quarta-feira, 11 de abril de 2012

Capítulo: Apagão

Coldplay - Coldplay - The Scientist

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Gritei até que minhas veias explodissem
Esperei o tempo passar
Agora tudo que eu faço é viver com esse destino
Eu quis isso, reclamei daquilo
Deixei pra trás esse pequeno detalhe
(Slipknot - Duality) 


 
Eu e Clara iríamos nos atrasar de novo, ela não perdia essa mania, sempre inventava de passar rímel no exato momento em que tínhamos que sair para ir pra escola. Suspirei.
- CLARA! Vamos! Eu vou te deixar em casa, vem logo!
Clara desceu correndo e tropeçando pela escada.
- Desculpa se uma menina quer ficar bonita. - ela disse com aquele sorriso debochado no rosto.
- Aham, ta bom Afrodite agora vamos.

Na escola estava tudo praticamente igual, esse era o nosso último ano e já estávamos no meio do ano letivo, toda a pressão das universidades sobre as nossas costas, as notas do último ano tinham que estar impecáveis caso eu quisesse ser aceita em alguma faculdade, sem falar no Enem, eram tantas coisas e ainda por cima esse mal estar que eu vinha sentindo de um mês pra cá, em um minuto eu estava bem, e no outro eu estava totalmente fraca como se estivesse com anemia, ou algo do tipo, e agora as dores de cabeça vieram, mas não são simples dores de cabeça são dores fortes que me fazem querer me abaixar e me encolher até que passe, isso estava começando a me preocupar, mas eu não queria causar pânico atoa, com certeza era só resultado de todo esse estresse, então na frente das meninas e da Cláudia mãe da Clara eu tentava disfarçar, mudava de assunto, dizia que era normal, que era a TPM ou qualquer outra coisa fútil. Elas estavam ficando desconfiadas.
Sai da escola correndo, eu tive que ficar até mais tarde no laboratório e estava atrasada para o curso. É outra novidade, eu estava tendo aulas de francês a um ano mais ou menos, e já conseguia conversar quase fluentemente, eu não entendia, mas eu tinha uma facilidade com o francês, era simples pra mim, às vezes palavras em francês surgiam na minha mente do nada, depois de um tempo eu percebi que isso devia ser resultado de alguma experiência da Katherine, bom pelo menos essas experiências estavam me ajudando no curso, o que já servia pra alguma coisa.
Cheguei em casa quase na hora do jantar, subi direto para o quarto, a sete meses a Cláudia tinha reformado a casa, fazendo com que agora cada uma tivesse um quarto individual. Depois de tomar um banho eu desci.
Quando entrei na cozinha, a Cláudia me olhou de cima baixo, ela agora estava com essa mania, pelo visto ela tinha o mesmo sentido de superproteção da minha mãe, e desde que eu vinha tendo esses "probleminhas"- era como eu chamava quando falava com a Cláudia - ela tinha passado a me observar muito mais.
- Catarina, o que você acha de nós irmos à clínica amanhã? hein? - ela sorriu gentil e me empurrou gentilmente para que eu sentasse na mesa - o doutor César, é um ótimo médico, eu tenho certeza que ele vai poder dizer o que você tem.
- Eu não tenho nada Cláudia, pode ficar tranquila, eu já disse.
Ela me olhou série e arqueou a sobrancelha.
- Cláudia - agora eu disse mais calma, com a voz um pouco mais doce - é que agora tem muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo, é muita pressão, são as notas, o último ano, as universidades, o exame do Enem, e isso tudo somado ao curso, eu só estou com muito estresse, só isso não é nada com que você deva se preocupar, é sério. - eu sorri, ela me olhou com preocupação, mas se rendeu, pelo menos por enquanto - Agora me diz o que você fez para janta? O cheiro está ótimo eu estou sentindo lá do meu quarto.
Ela sorriu
- Eu estou fazendo macarrão com ravióli regado ao molho branco, aprendi essa receita a pouco tempo na tv, e decidi experimentar.
- Huum.  Mal posso esperar cadê a Clara?
- Está no banho, já está descendo e a Aline está vendo desenho.
- Ah sim.

O Jantar foi animado, como todos, simplesmente se sentar a mesa com Clara e Cláudia juntas era hilário, depois que fui morar com Cláudia eu descobri de quem a Clara puxou o senso de humor, elas eram simplesmente incríveis, você não conseguia ficar sem rir por cinco minutos.
Depois do Jantar eu recolhi os pratos, mas quando fui colocá-los na pia a dor de cabeça voltou, mas dessa vez diferente, muito mais forte, os pratos escorregaram da minha mão, e eu caí gritando.
De longe eu pude ouvir os gritos da Cláudia e da Clara, correndo para me socorrer.
- Meu deus, Catarina você está bem? Meu amor fala comigo, ta tudo bem?Clara, corre e pega minha bolsa, eu tenho uns comprimidos pra dor, e eu vou telefonar para o Drt. César. Vai rápido Clara!
A dor foi cedendo aos poucos, e eu fui voltando à realidade, minha vista estava embaçada e eu estava um pouco lenta, então não conseguia entender direito o que a Cláudia estava falando, ela falava muito rápido.
- Ca-Calma Cláudia eu to bem, ok? Foi só um desmaio, deve ter sido por causa do sol, eu fiquei muito tempo no sol hoje na educação física, e devo ter comido algo estragado, enfim. Não se preocupe. - eu disse tentando me levantar, e pude perceber agora que eu estava no colo de Cláudia, que estava agachada no chão da cozinha, com os olhos cheios d'água.
Clara me ajudou e eu consegui ficar de pé, as duas me levaram para o meu quarto, e eu deitei.
- Chega Catarina, eu já liguei para o Drt. César e marquei uma consulta pra você na sexta, então durante a semana você fica tomando esses comprimidos, e na sexta de manhã nós vamos ao médico, entendeu?
- Mas não é necessário Cláudia eu to bem, eu disse foi só...
- Mais nada Catarina, eu já disse você vai ao médico e pronto.
- Tudo bem - eu estava cansada demais pra ser teimosa.
- Eu vou deitar, qualquer coisa é só me chamar ouviu? - ela beijou minha testa - Durma com deus meu amor.
- Obrigada, boa noite.
Ela sorriu e saiu do quarto, durante todo esse tempo a Clara estava sentada na poltrona me olhando sem dizer nada, eu podia dizer pelos olhos dela que ela estava desconfiada de alguma coisa, e que estava matutando sobre isso.
- Ok, Clara chega de mistério, o que foi?
- Hã? O que você disse? - ela disse despertando de um transi.
- Eu disse chega de mistério, o que foi? O que tanto você pensa?
Ela se levantou, sentou do meu lado e pegou minha mão.
- Cat.. - eu sabia pelo modo que ela estava falando, que ela iria romper o acordo de assunto terminantemente proibido, era assim também quando ela falava da minha mãe - você.. Você está doente amiga.
- Eu.não.estou.doente! Meu deus, quantas vezes eu vou ter que repetir, então nossa eu estou com muita dor de cabeça e desmaiei por causa do sol, isso não é doença.
- Cat, para com isso, não foram só umas simples dores de cabeça, e não foi só um desmaio. Cat você caiu no chão gritando de dor e desmaiou, você acha que eu não vejo quando você chega tão fraca que nem janta e vai para o quarto, é porque você não se vê, mas você às vezes fica parecendo um zumbi amiga, alguma coisa está errada, e você sabe disso, só não quer me contar, e isso me assusta porque eu fico pensando o quão pior isso pode ser e você está escondendo.
Eu abaixei os olhos, eu não sei por que eu ainda tentava, eu nunca consegui esconder nada da Clara.
Ela continuou
- Cat? Você.. Você se lembra sobre o que o Henrique disse?
- Eu não quero falar sobre isso, e não eu não lembro, olha Clara está tarde e eu estou cansada, amanhã a gente conversa está bem?
- Não, vamos conversar agora, e você não vai mais fugir do assunto, você lembra o que ele disse sobre a sua transformação Cat? Sobre como iria parecer que você estava doente, e sobre como seria doloroso? Eles disseram que conseguiram adiar, mas não disseram que tinha terminado Cat, você sabe disso, e já se passou tanto tempo, quase dois anos Cat e você esteve bem todo esse tempo, o que é muito mais do que esperávamos, eu só me pergunto se, e se sua transformação está se aproximando, e seja isso o motivo dos desmaios e todas essas dores?
Eu não disse nada. Eu já tinha pensado sobre isso, mas tinha rejeitado essa ideia, eu sabia que um dia isso iria acontecer, mas eu estava lutando contra isso, tentando esquecer, tentando fingir que algo havia mudado e que eu iria continuar a mesma, e que.. Eu iria viver.
- Eu não sei Clara, mas se fosse mesmo a transformação eu estaria muito pior, eles disseram que seria altamente doloroso, e até agora tudo o que eu senti foram dores de cabeça, e tive um desmaio, eu não acho que isso se encaixe em altamente doloroso, e de qualquer forma eu ainda sou humana, tenho fraquezas humanas, como me expor muito ao sol, e estresse e não posso toda vez que eu tiver uma dor de cabeça, ou vomitar sei lá, colocar a culpa em uma transformação vampírica que nunca veio, então vamos encerrar o assunto ok? - eu mudei de posição e fechei os olhos.
- Tudo bem amiga, boa noite. - ela me deu um beijo e saiu do quarto.

Eu esperava sinceramente que não fosse à transformação, quer dizer eu não podia contar a Cláudia o que estava acontecendo, e se fosse ruim do jeito que eles haviam dito, não teria como eu esconder dela, e passar por tudo isso seria muito difícil, ainda mais sabendo qual seria o final, eu não aguentaria, e elas ficariam despedaçadas e cansadas depois de todo esforço, e de qualquer forma, o que eu alegaria para os médicos? Que eu sofria de uma transformação vampírica, por ser a reencarnação de uma vampira de verdade? E o que eles poderiam fazer? Nada. Será que eles iriam diagnosticar alguma doença ou confundirem essa transformação com uma? Se eles diagnosticassem, seria pior? Passar por vários tratamentos, vários exames, e todos não resultarem em nada.
Eu estava cansada, com medo, e não sabia o que fazer... Que grande combinação.
Se a transformação tinha começado, eu não podia fazer nada para impedi-la, o máximo que poderia fazer era esperar e me despedir de todos.

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