! - Eu engoli em seco, eu não podia entrar ali, eu não me dou bem com florestas desde pequena, são como aquelas fobias, uns tem medo de altura, outros de nadar, e eu de florestas ué, completamente normal, pelo menos era o que eu me dizia. - Por favor! - vendo que eu não sairia do lugar, ele parou na minha frente e pegou meu rosto com as mãos delicadamente me olhando profundamente nos olhos - Qual o problema? - eu fiquei um pouco perdida confesso, por um minuto eu tinha esquecido todo o drama da floresta, mas então eu recobrei o juízo.
- Eu.. Desculpa, eu não posso eu tenho que fazer outra coisa, mas depois eu prometo que venho com você! - eu tentei sorrir, mas acho que não me sai muito bem.
- Você menti muito mal Catarina, mas qual o problema? Você não está com medo está? Pelo amor de deus aqui é a ordem, e ainda que não fosse, eu estou com você, acho que sirvo para alguma coisa.
- Não é isso, é só que.. Eu realmente não posso.
- Do que você tem medo?
- Eu não sei dizer, desde pequena eu não gosto de florestas, alguns tem medo de altura eu só não gosto de florestas e isso é COMPLETAMENTE NORMAL!
- Tudo bem eu não to dizendo que não é, relaxa! Isso respira fundo... Pronto - ele pegou minha mão e ficou fazendo circulos com o dedo - Olha o que você acha de vencermos isso hoje hein? - eu comecei a balançar a cabeça em negação e ele fez um "shiu" para mim - Você confia em mim Catarina?
- Sim, mas..
- Shiu! Pronto era só isso que eu precisava saber, agora me da sua mão, pode apertar bem forte, e nós não vamos longe, vamos só andar pela beirada e se você achar que consegue entrar mais, nós vamos entrar aos poucos o que você acha?
Eu respirei fundo, tudo bem, já estava na hora de vencer esse medo futil. Ok. Lá vamos nós.
Segurei a mão de Flavio com toda a minha força, respirei fundo e caminhei em direção a todas aquelas plantas e árvores com sombras disfarçadas.

sábado, 28 de julho de 2012

Capítulo 6 - Fuga

Slash - 10. Slash - Bad Rain

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Vou voltar lá de novo 
eu vou para casa
Voltar para a casa da dor 
Você já teve um peso que era muito pesado
Você já teve um fardo que era só seu [...]
Então eu fujo
Deep Purple - House of Pain 


Joseph pegou minha mão e nós nos aproximamos.
Quando entrei no celeiro tudo estava tão diferente e tão parecido ao mesmo tempo, memórias muito além dessa vida voltaram, eu podia reconhecer o cheiro doce e esparço no ar.
Pude ver Lonrye de longe e me aproximei, ao ouvir o barulho dos meu passos ele ficou inquieto.
Quando o toquei, seu pelo era mais macio do que eu me lembrava, minha mão escorria por sua crina lentamente, seu pelo muito mais brilhante a luz da lua, ele quase não parecia real.
- Oi garoto, quanto tempo. - Ao ouvir minha voz, ele se virou buscando a minha mão. - Eu também estava com saudades
- Eu vou deixar vocês a sós, amanhã pela tarde passarei em seu quarto Catarina, tenho uma surpresa pra você e nós ainda temos muito o que conversar.
- Não posso contestar isso, tudo bem.
Joseph sorriu, travesso.
- Ah, juventude... Tantas coisas ainda iram acontecer, me sinto entusiasmado.
Arquiei uma sobrancelha.
- O que você quer dizer com isso tio? Por favor, diz que você não está aprontando nada.
- Eu? Que isso Catarina, jamais faria algo assim - Mas sua voz era cheia de um ultraje sinico.
- Claro que não - E nós sorrimos, eu não pudia nem imaginar o que ele poderia fazer, e nem queria.
Como sempre acontecia aqui, uma brisa passou e eu soube que Joseph não estava mais ali.
- Venha Lonrye, deixe-me celar você, vamos cavalgar.

Depois de Celar Lonrye, levei ele pra pista de corrida. Eu nunca havia notado isso antes, mas agora diante da pista ao lado de Lonrye pude ter noção do seu tamanho. Ela era gigante, literalmente, sua volta era a milhares de metros de distancia de onde estávamos, quase um quarteirão.
Melhor assim, hoje eu queria correr, simplesmente calvagar o mais rápido possível em cima de Lonrye e esquecer todo o resto.
Montei em Lonrye com agilidade, o movimento tão familiar quanto a respiração. Quanto tempo.
Sai em disparada com Lonrye, começamos com uma velocidade razoável, mas logo estávamos tão rápidos que tudo ao meu redor passou a ser meros borrões, nada importava, somente o Lonrye e o vento que batia com fúria em meu rosto.
Eu podia sentir a adrenalina se espalhando pela minha espinha, me encitando a ir mais rápido, mais longe e Lonrye parecia ler cada pensamento meu, pois a cada descarga de adrenalina em meu corpo sua velocidade aumentava, por um momento eu imaginei que se alguém nos visse provavelmente pensaria que estávamos voando pela velocidade em que estávamos.
Me senti livre, como a muito tempo não me sentia, aqui em cima de Lonrye, a uma velocidade assustadora, eu não me sentia sufocada e nem com medo, eu me sentia poderosa até, uma sensação abrasadora, e então para me lembrar dos meus medos a dor veio, mas dessa vez foi anunciada por um arrepio que atravessou minha espinha.
No exato momento em que minha cabeça recebeu a pontada, Lonrye estancou me jogando para longe.
Cai de costas no chão, todo o meu corpo adormeceu - provavelmente eu quebrei uma costela ou duas -, mas pior do que isso era a pontada na cabeça, parecia que alguém queria arrancar o meu cérebro, eu não suportava mais isso, porque não uma morte rápida e indolor? Por quê todo esse sofrimento? Eu realmente mereço isso?
Eu acho que apaguei - como sempre acontecia quando a pontada era forte demais - porque alguns segundos depois pude sentir mãos embaixo de mim, me puxando lentamente para cima, eu podia sentir que alguém estava chamando o meu nome de longe, mas não conseguia encontrar minha voz para responder.
Eu me levantei, ainda de olhos fechados com medo de que a pontada voltasse, aos poucos minha audição foi clareando e eu pude reconhecer de quem era a voz. Flavio. Meu coração deu uma guinada.
Eu podia sentir suas mãos em minha cintura, minha cabeça estava recostada em seu ombro e eu podia sentir seu cheiro, fiquei surpresa ao ver quão familiar ele era. Isso não devia ser assim.
- Catarina?
Eu ainda não encontrará minha voz, tentei fazer um esforço e só saiu murmúrios.
- Calma, está tudo bem... Nossa você levou um tombo feio, mas não tenha pressa, se acalme primeiro, depois você fala.
E foi o que eu fiz, respirei fundo diversas vezes, obrigando o meu batimento a reduzir, cada segundo mais devagar, até que todo o meu corpo estava relaxado e eu pude finalmente sentir a dor - definitivamente eu estava certa, devo ter quebrado uma costela.
- Ai, merda.
- É uma boa saudação, só não é muito utilizada.
Não pude evitar de sorrir.
- Me desculpe, eu acho que quebrei uma costela. Odeio isso.
- O que? Dor? - Ele riu - Você é humana, deveria estar acostumada.
- Eu sei, mas digamos que eu não sou lá muito masoquista, então não me julgue.
Ele riu: - Estava com saudades de você Catarina, verdadeiramente estava.
Eu corei, não pude evitar, afinal era Flávio e... Eu não sei, não sou muito coerênte quando estou com ele.
Eu tentei me levantar.. Claro sem muito sucesso.
- Acho que vou precisar de uma ajuda.
E seu sorriso debochado tomou conta de seu rosto.
- Eu estava só esperando você pedir, afinal sou um cavalheiro.
Bufei: - Disso não tenho dúvidas - disse, usando o meu melhor tom sarcástico.
- Vem aqui minha flór deixe-me ajudá-la. - ele disse rodiando a minha cintura com suas mãos e me levantando como se eu fosse apenas um alfinete, como se eu esperasse coisa diferente - as vezes toda essa força e rapidez me irritava, confesso.
- Minha flór? Sério?
- Desculpe se sou um homem carinhoso. - Nesse momento eu o encarei e arquiei uma sobrancelha, depois de alguns segundos começamos a rir, não pude evitar.
- Claro, claro.
- Qual o destino senhorita?
- Meu quarto, eu acho.
- Hum... Já que soa como um convite... - ele sorriu malicioso.
- Flávio contenha-se eu provavelmente estou com uma costela quebrada, ao menos respeite uma alejada.
Ele soltou uma gargalhada.
- Respeito é quase o meu nome quando se trata de uma dama Catarina, você deveria saber disso - ele me encarou, e ficou assim por alguns segundos até que desviei os olhos, a dor na costela era uma boa distração.
- É claro, jamais duvidaria disso, agora será que eu posso deitar, porque sinceramente está doendo.
- Me desculpe, um segundo.
E realmente só levou um segundo, como eu disse toda essa coisa da rapidez, leve como uma brisa era seguido ao pé da letra nesse lugar.
Eu pisquei e estava sendo deitada sobre minha cama.
Ele sentou ao meu lado e ficou me olhando, depois de alguns segundos seu dedo percorreu todo meu rosto, da altura dos cabelos até a mandíbula. Um arrepio passou por mim, e isso teria sido bom se eu não estivesse com dor.
- Eu realmente senti sua falta Catarina, não deveria ter ido embora sem se despedir, você feriu meus sentimentos... - Eu o encarei encrédula e culpada ao mesmo tempo, depois de alguns segundos ele sorriu - Sua sorte é que eu sou muito bondoso e relevei, já está perdoada. Não sou muito de guardar rancor.
- Mas você é um vampiro, pensei que fosse como em um dos filmes de livros da Anne Rice "Vampiros não resolvem desentendimentos, vampiros guardam rancor e se vingam", algo do tipo - eu disse rindo.
- Mais ou menos - ele sorriu - Aquela mulher realmente me entende, se ela fosse um pouco mais bela na juventude eu teria dado um pequeno gostinho a ela.
- Você já a conheceu? - eu perguntei incrédula.
- Já a vi, é claro, e um dos meus conhecidos por assim dizer se envolveu com ela, afinal de onde você pensa que veio todas as histórias? Afinal, mesmo com as lendas ela não teria tanta criatividade para nos imaginar como realmente somos sem nenhuma influência nossa.
- OH.MEU.DEUS, então a Anne Rice se envolveu com um amigo seu? Devo dizer que ela tem mal gosto ou isso soaria como ofensa? - eu sorri brincalhona.
- Você já perdeu pontos demais comigo partindo do que jeito que partiu, não abuse mais.
Eu ri. Isso foi uma péssima ideia, eu realmente tinha quebrado alguma coisa. E essa dor deve ter ficado visível em meu rosto porque Flávio logo se levantou e saiu pela porta em um daqueles movimentos rápidos que me irritava. Dois minutos depois Hevi, minha mãe e Clara entraram lado a lado com a preocupação estampada em seus rostos.
- Você chegou não tem dois dias e já se machucou Catarina? - Minha mãe falou apreensiva.
- Foi acidente? - eu disse, mas soou mais como uma pergunta.
- Espero eu que sim, não quero você metida em problemas, por favor.
- Foi um acidente mãe, eu estava montando Lonrye e ele se assustou, foi só isso. - No momento em que eu disse isso eu me arrependi, minha mãe estava em pé ao meu lado me apertando por todo o corpo, provavelmente procurando focos de dor e no momento em que eu disse isso ela parou e me encarou.
- Como é? - ela arqueou a sobrancelha.
- Não foi nada demais mãe, como eu disse eu estava montando Lonrye e ele se assustou, foi apenas isso, não se preocupe, provavelmente é só enfaixar, colocar gelo e eu estarei nova - eu tentei sorri, não devo ter me saido muito bem porque a expressão no rosto dela não melhorou.
- Você caiu montando Lonrye? - Eu sabia que tinha algo a mais por trás da pergunta, mas apenas assenti, não queria me aprofundar nesse assunto, ainda mais com a dor piorando. - Tudo bem, Hevi traga-me um pouco de gelo, algumas toalhas, ataduras e peça para alguém fazer algo para ela comer.
- Sim senhora, já volto.
Clara sentou do outro lado da cama e me deu a mão.
- Qual o seu problema? Não consegue ficar sem arranjar uma forma de sentir dor um minuto? - Clara me olhou visivelmente zangada.
- A culpa não é minha e nem de Lonrye, como eu disse antes FOI.UM.ACIDENTE. - eu disse lentamente, destacando cada palavra - Então sendo assim, não precisa se preocupar.
- Quando você diz para eu não me preocupar, é nesse momento em que eu realmente me preocupo.
Segurei o riso, porque por experiência adquirida recentemente, esse movimento doia mais do que os outros.
Hevi voltou com tudo o que minha mãe havia pedido mais rápido do que eu esperava - como sempre. E depois de uma inspeção rigorosa da minha mãe sobre o meu corpo procurando novos focos de dor, ela me enfaixou na altura da cintura, bem em cima das costelas - como eu desconfiava - , me deu uma sacola de gelo para eu por em cima e me forçou a comer tudo o que estava no prato quando uma senhora - aparentemente humana, o que me sobressaltou - entrou no quardo trazendo uma bandeja com minha comida e um suco. Depois de comer e beber tudo, eu me deitei e elas sairam do quarto. Clara iria ficar andando com a Hevi e minha mãe iria atrás do meu pai para tirá-lo do escritório e forçá-lo a descançar.
Afundei nos meu travesseiros procurando uma posição confortável, a costela não doía tanto, mas definitivamente incomodava quando eu ficava em uma posição errada ou tocava onde não devia.
Eu achava que iria demorar para pegar no sono, mas tão logo eu fechei meus olhos, eu já estava subemerssa.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Capítulo 5 - Possibilidades

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Eu precisava de um lugar para me enforcar
Sem o seu laço
Você me deu algo que eu não tinha
Mas que não teve uso
Eu estava fraco demais para desistir
Forte demais para perder
O meu coração está preso de novo
Mas eu me libertarei
Minha mente me oferece vida ou morte
Mas eu não consigo escolher
Eu juro que nunca vou desistir

(Best of you - Foo Fighters)




- Tio, eu tenho uma duvida a muito tempo eu me pergunto isso.. Como você pode me ver tão facilmente, tão transparente.. sei que é causa dos seus dons, então me pergunto.. Como eles funcionam?
Ele pegou minha mão.


- Vamos caminhar.. – Quando estávamos quase dando a volta na mansão ele começou a falar – É complicado, entenda Catarina, nós os governadores da ordem não temos o costume de definir nossos poderes, porque defini-los seria limitá-los e torná-los previsíveis, assim seriamos facilmente abatidos por nossos inimigos, por isso mantemos cautela sobre isso, nós mesmos não sabemos até onde se estende o poder do outro, imagino que só quem compartilhe de tais informações são nossas esposas, o que é o amor se não total submissão? – Ele sorriu olhando o céu, imaginei quais lembranças deveriam estar inundando sua mente nesse momento, como ele mesmo disse ele é muito mais velho do que posso imaginar. Com esse pensamento não pude evitar lhe perguntar.
- Tio, você me disse que é muito mais velho do que posso imaginar e confesso que até esse momento eu não tinha pensado sobre isso, quantos anos você tem?
- Não sei ao certo, certa de séculos e séculos, naquela época – assim que completei minha transição – o tempo se marcava diferente, e estávamos no meio de uma guerra, tempo não era necessariamente uma prioridade. Mas já vi muitas coisas minha querida, reinos, crenças, templos e até supostos deuses caírem.
- Nossa, e eu com meus míseros quase dezoito anos – Nós rimos.
- Eu me lembro de minha juventude, não foi fácil Catarina, e o que eu vou te revelar agora deve ficar entre nós, mas nosso pai foi o primeiro vampiro, só quem compartilha dessa informação são as bruxas anciãs, ele foi amaldiçoado pelos espíritos, amaldiçoado a vagar pela terra eternamente até que tivesse mudado e se redimido de seus pecados, entenda Catarina nosso pai era um selvagem, um homem horroroso sem coração, que pegava o que queria e quando queria, por isso os espíritos o tornaram um predador, em um selvagem como ele realmente era, quando foi amaldiçoado a beber sangue, viver eternamente, e se enfraquecer no sol, ele também foi consagrado com a intensificação de todos os seus sentidos, força, velocidade, olfato e tudo isso para ele foi um presente. – ele bufou – Você pode pensar “porque eles deram tal poder a ele afinal, se era uma maldição?”, mas é porque eles tinham que manter o equilíbrio, entenda, eles não podem enfraquecer e punir um ser sem dar lhe algo em troca, e eles escolheram o poder, muito boa escolha afinal não há modo mais rápido de destruir uma pessoa ambiciosa, cruel e arrogante do que lhe dando poder, porque ela mesmo irá se afundar e se sufocar.
- Então quer dizer que seu pai foi amaldiçoado? E vocês carregaram essa maldição até hoje? Isso não é Justo. Quer dizer não que eu ache isso ruim, vocês são pessoas boas, que não se alimentam de humanos, por isso não considero isso como maldição, mas como um presente também por serem quem são, mas daí... não seria injusto com vocês?
- Eu entendo seu ponto de vista, mas os espíritos tinham que punir meu pai e a maldição se estende por toda a sua linhagem.
- Mas tio se... Se seu pai era tão ruim, o que levou sua mãe a ficar com ele? Quer dizer, desculpe, mas ela realmente se apaixonou por alguém assim?
- Não minha cara, minha mãe foi abusada por meu pai, e obrigada a viver com ele a força, ela era uma mulher incrível, sua beleza era indescritível, somente o seu andar já te encantava, ela era mesmo um anjo em carne humana, e meu pai quando a viu a quis no mesmo instante e como o selvagem que era a torturou durante toda a vida, durante toda nossa infância nossa mãe tentou nos ensinar a respeitar nosso pai, sempre dizendo que o amava, que ele tinha um lado bom, isso tudo em uma tentativa de evitar que nós nos revoltássemos, só no futuro ela me contou o que realmente aconteceu, foi quando eu e Henrique o matamos... Carlos, bom, ele sempre foi o queridinho de nosso pai, quando Henrique nasceu minha mãe não saia de perto dele, imagine ter que viver com um homem a força e ainda suportar que ele toque seu filho, mesmo sabendo que também é filho dele, minha mãe costumava dizer que não podia colocar um anjo nas mãos de um demônio – ela era mesmo uma mulher incrível – Bem, com isso quando Carlos nasceu meu pai permitiu que ela ficasse perto dele somente durante o tempo em que tinha que amamentar, quando Carlos cresceu o suficiente e já andava, meu pai o tirou de perto dela, o levou pra longe, para morar com ele em um chalé que ele ficava quando ia caçar. Minha mãe entrou em desespero, quase morreu doente depois da partida de Carlos, foi quando ele a transformou, ele dizia que sua beleza era demasiada para ser desperdiçada, mas ainda sim ela estava doente na alma, Henrique costumava me contar que ela sentava na janela e ficava olhando, cantarolando cantigas de ninar – Joseph desviou os olhos, como eu... Ele também tinha dores para enterrar, mas logo voltou ao assunto – Enfim minha cara, algum tempo depois meu pai trouxe Carlos de volta, agora era um menino e um capacho de meu pai, depois disso eu nasci e Carlos se revoltou com a atenção que minha mãe direcionava a mim, e com isso ficou ainda mais próximo de meu pai, o que foi seu erro, eu podia ver em Carlos a semelhança com nosso pai, ele também estava se transformando em um monstro, desde pequeno Carlos demonstrava claramente sua crueldade, nossa mãe fingia não ver por amor é claro. E depois disso nós passamos pela transição e nos tornamos mais fortes do que nunca e com o tempo paramos de envelhecer foi assim que minha mãe descobriu que tínhamos puxado a nosso pai, minha transição veio um pouco depois e foi muito mais dolorosa, como eu nasci com minha mãe já vampira eu não tinha nenhuma parte humana o que dificultou ainda mais o meu controle contra o sangue, mas com o tempo eu consegui lidar com isso. Até esse momento nossa relação era tolerável, mas tudo se desfez quando nos mudamos para uma aldeia perto do norte dos estados unidos, nós nos mudávamos frequentemente, mas nunca fazíamos contato com ninguém, até que meu pai decidiu que era hora de Henrique escolher uma esposa, e então sua mãe foi prometida a ele, a mais bela da aldeia, sua mãe é realmente formidável, mas entenda só depois descobrimos que Carlos mantinha um romance escondido com ela, e quando soube do casamento tentou matar Henrique, de nada adiantou, implorou a nosso pai que mesmo relutante em aceitar, a fazer os caprichos de seu filho favorito não pode permitir, afinal quando ele dava sua palavra ele nunca voltava atrás, e Henrique era o filho mais velho era dele a preferencia, e então ele tentou fugir com ela, mas meu pai descobriu e o humilhou – meu pai era um tirano e mesmo com Carlos ele nunca deixou de ser cruel a diferença era que Carlos sempre achou isso certo até esse momento é claro - Meu pai o expulsou da nossa família, o mandou viver a vida dele sozinho, longe de nós e caso o visse novamente iria matá-lo, essa era a forma de piedade de nosso pai, com certeza se fosse eu ou Henrique ele nos mataria naquele momento. E nessa época nosso pai já era dono de grandes terras durante todo o mundo, e tinha milhares de relações fora do casamento com a nossa mãe - se é que aquilo foi um casamento, na minha opinião foi uma prisão – e com isso milhares iguais a nós já existiam, e já tinham criados novos vampiros, nossa raça já era demasiadamente grande e estava chamando muita atenção, então quando descobrimos o que ele realmente tinha feito a nossa mãe e o matamos, nós assumimos o controle, matamos todos os vampiros sedentos de sangue e ensinamos os que eram dignos, pra que esses dignos ensinassem os outros de sua linhagem e assim se seguiu, ficamos anos sem notícias de Carlos até que ele tomou conta de quase toda a Europa criando seu próprio exercito, no começo tentamos conversar.. E fizemos uma trégua, o colocamos ao nosso lado na ordem, mas mais tarde quando ele descobriu que matamos o nosso pai por causa do que ele tinha feito a nossa mãe, ele a matou e com isso declaramos guerra no mesmo momento, e até hoje estamos aqui, essa guerra se estendeu todo esse tempo porque Carlos possui dons muito formidáveis, e tem ao seu lado muitas bruxas, e infelizmente para nós essas não são bruxas comuns, elas mexem com magia negra, são capazes de qualquer coisa e não possuem escrúpulos assim como ele, por isso fazem um belo casal - ele bufou.


-Mas se elas são tão fortes assim, como ele ainda não nos derrotou? - um arrepio crepitou pela minha espinha.


- Porque não existe só magia negra minha querida, os espíritos equilibram tudo assim como eu disse, e sem o concentimento deles nada pode ser alterado, e eles não tinham escolhido um lado...Pelo menos não até agora - ele pareceu estar no meio de uma confusão, seus olhos se desviaram do meu rosto e por um momento uma máscara de dor tomou lugar da serenidade que eu tanto admirava - tempos devastos virão, mas pelo menos depois teremos algum alívio - ele sussurrou baixo demais, não sei se queria que eu ouvisse.


- Nossa Joseph, estranho que eu fiquei aqui todo esse tempo, mas nunca me perguntei sobre isso, sobre como tudo começou, acho que é porque eu era muito ligada as histórias que hollywood conta. – Bufei – Mas, nossa eu tenho tantas perguntas, primeiro o que você quis dizer com "tempos devastos virão?” O que vai acontecer? – Henrique se enrijeceu.
- Com o tempo você saberá, isso não é assunto para tratar agora.
- Joseph, mas do que você está falando? Quer dizer que assunto.. - mas antes que pudesse continuar ele me interrompeu.
- Vamos pular esse assunto Catarina, você disse que tinha muitas perguntas... Vamos para próxima.
- Hã... Tudo bem - parei um segundo para poder organizar toda aquela informação - Como Carlos teve coragem de fazer isso, depois do que o pai de vocês fez a ele, e sem falar que a sua mãe pelo o que me diz era uma mulher amável, que se preocupava com ele e o amava, era pra ele ficar ainda mais revoltado com o pai, e não matá-la para se vingar, o que ele tinha na cabeça?


- Catarina entenda que desde pequeno o Carlos foi criado por nosso pai para odiar nossa mãe, nosso pai o criou para ser filho dele, somente dele e de mais ninguém, ele nunca partilhou Carlos com a minha mãe, ele nunca permitiu que ela se aproximasse demais.


- Que horror, e é muita injustiça dos espíritos amaldiçoar uma pessoa para puni-la e fazer com que outras pessoas inocentes tenham que pagar por isso, sua mãe não merecia a crueldade do seu pai, e ainda sim os espíritos não fizeram nada, mas afinal porque ela nunca tentou fugir? Quer dizer, não é possível que ela tenha simplesmente aceitado isso.


- No início ela não fugiu porque ele matou toda a sua família depois que a pegou, meu pai era sedento por sangue, ele simplesmente matava quando tinha vontade ou sede, as vezes por pura diversão. Logo depois minha mãe pensou em fugir, mas nós já erámos nascidos, ela sabia que não teria como ir muito longe com a gente e meu pai disse que se ela fugisse ele mataria a todos nós, mas por outro lado se nos deixasse ela sabia que nós acabaríamos ficando igual a ele, como eu disse ele era um selvagem não um pai. E então ela ficou, aguentou sua crueldade por todos esses anos. Bom, pelo menos conseguimos dá-la uns anos de paz depois que o matamos.


- E...Joseph, Como minha mãe pode se apaixonar por Carlos? Ele, um ser tão desprezível, capaz de matar a própria mãe, como... Ela realmente o amou? Como ela pode fazer isso? – Meu rosto agora era de desprezo, eu amava Isabella, mas só de pensar que ela pode ter amado um homem assim, ter considerado se casar com ele, é... extremamente decepcionante, e posso dizer até assustador, é como se ela fosse outra Isabella e eu não a conhecesse mais.


- Catarina não julgue sua mãe tão precipitadamente, acho que só ela pode lhe explicar isso, mas saiba que nós conhecíamos um lado do Carlos que ele não mostrava pra ela, e acredite em mim ele poderia ser incrivelmente gentil e encantador quando queria algo.
- Ainda sim.. enfim, deixe isso pra lá, ela teve os motivos dela e isso foi a muito tempo não cabe a mim questionar o porque.


- Isso mostra o quão madura você é.
- Mas tio você não respondeu minha pergunta, quer dizer... Você não precisa me dizer o quão poderoso você é, só... Me diz como seu dom funciona? Quer dizer, você sabia todas aquelas coisas sobre mim, sobre como eu estava lidando com isso, sem eu fazer ou dizer nada apenas me olhando.. Como?
- Porque eu posso ver cada sentimento que você já teve, cada vez que você o reprimiu, posso ver nitidamente suas reações a eles, não posso controlá-los, mas por vê-los eu posso te confundir, posso fazer você achar que na verdade o que você sentiu foi outra coisa, posso inverter as razões.


- Mas, calma..O Henrique também não tem o mesmo dom?

- Sim, mais ou menos.. Até onde sei, o dom dele não é somente ver as emoções isso é um bônus, o real dom dele é plantar sentimentos em você, mas ele é forte.. Ele pode criar um sentimento de toda uma vida em você por uma pessoa que você nem ao menos conhece, e ver os seus sentimentos facilita a manipulá-los.
- Nossa, mas então o seu dom é ser capaz de fazer uma pessoa achar que ela sentiu aquilo por outros motivos, ou na verdade faze-la achar que ela só pensou ter sentido aquilo, mas que na verdade foi outra coisa, deixá-la confusa? Basicamente enquanto ele mexe com as emoções, você mexe com a razão? Uau. É tudo tão complexo, são tantos lados para se considerar, tantas possibilidades.
-Obrigada, é um dom bem sutil, e muito subestimado confesso, mas sim é basicamente isso. – Pelo modo que ele falou eu pude sentir que ele estava me escondendo alguma coisa, e me perguntei até onde o poder dele realmente ia.
-Acho que já chegamos ao nosso destino, há alguém que sentiu muita a sua falta.



Nós paramos em frente ao celeiro, eu nem percebi o quanto tínhamos andado.
Lonrye.
E eu senti um aperto em meu peito, tudo aqui despertava tantas saudades.






quarta-feira, 9 de maio de 2012

Capítulo 4: Confrontando Demônios

Evanescence - My last breath

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Eu sei que você me ouve
Eu posso provar isso nas suas lágrimas

Segurando meu último suspiro
A salvo dentro de mim
Estão todos os meus pensamentos sobre você
Doce luz extasiada
Isso termina aqui esta noite

Fechando seus olhos para desaparecer
Você reza para que seus sonhos deixem você aqui
Mas você ainda está acordado e sabe a verdade
Ninguém está lá
(Evanescence - My last breath) 


Quando entramos na mansão Isabella estava em pé no salão de entrada, ela estava exatamente igual, do jeito que eu me lembrava, rosto jovem, cabelos longos negros como a noite, seus olhos verdes mais penetrantes do nunca, ela não tinha mudado em nada.
E agora quase dois anos depois, nossa semelhança ficava cada vez mais visível.
- Oi Isabella - eu me aproximei e abracei, nossa como era bom estar em seus braços de novo, estando aqui agora, eu me questiono como aguentei ficar tanto tempo longe dela, eu acho que é por isso que eu sentia um peso o tempo inteiro enquanto estive longe.
- Minha filha, eu não aguentava mais ficar sem te ver, nunca mais suma desse jeito entendeu? Eu não vou deixar. - ela me abraçou apertado e ficamos assim por longos segundos - Hã, você deve estar cansada não é mesmo? E você Clara meu amor, como está?
- Eu estou bem Isabella, com saudades de vocês é claro. - Clara deu um meio sorriso, mas eu percebi o quanto ela estava exausta.
- É eu estou um pouco cansada sim, não consegui dormir direito na viagem. - menti. Quer dizer, não era uma mentira total, eu consegui dormir direito na viagem, mas eu me sentia como se não dormisse a uns dois dias, todo o bom humor, e o bem estar já estavam se esgotando e eu os podia sentir sendo sugados de mim, e a Clara também precisava de um descanso.
- Oh, é claro, me deixe levá-las pro quarto.
Enquanto subíamos a escada ela continuou:
- Ele fica no mesmo lugar sabia? Está exatamente como vocês deixaram - ela sorriu, seus olhos verdes brilhavam como um campo de flores silvestres.
- Obrigada Mãe. - "Mãe", há muito tempo eu não chamava Isabella assim, foi tão espontâneo que quando me dei conta já tinha dito, acho que era a saudade, e toda a carência pela falta dela, o motivo ao certo não importa, porque assim que eu disse isso, ela ficou me olhando até chegarmos ao quarto, e pude perceber duas lágrimas de sangue no canto de seus olhos, que ela limpou rapidamente.
- Prontinho, o quarto de vocês, se estiver faltando alguma coisa é só falarem comigo que eu providencio, agora tomem um banho e descansem que eu vou preparar alguma coisa pra vocês, mas não fiquem muito esperançosas, tem quase dois anos que eu não cozinho mais - ela riu e saiu pela porta junto com a Hevi.
 Depois disso eu comecei a desfazer as malhas, e de rabo de olho eu pude ver que a Clara me encarava, eu me virei.
- O que foi? - eu me sentei na cama.
- Nada - ela sorriu - Nadinha mesmo.
- Ah menos Clara, fala logo o que deu em você?
- Nada, eu quero saber o que deu em você, pra de repente esse sorriso tomar conta do seu rosto? - nós ficamos nos olhando por alguns segundos em silencio. Eu não sabia o que dizer, eu nem sabia que estava sorrindo. - Ah tanto tempo eu não via esse sorriso em você, se eu tinha alguma duvida quanto essa viagem, todas elas morreram agora. Você pode não admitir Cat, mas nós duas sabemos que você tem sido infeliz todo esse tempo. Partir daqui de certo modo foi um erro, mas isso não importa, nós vamos consertá-los e você vai ficar bem - ela sorriu pra mim.
Eu abaixei a cabeça. Não nós não vamos consertá-lo, e eu sabia disso.
- Não, não foi um erro. Era o que tinha que ser feito e eu fiz, e eu não fui infeliz todo esse tempo, ao contrário eu estava tão feliz quanto, então vamos mudar de assunto ok? Eu estou aqui não estou? Então pronto.
Eu me levantei e fui tomar um banho, mas antes que eu saísse do quarto pude ouvir o risinho da Clara atrás de mim, o mesmo risinho que ela dava quando sabia que eu estava sendo teimosa, não pude evitar sorrir também.
Quando sai do banho, Hevi e Clara estavam sentadas na cama conversando sobre alguma coisa relacionada a uma tradição, eu não me enterrei muito do assunto porque ainda estava cansada. Quando terminei de me arrumar e escovar os cabelos, fui procurar saber qual a programação de hoje.
- Então Hevi, qual a programação de hoje?
- Hum.. Me deixe pensar, Henrique está muito ansioso pra vê-la, ele disfarça, mas não teve um único dia em que ele não tenha falado de você e seu tio Joseph está quase invadindo o seu quarto, quando você foi embora sem se despedir ele ficou totalmente frustrado, claro que você não pode fazer nada afinal ele não estava aqui na ordem, ele quis ir até você, mas Henrique o convenceu de que seria melhor não, que você não.. Enfim, agora sabendo de sua chegada, ele disse que deve ir vê-lo imediatamente.
- Eu não entendi.. Henrique o convenceu que seria melhor não, porque eu...? Por que eu o que Hevi? - ergui as sobrancelhas.
- Hum.. Desculpa Cat, mas é porque ele disse que você não iria gostar e que você não queria qualquer aproximação perto de sua irmã, então ele não foi.
- Ele.. Ele deve ter entendido mal, quer dizer.. Deus ele deve estar magoado, não foi isso, eu não quis dizer que não queria vê-lo, é que.. Tente entender Hevi minha irmã é uma criança, e eu não a quero envolvida nesses assuntos, mas quanto a Joseph eu o amo, ele é meu tio.. Ele está muito magoado? - fiz uma careta. Ele era a última pessoa que eu iria querer magoar.
- Claro que não, não se preocupe com isso Cat, de verdade. Ele entendeu perfeitamente.
Eu tentei sorrir, mas não me sai muito bem.
- Cat é sério, não se preocupe com isso. Aliás, pra lhe provar isso, porque não vamos até ele agora? Está quase anoitecendo, então é melhor irmos logo se não só o encontraremos amanhã.
- Claro, vamos sim.. Você vem Clara?
- Não eu vou tomar meu banho, e depois a Hevi vai fazer alguma coisa no meu cabelo, que eu ainda não entendi direito, ela disse alguma coisa em Italiano, e a única coisa que eu entendo a esse respeito, são os homens então.. Enfim, podem ir, e você Hevi quero que use essa velocidade pra algo urgente, eu.você.meu cabelo. Agora vão!
- Começo a pensar que temos que compartilhar esse conhecimento, homens + italianos, não sei por que tem algo que me atrai nessa junção.. Deve ser por causa do Fernando, mas isso é uma história pra outra hora.
- Ok, agora vamos pular a parte de históricos amorosos, e eu posso, por favor, ir ver o meu tio?  - Nós rimos.
- Claro, vamos Cat.. Eu já volto Clara, e não passe condicionador, depois eu explico por que.
- Vamos.

Foi uma caminhada rápida até o jardim que ficava na parte de trás da mansão, pelo menos foi o que pareceu já que durante todo o percurso nós ficamos rindo e dizendo coisas sem sentido uma pra outra. Mas só a remota ideia de que Joseph pudesse estar ofendido, ou magoado por minha causa, fazia meu estômago se revirar.
Eu parti, porque tive que parti, mas isso não significa que eu não os ame, ao contrário, eu os amo tanto, mais tanto que todo esse tempo... Eu não admitia, mas depois que eu os deixei, eu deixei também toda e qualquer paz aqui.
E em pensar que Joseph pudesse achar o contrário disso, me fazia querer andar ainda mais rápido.
Mas logo chegamos, no jardim uma brisa fresca soprava meu rosto, e a frente pude ver Joseph de costas, ele encarava o campo, perdido em pensamentos, e só se deu conta de nossa presença quando a Hevi rompeu o silencio.
- Joseph, senhor?
Joseph se virou e a Hevi fez uma pequena saudação.
- Ou, obrigada Hevi. – Ele se aproximou, e durante todo esse tempo seus olhos não deixaram os meus. – Hm.. Pode ver se os guerreiros já chegaram do serviço Hevi? Estou esperando pelo relatório deles.
- Claro, então está entregue Cat, mais tarde nos falamos.
Um sopro e a Hevi se foi, mas agora... Mesmo tendo estado todo esse tempo longe, eu não me assustei, nem estranhei, era... Normal, comum, agradável, diria até... Familiar. Eu sorri.
- Então minha sobrinha, esse sorriso em seu rosto devo imaginar que é por me ver? – ele riu.
- Tio – eu corri e o abracei.
Eu tinha sentido tanta a falta dele todo esse tempo, sempre com um conselho, um sorriso, um abraço acolhedor, se eu pudesse definir a paz e a tranquilidade, as chamaria por seu nome.
- Oh minha querida, eu senti tanto a sua falta. – ele retribui o abraço e ficamos assim por algum tempo, até que me afastei para poder olhá-lo.
- Me desculpe por não ter me despedido, mas as coisas ficaram... Complicadas eu acho, hã... Não pense que eu não queria te ver, quando eu disse que não queria contato eu... Deus! Me desculpe tio é só, minha irmã é uma criança, e não suportaria vê-la no meio de toda essa guerra.
- Eu te entendo, não se preocupe, sei o que sente por nós minha querida, e em momento nenhum eu duvidei disso, mas me fale de você, como está?
Eu me afastei um pouco, e desviei os olhos, essa pergunta vinda de outra pessoa poderia ser facilmente respondida com “estou bem, não se preocupe”, mas quando se tratava de Joseph, que em alguns momentos cheguei a suspeitar que conseguia ler minha alma, eu não poderia dar como resposta uma frase pronta.
- Eu estou...Respirando, e isso é tudo o que importa. – Eu sorri.
Joseph me encarou por longos minutos antes de dizer alguma coisa.
- Catarina – Ele pronunciou o meu nome lentamente, em sua voz eu podia perceber um resquício da dor – Minha sobrinha não faça isso a si mesma, não haja dessa forma.
- Fazer o que? – Arqueei as sobrancelhas.
- Você sabe do que estou falando Catarina, não use a máscara de frieza comigo, sabe que eu lhe conheço melhor do que isso e com o dom que possuo, te conheço melhor até do que você mesma, e tudo o que sinto é... Raiva, frieza, medo, e dor. Não é pra ser assim!
- Você está enganado, eu estou bem.
- Não minta Catarina, você pode ser boa em fingir isso para os outros não para mim.
Toda essa conversa sobre meus sentimentos já me estava tirando do sério, mais porque no fundo eu sabia que ele tinha razão, mas não podia admitir, seria como reconhecer toda a dor que tinha guardado, e reconhecê-la significa senti-la, e já tinha prometido a mim mesma de que iria evitar isso, engolir a seco, e enterrar o mais fundo possível, porque sofrer e chorar não faria nada mudar.
- Então o que quer que eu diga? O que esperava Joseph? Ver uma Catarina saltitante e feliz? Se me conhecesse bem como diz, sabe que seria o total inverso disso.
- Eu sei, só não esperava que estivesse guardando tanta raiva e dor com você.
- Todos têm suas cicatrizes tio, as minhas são só um pouco mais bem guardadas.
- Está enganada, você não as está escondendo, você as está alimentando Catarina, entenda enterrar a dor da a sensação de alivio por um período curto de tempo, mas um dia Catarina você tem que lidar com ela, porque se a fizer prisioneira, ela fará de você uma prisioneira dentro de si mesma, pensa que eu não vejo como você foge dos assuntos, desvia os olhos como para afugentar as lembranças, enrijece os punhos para evitar que a dor tome conta... Eu posso perceber isso tudo só te olhando agora Catarina, já passei por isso incontáveis vezes, sou muito mais velho do que pode imaginar, então acredite em mim quando digo que isso só irá aumentar seu sofrimento.
- Não se preocupe Joseph, não tenho tempo para lidar com sentimentos a muito enterrados, o tempo passou, a vida seguiu e tudo é diferente agora, o que eu sentia se foi junto com a Catarina que saiu da ordem a quase 2 anos, eu estou aqui apenas para lidar com essa doença, transformação eu não sei como chamam, com base nos fatos de que eu não vou sobreviver, logo concluo que não há com que me preocupar.
- Então é daí que tira forças pra manter essa fachada? É daí que tira forças para enterrar a dor dessa forma? Da desculpa de um alívio breve com a vinda da morte... Cuidado Catarina, as coisas nunca são como esperamos, elas sempre se modificam a sua vontade, então só tome cuidado para não mandar pra longe sua felicidade e depois se deparar com um vazio pior do que a morte.
- Joseph, tio...Eu, sinceramente? Estou cansada admito, mas não tenho outra alternativa, porque... Isso, essa dor que eu tenho dentro de mim, envia um nó pra minha garganta toda vez que eu me permito ao menos lembrar, então sim confesso que só não estou aterrorizada por essa transformação porque pela primeira vez depois de muito tempo eu poderei descansar.
- Oh minha querida – Ele se aproximou e me abraçou forte – Sinto lhe dizer que descanso é algo que você não terá por um bom tempo, infelizmente o que está por vir é complicado demais para que possa entender agora, mas me prometa que quando chegar a hora você vai se lembrar do que eu disse, e irá se permitir sofrer, se permitir chorar, e ir atrás da sua felicidade, irá lutar por ela e não deixará que nada de mal a possua.
- Como assim? O que está por vir? – Um arrepio percorreu o meu corpo, de certa forma quando perguntei a Joseph eu já sabia, alguma coisa estava errada e Joseph tinha razão, descanso era uma palavra que em breve eu não saberia o remoto significado.