domingo, 23 de outubro de 2011

Capítulo 23 - Cicatrizes

Plumb - Cut

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E estas cicatrizes não seriam escondidas assim
Se você me olhar apenas nos olhos
Eu sinto solidão e frio aqui
Embora eu não queira morrer
Mas o único anestésico que me faz sentir bem, mata por dentro
(Cut – Plumb)

Eu adormeci mais rápido do que pensei que fosse possível, quando acordei o sol que me banhava pela janela já estava forte, o que significa que já devia ser a hora do almoço.
Me sentei devagar, porque assim que comecei a me levantar minha cabeça aparentava ter uma tonelada presa a ela, e doía como se eu tivesse batido com ela diversas vezes o que na verdade faz algum sentido levando em conta a tortura que eu passei. Assim que esse pensamento me vem a cabeça o afasto, eu não posso lembrar daqueles momentos, e nem quero.
Quando consigo retomar a consciência por completo Clara irrompe pelo quarto como um turbilhão e se joga em cima de mim, nos primeiros minutos eu não consigo entender nada do que ela diz, primeiro porque eu mal consigo respirar com ela me apertando e segundo porque ela fala tudo tão rápido que eu só consigo entender as palavras: maluca e preocupada.

- Calma Clara, eu estou bem agora... – ela me interrompe com mais um turbilhão de palavras – Meu deus Clara eu não consigo respirar!
Nesse momento ela sai de cima de mim, e senta ao meu lado.
- Você tem noção de como eu fiquei preocupada com você? Você é maluca ou o que para sair da ordem assim? É ordem o nome disso aqui não é? Enfim... O que aconteceu Cat?
Ela me encara, os olhos duas bolas que parecem querer saltar das orbitas, e a sua volta um roxo mais forte do que de costume o que indica que ela não dormiu.
- Eu... – A verdade era que eu não sabia como dizer isso para Clara porque eu ainda não tinha dito nem para mim mesma, tudo aconteceu muito rápido e ao mesmo tempo, e enquanto eu estava sendo torturada eu meio que estava sem tempo para pensar em minha transformação quando eu estava gritando de dor. – Eu não sei Clara, eu ainda não tive muito tempo para pensar sobre isso.
Ela me encarou
- Sobre o que Cat? O que aconteceu?
- Eu... lembra quando eu sai daqui dizendo que ia procurar a Hevi? – ela assentiu – Então, eu cheguei ao escritório de Henrique e ouvi uma conversa entre ele e uma espécie de médico eu não sei ao certo, falando sobre minha transformação... – eu fiquei em silencio, os olhos dela lentamente se arregalando quando ela começa a entender o que isso significa.
- Como assim? Você vai...? – ela não termina a frase.
- Pelo o que eu entendi isso está no meu gene, e eu vou entrar em transição a qualquer momento.
Ela vira o rosto e começa a encarar o nada. Pela primeira vez eu vejo a Clara sem fala, o que acredite em mim não é comum se tratando dela e essa atitude me deixa mais nervosa do que eu estava.
- Clara, pelo amor de deus fala alguma coisa!
- Ah! – ela se vira para mim – Hum... Mas Cat... Eu não sei como dizer isso da forma fácil, então lá vai... Você já não imaginava isso? Quer dizer, você está morando em uma ordem de vampiros, com a sua mãe e seu pai vampiros, e está apaixonada por um vampiro, Meu deus! Qual parte você perdeu? Porque até onde eu entendi você não vai ter uma vida normal Cat, não mais... Então, se você quiser ficar perto dessas pessoas, esse é o único caminho!
Eu encarei o nada e comecei a brincar com a linha do lençol. Como eu poderia explicar para ela que o problema não é a transformação em si, quer dizer é claro que na hora foi um susto, apesar de tudo eu não tinha pensado nisso, mas a Clara tem razão se eu quero conviver com essas pessoas esse é o único caminho, mas o problema é que eu posso não sair viva, isso tirando a parte que vai ser altamente doloroso.
Eu fiquei em silêncio, até que a Clara o quebrou com o mesmo costume de sempre de ler minhas expressões e saber quando algo está realmente errado.
- Cat, agora me fala, qual é o real problema nessa história? Do que você tem medo?
- Eu ouvi a conversa deles Clara, e a questão é que ... – eu não consegui dizer, as palavras simplesmente estavam presas na minha garganta. – Eu... Eu posso... A questão é que eu posso não sair viva Clara! Pronto! Esse é o problema eu posso morrer, e segundo eu ouvi vai ser extremamente doloroso!
Nesse momento a Clara me puxou para perto dela, e me abraçou. Nós ficamos assim por um bom tempo, respirando fundo e abraçadas.
Quando eu me afastei, ela olhou no fundo dos meus olhos.
- Cat, agora me escuta – ela fez uma pausa conferindo se eu estava prestando atenção – Vai ficar tudo bem, eu vou estar do seu lado, e nós vamos dar um jeito entendeu?
Eu assenti.
- Clara? - Ela me encarou
-Sim?
- Eu vou tomar um banho, será que eu posso ficar um pouco sozinha? É que aconteceu tanta coisa, eu preciso colocar os pensamentos no lugar – eu forcei um sorriso.
- Claro, mais tarde eu venho te chamar para nós irmos andar a cavalo que tal? – ela sorri e levanta da cama do seu jeito animado.
- Claro.

Assim que Clara sai do quarto eu me levanto e vou em direção ao banheiro, quando paro na frente do espelho, eu quase dou um pulo de susto. Minhas roupas estão sujas de sangue, apesar de quase todas as feridas já terem curado.
Parada ali, toda suja de sangue uma onda de nojo, medo, e outros tantos sentimentos me vêm ao mesmo tempo, imediatamente eu ligo o chuveiro e entro embaixo dele.
Chorando e soluçando, eu começo a colocar para fora todas as lágrimas que não me vieram antes, toda a dor que eu senti, toda a solidão, todos os sentimentos de uma vez, a saudade de casa, o medo do que vai acontecer, a tortura, a dor pelo Pedro, tudo ao mesmo tempo. Sem que eu perceba eu pego uma esponja e começo a esfregá-la pelo os meus braços e pernas. A água vermelha suja de sangue tomando conta do box, e me fazendo sentir mais nojo ainda de mim mesma. Eu estava imunda, suja, e essa sujeira, esse sangue parecia simplesmente não querer sair, como se estivesse impregnado na minha pele para me lembrar de tudo o que eu passei.
Eu consigo ouvir passos no quarto, mas não dou ouvidos, agora que eu deixei toda a dor vir a tona, todas as lágrimas e sentimentos diversos eu não posso mais controlar, só me resta esfregar e chorar.
Eu continuo esfregando e o sangue parece não sair, uma onde de raiva toma conta de mim, e eu escuto um grito, eu estou tão tomada pela raiva, pela dor que quase não percebo que o grito saiu dos meus lábios até que eu olho para baixo e percebo que eu estou me arranhando, meus braços agora com cortes finos feitos pelas minhas unhas, e escorrendo sangue.
Quando vejo aquele sangue todas as lembranças me voltam a mente, os dois capangas de Carlos me cortando e me queimando, e antes que eu perceba meus braços estão caídos e eu estou abaixada com a cabeça entre as pernas, eu não escuto nada só a água caindo e os soluços do meu choro.
Eu fico assim por um tempo, até que eu escuto alguém gritando o meu nome.
E sem que eu precise olhar eu já sei quem é, eu reconheceria essa voz em qualquer lugar, qualquer tempo. Pedro.
Ele irrompe pelo box, me levantado e me sacudindo.
- Catarina? Meu deus está tudo bem? – Ele me olha nos olhos, mas eu não posso olhar para ele, não nesse estado, não quando eu estou deixando todas as minhas emoções virem a tona, se eu o olhar agora eu não vou aguentar.
- Não. –É o máximo que eu consigo dizer, minha voz sai baixa, nada além de um sussurro, quando eu sei que não, nada está bem, e não sei dizer quando vai ficar, ou se um dia irá ficar bem de novo.
Quando ele me olha de cima a baixo e vê os arranhões, ele me puxa para perto dele, me aninhando a ele, e sem poder mais resistir eu me agarro a ele e deito minha cabeça em seu peito, tão perfeito, como se fosse feito exatamente para me abrigar. E volto a chorar, o choro agora mais intenso do que antes.
Pedro não falou nada, só me apertou com força e alisou meus cabelos, separando mecha por mecha, beijando minha testa.
Por fim, quando as lágrimas pararam de cair, e tudo o que restava era minha respiração alterada, ele cortou o silêncio.
- Vai ficar tudo bem Catarina – foi tudo o que ele disse, mas de alguma maneira ouvir isso dele, foi melhor do que qualquer coisa, de alguma maneira quando ele disse isso, ele quase me fez acreditar, pelos poucos segundos em que eu ouvi sua voz o alívio tomou conta de mim, mas não posso mentir para mim mesma, não posso me agarrar em um amor que não me pertence, um amor que já foi meu, mas isso foi a muito tempo, em outra vida. E agora eu estou sozinha. Pelo menos por dentro.
Esse pensamento me fez me encolher mais em seu colo, e apertá-lo com mais força, por mais que eu saiba que não posso tê-lo, eu insisto em não conseguir deixá-lo ir, eu simplesmente perco o ar só de imaginar não vê-lo, não ver seu sorriso, ou ouvir suas piadas sarcásticas, ou até mesmo suas evasivas, e suas mudanças de humor repentinas.
Mas, como tudo na vida existe sempre o “porém”, aquele porém que te faz se encolher e chorar a noite, que faz o um nó se forma em sua garganta, e te faz querer gritar e implorar para alguma força maior te escutar e fazer isso passar.
O mesmo porém que sempre volta para me lembra que o máximo que eu posso ter é isso, esses momentos aninhada em seu colo, esses poucos minutos junto dele, e que depois tudo vai voltar a ser como é, nós dois amando sem poder amar.
Eu me afastei de Pedro e me levantei.
- Hum... Eu acho que vou tomar um banho de verdade agora – Eu falei ainda sem olhá-lo, eu não posso olhar para ele, não quanto tudo dentro de mim ainda está tão instável. – Obrigado Pedro.
No momento em que eu falei o seu nome, um nó se formou em minha garganta, e uma dor se instalou no meu peito como se eu tivesse levado um soco.
- De nada, eu acho que devo ir agora, você tem certeza que vai ficar bem? – Ele ameaçou pegar minha mão, mas eu me afastei, eu não posso me permitir provar mais dele, porque como tudo em relação a ele uma vez que eu provo eu me sinto tão entorpecida, tão embriagada com o seu toque e o calor que emana do seu corpo que eu não consigo deixá-lo ir.
Eu somente assenti, ainda sem olha-lo.
- Tudo bem então, tchau Catarina. – Com um sopro de vento, ele se foi, levando com ele toda e qualquer paz que ainda havia dentro de mim, levando embora o alívio que poucos minutos em sua presença me proporcionou, e me deixando apenas com a dor e um nó na garganta que insistia em me deixar sem ar, mas de alguma forma eu consegui sorrir porque pelo menos a dor era uma prova de que ele esteve aqui.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Capítulo 22 - Ferida Aberta

05-Alpha Rev-Phoenix Burn

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Até todas as minhas mangas estão manchadas de vermelho
De todas as verdades que eu disse
Venha, honestamente eu juro
...
Cansado de toda esta insinceridade
Então abrirei mão de todos os meus segredos
Dessa vez
Não preciso de outra mentira perfeita
(Onerepublic - Secrets) 


Isabela ficou parada, imersa em meio aquela afirmação. Então tudo isso era por causa deles? Por causa do que tinha acontecido a mais de 100 anos? Depois de todo esse tempo, todas essas guerras e mortes... Tudo isso se resumia a... Eles três.
Isabela o encarou espantada, ela deveria ter previsto isso, deveria ter evitado, isso não pode continuar.


- Carlos, então tudo se resumi a isso? No final... - ela fez uma pausa- É tudo por causa disso? - Ela o encarou
Carlos ficou atônico, encarando Isabela, a raiva florescendo em seu rosto
- É claro que nao Isabela, não se sinta tão importante! - ele disse, sua voz um veneno escorrendo raiva e frustração.
Isabela olhou para Catarina, percebendo seu estado horrível, ela não teria muito tempo, tinha que ser tirada dalí.


 - Flávio tire Catarina daqui e a leve até a ordem, não pare até chegar lá entendeu? - Isabela falou em um tom autoritário.
- Claro - Flávio respondeu já de pé com Catarina em seu colo como se fosse apenas um alfinete
Carlos deu um passo para frente, agora seu rosto era tomado por uma calma que enviou um arrepio a espinha de Isabela, ele havia mudado tanto, onde estaria aquela luz dos seus olhos? Ou o seu sorriso que fazia com que Isabela colocasse tudo em risco... Ela não poderia mais pensar nisso, nao agora com esse Carlos na sua frente, esse Carlos que ela não conhecia. 
- Ela não vai sair daqui - Disse Carlos com um sorriso no rosto.
- Então vamos ver, quem vai impedir você? - Disse Pedro se aproximando e soltando um rugido.
Carlos sorriu
- Você é corajoso Pedro, muito corajoso - ele fez uma pausa pensativo - Mas é apenas você - ele completou.
Isabela tinha que fazer alguma coisa, sua filha não podia mais ficar ali.
- Flávio eu te dei ordens para levar Catarina daqui, Pedro e Hevi acompanhem ele! - Isabela se virou e encarou Carlos - E quanto a você Carlos não me substime, eu não sou Henrique, é com a minha filha que você está mexendo - Isabela abaixou a cabeça e desviou o olhar, a dor tomando o seu rosto. Essa mudança em sua expressão pareceu fazer Carlos ofegar e encará-la, seu rosto se suavisando - Ela é minha filha Carlos... Como você pode fazer isso - ela fez uma pausa, sua voz agora roca e baixa, a dor escorreria de cada palavra - comigo? - essa ultima palavra não foi mais do que um sussurro.
Carlos ficou em silêncio e desviou o olhar.
- Como eu pude fazer isso com você? - ele disse, sua voz tomada de incredulidade.
Ele soltou um riso nervoso 
- Sim Carlos, eu  nunca toquei na sua filha e nem fiz mal a ninguém que você amasse e você seguiu a sua vida assim como eu, você não acha isso egoísta? Machucar aqueles que eu amo, só porque... - ela não terminou a frase, ela se virou e encarou Flávio - Pode ir Flávio, e cuide dela - sua voz agora suave.
Flávio assentiu.
- Só porque? termine Isabela, fale de uma vez! Por que? - Ele a encarou e se aproximou. - Ela.Não.Vai! - ele falou cada palavra devagar e separadamente, para ter certeza de que todos o entendesse.
- Chega Carlos isso foi longe demais, vidas se perderam, vocês estam em guerra a anos e tudo isso porque eu não fiquei com você! - Isabela falou gritando, sua voz agora cheia de esteria. - Eu estou cansada! 
Carlos a encarou, sua face agora dura, sem expressão.
- Não estou em guerra com Henrique por isso Isabela não seja tão tola! 
- Ha não?  Então porque você torturou a minha filha e não a mim?  Você acha mesmo que eu acredito nisso Carlos? Nem você mesmo acredita nisso. Você acredita que está em guerra pelo poder, e você tem razão, mas você só quer esse poder porque foi por causa dele que nós fomos separados, você quer poder provar que é melhor que Henrique. 
Todos a olharam de olhos arregalados.
- Isso nao pode continuar Carlos, você não vê o que está fazendo? O que você fez? Você conseguiu destruir todo e qualquer amor que eu poderia ainda ter por você, você torturou a minha filha Carlos, ela não tem nada a ver com isso, é só uma menina, ela é humana! Não basta você ter matado Katherine, você tem que me tirar Catarina também? Porque me fazer sofrer assim Carlos? Hoje eu vejo... Você nunca me amou Carlos, quem ama uma pessoa a quer feliz, quem ama nunca poderia ter feito o que você fez! - Isabela se virou encarando Pedro, eles trocaram olhares e Pedro assentiu indo em direção a Flávio.
- Eu nunca te amei? - a voz dele era estérica - Como você pode dizer isso?  Eu lutei por você até o último minuto, eu abri mão de tudo, eu me virei contra a minha família... Eu... - sua voz falhou. - Eu fiz tudo o que eu pude para ficar com você... E você diz que eu nunca te amei? - ele abaixou a cabeça  e depois se virou a encarando de novo, sua face agora sem expressão - Você! Você nunca me amou, você me deixou esperando por você Isabela, me deixou esperando e se foi com ele, então não me venha falar de amor, você nada entende sobre isso! - ele disse com desdém.
Isabela a olhou, seu rosto uma linha dura.
- Entendo sim Carlos - ela fez um pausa ainda o encarando - Eu te amei por muitos anos, vivi com Henrique o odiando por sua causa, mas... Depois você mudou Carlos tudo o que você queria era poder e mais poder, sua sede de sangue o destruiu, e então veio Katherine e Henrique ao contrário de você sempre tentou manter a paz, sempre tentou conversar, tentou te perdoar, fazer as pazes com você mesmo sabendo que você me amava e que eu poderia ainda te amar, nesse momento eu vi um lado de Henrique que eu nunca tinha visto, e então eu me apaixonei Carlos, e a cada morte que você causava, cada batalha, só me fazia sentir que eu fiz o certo ficando com o Henrique, e hoje eu o amo mais do que tudo no mundo, e você Carlos... a única coisa que conseguiu com isso tudo foi o meu ódio, e o seu tão querido poder. - ela disse com desdém. 
Ele a encarou atônico, a sua face uma superfície plana de dor e confusão.
- Carlos... - ela disse depois de um minuto, trazendo ele de volta de seu transe.
- Sim. - sua voz estava roca
- Eu vou levar minha filha, e se você quiser me impedir você vai ter que me matar, então tome sua decisão agora. - sua voz era decidida, mas o medo e a dor ainda podiam ser notados.
- Vá - ele disse depois de um minuto - Mais isso não acaba aqui, eu vou ter o que é meu por direito, e quanto a você... Aproveite o seu amado enquanto ele ainda está de pé! - sua voz agora era dura e sem emoção.
Nesse momento, Catarina começou a tremer no colo de Flávio, seu corpo todo entrou em convulsão, e um gritou saiu por sua garganta deixando todos de olhos arregalados e atônicos, e um milésimo Pedro estava ao seu lado, e a puxou do colo de Flávio.
- Temos que levá-la daqui, tem alguma coisa errada - Foi tudo o que ele disse, e bateu em disparada, sua figura não passou de um vulto, Pedro desapareceu em um piscar de olhos com Catarina em seu colo. 
- Vamos - Isabela disse por fim, Flávio e Hevi desaparecendo em sua frente, ela se virou antes de ir - Carlos?
Ele a encarou
- Eu... - ela fez uma pausa - Eu realmente te amei. - e então saiu, deixando Carlos olhando para o chão do depósito sem vida e sujo de sangue.
~~*#*~~ 
Pedro entrou na mansão como uma bala, e só parou no quarto de Catarina a colocando na cama e gritando por ajuda.
Henrique entrou no quarto um segundo depois, incredulo.
- O que aconteceu? - Ele se aproximou e quando viu Catarina arfou - Meu deus - seu rosto se transformou em uma mascara de ódio, se não fosse por Catarina, Pedro teria se afastado no mesmo minuto - O que aquele desgraçado fez! Aquele Mestizo! - a furia em sua voz fez com que Pedro se encolhesse e se aproximasse de Catarina.
- Henrique chame alguém Catarina não está bem, e eu acho que é outra coisa que nada tem a ver com suas feridas - Henrique o encarou e parou de falar no mesmo instante, os dois sabiam do que ele estava falando, ela estava em transição, então tinha começado.
- Começou Pedro? - Henrique perguntou, o medo instalado em sua voz.
- Eu temo que sim Henrique, mas... ela é humana eu não sei como vai ser isso. - O medo tomou conta da voz de Pedro.
- Fique com ela, vou ordenar que Eletiza venha aqui. - Henrique saiu do quarto deixando uma rajada de ventro frio para trás, que enviou arrepios a espinha de Pedro.
Ela tinha que sobreviver, ele não poderia perdê-la. Não de novo.
Minutos depois Eletiza, uma senhora que aparentava ter mais ou menos uns 40 anos entrou no quarto, vestida com uma manta negra até os pés, sua pele era morena e seus olhos um castanho claro hipnotizante, seus cabelos eram negros como a noite, seu corpo emanava poder, e segundos depois de estar no mesmo quarto que ela Pedro soube que se tratava de uma Bruxa, e uma muito poderosa, todo o seu aroma emanava poder, perigo. 
Eletiza se aproximou de Catarina, e quando se sentou na cama e pôs as mãos sobre o rosto de Catarina, ela arfou.
No mesmo momento Pedro se aproximou.
- Calma Pedro, ela está ajudando Catarina, não precisa se preocupar. - Henrique disse vendo a reação de Pedro.
Nesse momento, percebendo sua reação Eletiza levantou os olhos, e encarou Pedro.
- Não precisa ter medo meu jovem, eu não vou machucá-la - ela disse encarando ele por mais um minuto e depois se virando para Catarina de novo.
Sua voz era rouca, e sábia.
Segundos depois Pedro percebeu que ela estava sussurrando alguma coisa, passando as mãos pelas feridas de Catarina, que no mesmo momento foram sarando. Minutos depois o corpo de Catarina estava novinha em folha, sem nenhuma cicatriz ou hematoma aparente e sua face agora era rosada e o suor escorria pelo seu rosto.
Eletiza se virou encarando Henrique.
- Ela está em transição, e eu não sei dizer se... Se ela vai conseguir - ela o encarou - Ela é forte Henrique, mais forte do que imaginamos, se ela conseguir sobreviver, o poder dela vai ser grandioso, ela será capaz de coisas que não podemos imaginar. 
- Mas... Há chances de ela conseguir não é? - Henrique disse o medo e a esperança lutando em suas palavras.
- Claro, eu não quero te dar esperanças porque ela é humana Henrique e a transição dela não será como a de vocês, não será como a de nenhum humano ou vampiro. Ela é diferente, você sabe disso, ela vai sofrer muito, e vai ser uma transição longa. - ela fez uma pausa - Mas ela é mais forte do que eu esperava, essa menina tem força de vontade, é corajosa, ela tem chances de conseguir.
Henrique a encarou, e depois abaixou a cabeça olhando para o chão.
- Tem alguma forma de você ajudá-la? De diminuir a dor ou... - sua voz falhou.
- Eu posso adiar a transição por mais um tempo, esperar o corpo dela ficar mais forte, ela é humana e só tem 16 anos, não sei se pode viver a essa transição agora. 
- Você tem razão, e você pode adiar por quanto tempo?
- Não sei como prever ao exato, depende do corpo dela, alguns meses... no máximo um ano, mas como essa menina está vivendo com as suas emoções lá em cima, e lá em baixo a todo tempo, eu duvido muito que dure um ano. 
- Então só temos mais alguns meses?  
- Exato, é o máximo que eu posso fazer Henrique.
- Eu entendo... Obrigada Eletiza - ele deu um sorriso torto
- É um prazer ajudar, mas Henrique? - ela disse se virando e se levantando.
- Sim?
- Se prepare, o futuro dela não vai ser fácil, ela vai ter que lutar muitas batalhas, vai ter muita dor, e terá que ser mais corajosa do que nunca! - Ela se levantou - E a guerra está se aproximando Henrique, e vai ser pior do que todas que você já enfrentou, lembre-se disso.
Henrique apenas assentiu, foi até Catarina e a beijou na testa colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha e seguiu Eletiza para fora do quarto.
Flávio entrou no quarto um minuto depois, fuzilando Pedro com os olhos, ele se aproximou e sentou na cama ao lado de Catarina.
Pedro soltou um rugido.
Flávio apenas sorriu e passou a mão pelo rosto dela.
- Saia daqui Flávio - Pedro disse se aproximando.
Flávio elevou os olhos dela, e o encarou
- E porque eu deveria fazer isso? - ele perguntou, sorrindo.
Pedro respirou fundo, a ansia de matá-lo ali era tão grande que ele fechou sua mão num punho e apertou forte.
Nesse momento Catarina se mexeu, e começou a abrir os olhos.
- Ai - sua voz era rouca, fraca. - Onde .. - sua voz falhou - Onde eu estou?
Flávio falou primeiro
- Está em casa Catarina, está tudo bem agora. - ele disse acariciando o seu rosto.
- Flávio? - Ela disse, sua voz agora mais forte, ela ameçou se levantar mais Flávio a conteve.
- Está tudo bem, eu estou aqui com você, tente descansar.
Pedro abaixou a cabeça, isso era demais para ele, não era justo, depois de tudo ele que deveria estar ali ao lado dela, o amor de Flávio nunca seria maior do que o dele, nunca.
- Onde está Carlos? - sua voz agora se elevou o panico tomando conta dela.  - Carlos, meu deus... Henrique? Onde está Henrique? - ela disse se levantando e gemendo de dor.
- Catarina se acalma, Henrique está bem, todos estão bem - ele a deitou de novo. - Carlos está longe, ele não vai chegar perto de você de novo.
Agora mais calma, Catarina falou.
- Não se deve mentir Flávio - ela o encarou - Nós dois sabemos que eu o verei de novo.
Flávio soltou um rugido.
- Não pense nisso Catarina, você não precisa ter medo.
- Eu não tenho.
Ele a encarou confuso.
- Não tem?  Depois de tudo o que aconteceu? 
Pedro já estava farto de tudo isso, ele se virou e antes de sair falou.
-  Boa noite Catarina.
E saiu pela porta como um vulto.
Até ouvir sua voz, ela não sabia que ele estava no quarto, sua visão ainda era muito turva, ela mal via Flávio que estava sentado na sua frente. Mas a voz dele, a voz dele a acordou de modo que remédio nenhum poderia, enviando os já conhecidos arrepios por sua espinha, ela arregalou os olhos na mesma hora arfando.
- Pedro? 
Flávio pareceu se contorcer incomodado.
- Ele já foi Catarina.
Seu rosto deve ter transparecido sua tristeza porque logo Flávio mudou de assunto.
- Mas você não me respondeu, depois de tudo... Você não está com medo?
Catarina se virou e fechou os olhos, sua voz agora era apenas um sussuro.
- Só se tem medo de morrer, quando se tem algo a perder.